Há 30 anos Harry e Sally: Feitos Um Para o Outro escancarava as portas de Hollywood para a comédia romântica
Cotação: ★★★★★
Neste mês de julho são celebrados os trinta anos de um dos filmes mais emblemáticos da história de Hollywood no final do século passado. Mesmo tendo estreado no Brasil somente alguns meses depois, em dezembro de 1989, Harry e Sally: Feitos Um Para o Outro, ajudou a redefinir para o cinema os conceitos de comédia romântica e ainda iniciou uma febre de produções que tiveram boas respostas de bilheteria nos anos posteriores, sendo cultuadas aé hoje por um grande número de fãs desta vertente cinematográfica que une elementos de romance e comédia.
A história começa no ano de 1977, quando logo após o colegial a futura jornalista Sally Albright (Meg Ryan) dá uma carona para o namorado de sua melhor amiga no colégio, Amanda Reese. Os dois jovens partem de Chicago e vão rumo a Nova York em busca de novos sonhos e realizações profissionais. Harry Burns (Billy Crystal) é um jovem completamente diferente de Sally, tanto nas atitudes quanto nos pensamentos. Durante a viagem e algumas horas de papo, ambos chegam à conclusão de que são incompatíveis. Afinal, ao contrário da sonhadora companhia cheia de regras e especificações na hora de pedir uma comida no restaurante, ele é um folgador galanteador que não se furta a passar cantadas em qualquer garota bonita e acha que a tensão sexual entre os gêneros impede que homens e mulheres estabeleçam laços de amizade que permaneçam somente no campo da amizade. Com o passar do tempo, eles voltam a se esbarrar em NY: primeiro quando ambos já possuem compromissos românticos com outras pessoas, mas depois quando estão solteiros novamente. Neste ziguezague, com a ajuda do amadurecimento, aprendizagens e sofrimentos da vida adulta, eles acabam por desenvolver uma forte amizade. Com a ajuda de um grande amigo de cada lado (Marie e Jess, interpretados por Carrie Fisher e Bruno Kirby), descobrem uma afeição mais elástica, que acaba por ultrapassar a barreira da paixão. Entretanto, nenhum dos dois quer dar o braço a torcer. E enquanto se desenrola a trama, Reiner coloca como recheio divertidos depoimentos que gravou com casais de longos anos contando como foi que eles se conheceram.
Desenvolvido por Nora Ephron com base em muitas informações sobre a sua própria vida e também na longa amizade de longo tempo entre o diretor Rob Reiner e Crystal, o roteiro constrói os conflitos entre os protagonistas com argumentações e situações de levar o espectador às gargalhadas. Ciente do potencial de interpretação e humor de seus dois protagonistas, Reiner permitiu que Meg e Billy improvisassem à vontade em seus diálogos – dá até para perceber os atores segurando o riso ou olhando para o canto para ver qual seria a reação do diretor naquela hora. Por tudo isso, cenas como a de Sally tentando imitar o sotaque de Harry dão um charme a mais ao filme. Isto sem falar naquele antológico fingimento de orgasmo, com ela sentada à mesa de um restaurante cheio e observada por todos os outros clientes.
Ephron, Ryan e Crystal tiveram suas carreiras impulsionadas após o sucesso de Harry e Sally. Nora emplacou a direção e o roteiro outros grandes nomes do gênero, como Sintonia de Amor(1993), Mens@gem Pra Você(1998), mais a comédia dramática Julie & Julia(2009). Meg tornou-se a atriz símbolo das produções do gênero, tendo estrelado essa duas primeiras produções e mais alguns outros título. Crystal levou seu humor para a cerimônia do Oscar, tendo sido o apresentador oficial da festa entre 1990 e 1993 e voltando a repetir a dose em 1997, 1998, 2000, 2004 e 2012. Reiner, por sua vez, já vinha de outros grandes sucessos de crítica antes de Harry e Sally(o mocumentário musical This Is Spinal Tap, em 1984, e o drama adolescente Conta Comigo, que revelara o talento do ator River Phoenix aos 15 anos de idade, em 1986). Após a comédia romântica dirigiu alguns títulos de boas bilheterias e críticas, como Louca Obsessão(1990), Questão de Honra(1992) e Meu Querido Presidente(1995), além de atuar e assinar roteiro e produção de outras dezenas de produções para o cinema e a TV.
Harry e Sally abriu as portas para que, durante a década seguinte, a comédia romântica marcasse um retorno triunfal a Hollywood. O filão, apesar de ter uma base de fórmulas já conhecidas desde a dramaturgia de Shakespeare no Século 16 (Muito Barulho Por Nada, Sonhos de Uma Noite de Verão, A Megera Domada), voltou a apresentar força e cativar um público fiel através de uma sucessão de títulos nas telas cinematográficas. Entre os de maior destaque podem ser citados Uma Linda Mulher(1990), Sintonia de Amor(1993), Quatro Casamentos e um Funeral(1994), O Casamento de Muriel (1994), Enquanto Você Dormia(1995), As Patricinhas de Beverly Hills(2005), Melhor é Impossível(1997), O Casamento do Meu Melhor Amigo(1997), Mens@gem Pra Você(1998), Shakespeare Apaixonado(1999), Noiva em Fuga(1999), 10 Coisas Que Eu Odeio em Você(1999), Ela é Demais(1999), Nunca Fui Beijada(1999) e Um Lugar Chamado Notting Hill(1999).
Com a virada dos anos 2000, o nicho passou a demonstrar, aos poucos sinais de esgotamento criativo. Entretanto, foi muito mais explorado pelos produtores e estúdios não só dos Estados Unidos como também de países europeus. Apesar da queda nas bilheterias e de diminuição das boas crítica, o boomrendeu obras deliciosas como O Fabuloso Destino de Amélie Poulain(2001), Coração de Cavaleiro(2001), Alguém Como Você(2001), Um Grande Garoto(2001), O Diário de Bridget Jones(2001), Kate & Leopold(2001), Amor à Segunda Vista(2002), O Sorriso de Mona Lisa(2003), Abaixo o Amor(2003), Simplesmente Amor(2003), Closer – Perto Demais(2004), E Se Fosse Verdade(2005), Once – Apenas Uma Vez(2006), Letra e Música(2007), O Melhor Amigo da Noiva(2008), Vicky Cristina Barcelona(2009), Delírios de Consumo de Becky Bloom(2009), (500) Dias Com Ela(2009), Ele Não Está Tão a Fim de Você(2009), Simplesmente Complicado(2009), Celeste e Jesse Para Sempre(2012), O Lado Bom da Vida(2012), As Vantagens de Ser Invisível(2012), Ruby Sparks – A Namorada Perfeita(2012), Será Que?(2013), Como Não Perder Essa Mulher(2013), Mesmo Se Nada Der Certo(2013), Questão de Tempo(2013), Ela(2013), Apenas Duas Noites (2014) e Com Amor, Simon(2018).
Como se pode perceber, um desfile de títulos de qualidade – e dezenas de outro esquecíveis não citados neste texto – que muito provavelmente não teriam sido feitos se Harry e Sally: Feitos Um Para o Outronão tivesse voltado os holofotes para a comédia romântica.
Harry e Sally: Feitos Um Para o Outro(When Harry Met Sally, EUA, 1989 – Metro-Goldwyn-Mayer). Direção: Rob Reiner. Roteiro: Nora Ephron. Com Meg Ryan, Billy Crystal, Carrie Fisher e Bruno Kirby. 95 minutos. Estreia nos cinemas: 21 de julho de 1989. Estreia nos cinemas brasileiros: 8 de dezembro de 1989.