Acordei muito cedo nesta manhã de outono.

O sol brilhava, mas o dia não estava lindo como deveria.

Nas ruas, o silêncio do medo, a falta de motivos para seguir.

Eu acordei bem cedo, mas me senti num pesadelo noturno.

A vida tem ficado sem graça, as cores não fazem mais sentido.

Eu olhei para as poucas pessoas na rua e só vi tristeza, incerteza.

 

Nem os pássaros, afoitos no bosque, cantaram hoje.

Eu não vi o outono nesta manhã. Vi o caos, o receio, a angústia.

Medo de morrer, medo de adoecer, medo puro e simples, eu vi.

Andei até o trabalho, mas precisei voltar. Determinação sábia.

Montei tudo em minha casa e agora, vivo na clausura.

E quanta saudade eu sinto da liberdade, dos sorrisos…

 

Sei que tudo vai passar, mas nada será como antes.

Virada brusca nesta página do tempo. Tempestade.

A tarde caiu e o frio da solidão chegou para todos.

Na cidade, poucos ruídos, mas há murmúrios de lamento.

A dor do outro é a minha própria dor, assim como seus medos.

Preciso me manter sóbrio para sustentar quem está aqui do lado.

 

Nada sei do agora, muito menos do amanhã.

Lentamente, vou compondo essa história da qual não sei o fim.

Eu viajo em pensamentos e pouso neste mesmo lugar.

Estou enclausurado, mas meus sonhos voam, brincam.

Olho para o céu e busco motivos para sentir o calor do sol.

Não estou só. Somos milhões. Estamos no mesmo navio…

 

As ondas que batem na proa fazem estrago na embarcação.

Olhar fixo no horizonte e os pensamentos no agora.

Tempestade que chega e faz o navio se se elevar, perdido.

Eu tento dissipar os pensamentos e viver o outono.

Tudo está muito embaçado, apesar do céu limpo.

Tenho que suportar. Há quem precise de mim.

 

Jossan Karsten

27 mar 2020, às 00h00. Atualizado em: 5 jun 2020 às 11h27.
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