Sinais clínicos podem indicar incidência de esporotricose em gatos

por Pauline Machado
Jornalista e Acadêmica de Medicina Veterinária
Publicado em 11 ago 2023, às 00h55. Atualizado às 09h08.

Causada pelo S. brasilliensisuma nova espécie de fungo pertencente ao gênero Sporothrix spp., a esporotricose é uma micose subcutânea de caráter zoonótico que acomete animais e humanos.

A doença causa feridas que podem atingir várias camadas do corpo progressivamente. Isso quer dizer que uma lesão na epiderme (primeira camada da pele) pode chegar até os ossos, dependendo da gravidade.

E é o gato doméstico que ganha destaque na transmissão zoonótica da esporotricose. Isso é devido à elevada carga fúngica nas lesões cutâneas, à presença do fungo nas garras e cavidade oral, e à maior exposição a Sporothrix spp..

Por isso, são eles os principais animais afetados pela doença, podendo transmiti-la para os seres humanos por meio de arranhões, mordidas e contato direto da pele lesionada. Mas, atenção: apesar da maior incidência de casos em felinos, cães, roedores e outros animais também podem ser vetores.

Os fungos que causam essa zoonose costumam estar presentes no solo e na natureza, como em vegetais, palhas e madeiras. Além disso, são transmitidos por meio do contato de alguma ferida aberta com materiais contaminados, como farpas ou espinhos.

Fique de olho no seu bichinho quanto aos sintomas que podem indicar a presença de esporotricose: 

Lesões cutâneas na região da cabeça, extremidades dos membros e cauda;

Feridas profundas na pele, geralmente com pus, que podem se apresentar como nódulos e úlceras, com evolução rápida; 

Espirros frequentes;

Algumas lesões podem formar crostas, ou exibir áreas de necrose com exposição do tecido osteomuscular.

Os sintomas em humanos também merecem atenção:

Lesões na pele, que começam com um pequeno caroço vermelho e podem virar feridas. Geralmente aparecem nos braços, nas pernas ou no rosto, às vezes formando uma fileira de carocinhos ou feridas;

Em caso de lesão extracutânea (acometimento de órgãos internos), podem surgir sintomas semelhantes à tuberculose, como tosse, falta de ar, dor ao respirar e febre;

Também pode afetar os ossos e articulações, manifestando-se com inchaço e dor aos movimentos, bastante semelhante aos de uma artrite infecciosa.

Diagnóstico e tratamento

Fique tranquilo! A doença não é considerada grave e tem cura, tanto em humanos quanto nos animais acometidos. Após avaliação clínica, orientação e acompanhamento médico e veterinário, o tratamento deve ser iniciado rapidamente e sua duração pode variar de três a seis meses, até a cura completa, não podendo ser abandonado.

Os humanos suspeitos devem procurar a unidade de saúde mais próxima e relatar sobre o contato com animal suspeito, se houver. Para os animais suspeitos é fundamental orientar quanto ao isolamento, realização do diagnóstico e, se for o caso, iniciar o tratamento imediato do animal.

O tratamento tem início com o reconhecimento das lesões e se complementa com base em dados clínicos e laboratoriais, como com cultura micológica.

No gato, o diagnóstico e tratamento são realizados por um médico-veterinário. O diagnóstico pode ser realizado por meio de citologia, uma vez que o gato alberga grande quantidade de fungo nas lesões, o que facilita a visualização do agente em lâminas coradas e examinadas ao microscópio ótico. 

É importante que seja iniciado o mais precocemente possível, considerando o caráter invasivo deste agente e a possibilidade de causar doença sistêmica, principalmente em gatos. As medidas preventivas são fundamentais, pois o animal tratado pode se reinfectar.

É possível realizar o controle da doença com prevenção e o manejo correto de populações animais, em especial os gatos, as principais vítimas, sendo a espécie mais vulnerável e a principal fonte de infecção da esporotricose zoonótica para outros animais e humanos. Por este motivo, o isolamento e tratamento adequado dos animais suspeitos são imprescindíveis e é fundamental a participação da classe Médica Veterinária.

Os casos suspeitos, em humanos e animais, devem ser comunicados ao serviço público de saúde do seu município. Como a doença não é de notificação compulsória no Brasil, não há fluxos disponíveis para sua vigilância em nível nacional. Cada estado tem proposto fluxos e protocolos próprios. A notificação possibilitará a investigação epidemiológica, a implantação de medidas preventivas e de controle e o real conhecimento da dimensão da doença nos territórios. 

O Conselho Regional de Medicina Veterinária de Goiás (CRMV-GO) ressalta: não abandone ou maltrate gatos e demais animais doentes ou com suspeitas da doença! Ela tem cura! E, além disso, caso tenha gatos, restrinja o acesso dos bichanos à rua. Isso pode salvar as vidas deles.

Fonte: revista Cães & Gatos