Uma despedida por Skype ou uma lembrança que não irá tão breve
“E eu não consigo lembrar mais o que aconteceu. Sinta. É essa solidão dos fatos que vão desaparecendo (é) que me deixa doente. É isso que me faz doer. É isso que me deixa em estado de agonia. Não são as lembranças cravadas no meu corpo, na minha pele. São as lembranças que se vão.” (Trecho de um conto que escrevi em 2013).
Hoje, 26 de março de 2020, ouvi uma das frases mais tristes durante a cobertura sobre a pandemia do Coronavírus, algo mais ou menos assim: “os médicos são responsáveis pelo último adeus, entre a família e o idoso abatido pelo Covid-19, por meio de uma transmissão de vídeo, eles permitem a despedida”. E eu complemento: antes do derradeiro momento.
Não poder dar adeus para o seu pai, sua mãe, sua vó ou ao seu avô. Pare, mastigue essas frases anteriores, engula e tente não ter os olhos marejados. Sim, eu não tinha nunca (e você que me lê, também não) imaginado essa cena de uma pessoas ‘isolada’ em um hospital sem poder trocar as últimas palavras, os últimos carinhos antes do último, do último suspiro.
O adeus por uma videocall é a síntese do momento que vivemos. Não é possível continuar por problemas de conexão.
[Usuário deixou a sala].