História da Magia na América do Norte – Por J.K. Rowling – A Lei Rappaport

por TOMMO
Publicado em 10 mar 2016, às 10h54.

A Lei Rappaport

By J.K. Rowling

Em 1790, a décima quinta presidente do MACUSA, Emília Rappaport, promulgou uma lei destinada a segregar totalmente as comunidades bruxa e não-maj. A lei foi consequência de uma das mais graves quebras do Estatuto Internacional de Sigilo, que rendeu à instituição uma humilhante repreensão por parte da Confederação Internacional dos Bruxos. A questão foi ainda mais séria porque a quebra de sigilo teve origem dentro do próprio MACUSA.

A catástrofe envolveu a filha do homem de confiança da presidente Rappaport, o Chanceler do Tesouro e Dragotes. O dragote é a moeda bruxa norte-americana e o Chanceler de Dragotes, como o título sugere, equivale ao Secretário do Tesouro Nacional. Aristóteles Twelvetrees era um homem competente, mas sua filha, Dorcas, tinha de néscia o que tinha de bonita. Foi uma aluna medíocre em Ilvermorny e, à época da ascensão do seu pai ao gabinete, vivia em casa sem praticamente realizar nenhuma magia, pois ocupava-se muito mais de roupas, penteados e festas.

Certo dia, em um piquenique da comunidade local, Dorcas Twelvetrees apaixonou-se perdidamente por um belo não-maj chamado Bartolomeu Barebone. Ela não fazia ideia, mas Bartolomeu era descendente de um Purgante. Ninguém na família dele era bruxo, mas a crença do rapaz na magia era forte e inabalável, tanto quanto a convicção de que todos os bruxos e bruxas eram malignos.

Totalmente inconsciente do perigo, Dorcas presumiu que o educado interesse de Bartolomeu por seus “pequenos truques” era sincero. Levada pelas perguntas inocentes do amado, revelou o endereço secreto do MACUSA e de Ilvermorny, deu informações sobre a Confederação Internacional dos Bruxos e explicou como essas instituições protegiam e ocultavam a comunidade bruxa.

Tendo coletado tantas informações quantas conseguiu extrair de Dorcas, Bartolomeu roubou a varinha que ela teve a gentileza de lhe mostrar e exibiu o artefato a quantos jornalistas conseguiu encontrar. Depois reuniu vários amigos armados para perseguir e, em tese, matar todos os bruxos e bruxas da vizinhança. Bartolomeu ainda imprimiu folhetos com os endereços em que bruxos e bruxas socializavam e enviou cartas a não-majs proeminentes, alguns dos quais consideraram necessário investigar se havia de fato “reuniões malignas ocultas” ocorrendo nos locais descritos.

Eufórico com a missão de expor a bruxaria nos Estados Unidos, Bartolomeu Barebone excedeu-se e disparou contra o que acreditou ser um grupo de bruxos do MACUSA, que na verdade não passavam de simples espectadores não-majs que tiveram o infortúnio de abandonar um prédio que estava sob vigilância. Felizmente não houve mortes, mas Bartolomeu foi preso e encarcerado pelo crime, não havendo qualquer envolvimento do MACUSA. Esse resultado trouxe enorme alívio para o MACUSA, o qual vinha enfrentando com dificuldade as sérias consequências da imprudência de Dorcas.

Bartolomeu havia espalhado seus folhetos por toda parte. Alguns jornais lhe deram bastante crédito e imprimiram fotos da varinha de Dorcas, observando que “dava coices como uma mula” quando agitada. As instalações do MACUSA passaram a atrair tanta atenção que a instituição precisou mudar de endereço. Quando a presidente Rappaport se viu forçada a dar explicações à Confederação Internacional dos Bruxos em um inquérito público, não pôde afirmar com certeza que todos quantos compartilharam as informações de Dorcas haviam sido devidamente obliviados. O vazamento foi tão grave que seus efeitos se fizeram sentir por muitos anos.

Embora muitos membros da comunidade mágica tenham feito campanhas para que Dorcas fosse condenada à prisão perpétua ou mesmo executada, ela passou apenas um ano presa. Completamente execrada e profundamente traumatizada, ela se deparou com uma comunidade bruxa bastante diferente quando foi libertada e terminou seus dias reclusa, na companhia apenas de seus mais queridos companheiros: um espelho e um papagaio.

A imprudência de Dorcas levou à criação da Lei Rappaport, que impôs uma severa segregação entre as comunidades não-maj e bruxa. Os bruxos já não tinham mais permissão de estabelecer amizade ou casar-se com não-majs. As punições para quem se confraternizava com não-majs eram implacáveis. A comunicação deveria ser limitada ao necessário para a realização das atividades diárias.

A Lei Rappaport fortaleceu ainda mais as já abismais diferenças culturais entre as comunidades bruxas americana e europeia. No Velho Mundo, sempre houve certo grau de cooperação e comunicação veladas entre os governos não-maj e mágico. Nos Estados Unidos, o MACUSA agia inteiramente à parte do governo não-maj. Na Europa, bruxas e bruxos se casavam e travavam amizade com não-majs; nos Estados Unidos, os não-majs eram cada vez mais encarados como inimigos. Em resumo, a Lei Rappaport conduziu a comunidade bruxa norte-americana, que já lidava com uma população não-maj extraordinariamente desconfiada, a um secretismo ainda maior.

Continua…