[RESENHA LITERÁRIA] Uma curva no tempo - Dani Atkins
Imagine que você está em um jantar comemorando o término do ensino médio, você está super feliz e cheia de planos para o futuro, com aquela ansiedade gostosa de entrar pra faculdade e levar a tão cobiçada vida de universitário, você tem o namorado dos sonhos ao seu lado, seu melhor amigo de infância e mais quatro amigos queridos. Mas o seu maravilhoso jantar é interrompido por um carro desgovernado que entra pela janela onde estava posicionada a sua mesa, e em um período curto de tempo, seu melhor amigo morre porque escolheu te salvar. Imaginou? Pois é! É assim que começa a história de Rachel Wiltshire.
Cinco anos depois, Rachel ainda se sente culpada pela morte do melhor amigo, ela não consegue entender porque ele achou que a vida dele valeria menos do que a dela. Ela não se conforma com o fato de que ela deveria estar morta e não ele. E para piorar, a cicatriz enorme no rosto dela faz ela lembrar da noite do acidente, faz se lembrar de Jimmy, de toda a dor e culpa que ela não consegue deixar de carregar, e fez também com que ela perdesse totalmente a autoestima e os sonhos de adolescente que ela tivera antes do ocorrido.
A personagem virou uma mulher sem perspectiva de vida, que só sabe se lamentar, que deixou de correr atrás da carreira dos sonhos e ainda tem que lidar com um pai com cancêr, piorando a cada dia, cada minuto mais próximo da morte. Ela se mudou para Londres, está solteira, trabalha como secretária e mora num apartamento que não vale nada.
Até que então, ela recebe um convite de casamento da melhor amiga, Sarah, e ela precisa voltar para Great Bishopsford, sua cidade natal. Sarah resolveu que a despedida de solteiro dela seria um jantar no mesmo restaurante de cinco anos atrás e reunir toda a galera do colegial, ou quase todos, afinal, a ausência de Jimmy afeta e incomoda à todos no jantar. E detalhe: o ex-namorado dela, Matt, está namorando com Cathy, uma garota com quem Rachel nunca se deu bem.
Logo após o fiasco da despedida de solteiro, Rachel atordoada por seus pensamentos e tudo o que aconteceu, resolve visitar o túmulo de Jimmy pela primeira vez, ela fica tão abalada com aquilo que acaba desmaiando no cemitério. Quando acorda em um hospital, ela vê seu pai esbanjando saúde, vê seu namorado Matt e descobre que estão noivos. Ela pergunta como é que ela foi parar ali, e para a surpresa de todos Jimmy aparece, vivinho da silva dizendo-lhe que ela fora assaltada perto de uma igreja logo que ela saiu do metrô, e que levaram o anel de diamante dela.
A partir daí, a narrativa só tende a ficar cada vez mais confusa. Ela tenta expicar a todos que Jimmy está morto, que o pai dela está debilitado devido à quimioterapia, que ela não namora o Matt, que ela tem uma cicatriz horrenda no rosto e que ela não é uma jornalista numa carreira promissora, e sim uma simples secretária em Londres. Todos acham que ela está louca, e chegam a conclusão de que ela está com amnésia. Rachel não consegue se conformar com essa realidade, essa não é a vida dela, por mais boa que possa parecer, por mais vivo que Jimmy esteja, pra ela, nada daquilo é real e ela começa uma jornada incansável em busca da verdade. Jimmy parece ser o único a acreditar em Rachel, o que não é de se surpreender, já que desde as primeiras páginas fica bem claro que ele é apaixonado por ela. E ela, por ele. Mas ela ainda não sabe, ou finge que não sabe. E no meio de tanta loucura e acontecimentos estranhos, brota um amor antigo.
É interessante notar as nuances da personagem em relaçao à personalidade: no inicio ela é uma adolescente feliz como qualquer outra, depois do acidente ela está absorta em melancolia, e agora, que tudo parece estar bem, ela aparece com uma determinação em descobrir tudo o que está acontecendo que surpreende. Afinal, por que ela não fica ali mesmo, tendo a vida que ela sempre sonhou?
E é nesse ponto que a autora quis chegar, para mostrar que por mais que tudo esteja maravilhoso, é muito melhor viver a realidade do que fantasiar que está tudo bem. Todo o sofrimento dela antes de ter parado no hospital, teria então sido em vão? A morte do Jimmy foi em vão? É uma história para refletir e aprender a encarar a realidade como ela é, nua e crua, mas que ainda assim, é preciso ter esperança na vida.
O livro é maravilhoso, e apesar de ser uma história bem confusa é muito bem construída. Exceto pelo detalhe da idade das personagens, que em todo momento pareceu muito adulto para alguém de 18 e 23 anos. Em momento nenhum eu consegui ver todas as personagens como adolescentes de verdade ou jovens adultos.
Em quase toda a leitura os questionamentos estão presentes: “será que ela está mesmo louca?”, “será que ela está em um universo paralelo?”, “ou será que ela está mesmo com amnésia?” e várias outras teorias que o leitor, junto com a protagonista, tentam desvendar. Vale a pena chegar até a última página!
PS: Se você faz o tipo de leitor chorão, prepare os lencinhos. E se não faz, entre nessa história mesmo assim, quem sabe você se emociona também 😉
Resenha por: Bruna Modesto
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