Crítica: Um Príncipe em Nova York 2
Após o sucesso de Meu Nome é Dolemite na Netflix, com direito a estatuetas de melhor comédia e melhor figurino no Critic’s Choice 2020, Eddie Murphy retorna aos holofotes de Hollywood em Um Príncipe em Nova York 2, em dobradinha com o diretor Craig Brewer, que o alçou na cinebiografia de Rudy Ray Moore, pioneiro do gênero blaxploitation na década de 1970. Apesar de o clássico de 1988 apresentar uma trama sem pontas soltas para uma continuação, a euforia para a sequência foi tanta a ponto de mobilizar todo o elenco original e trazer uma produção ainda mais rebuscada que foi vista anteriormente. Com tantos elementos promissores assim — além da forte distribuição do Amazon Prime Video —, por que não dar uma chance?
Em Um Príncipe em Nova York 2, Akeem agora é o novo rei de Zamunda. O recém-coroado vive na companhia de sua esposa, Lisa McDowell, e de suas três filhas, além de todos os membros da coroa, com destaque para o seu fiel confidente Semmi. O reino, no entanto, está ameaçado pelas forças do general Izzi, que propõe um casamento arranjado para unir os povos a fim de evitar o conflito. Agora Akeem deve regressar aos Estados Unidos em busca de seu filho bastardo, Lavelle, para consumar o matrimônio e manter a paz em Zamunda. A sinopse adianta que o longa é essencialmente pautado na nostalgia sem deixar de acrescentar novidades, mas o que se vê na sequência é um completo desastre.
Parece que a criatividade de três décadas atrás ficou por lá mesmo. Brewer opta por transferir o protagonismo do personagem de Eddie Murphy para o novato Jermaine Fowler, em desacordo com o material de divulgação focado em vender a imagem do rei Akeem nas rédeas do filme. Aliás, a trama tem um momento aqui e acolá nos EUA: ela se dá quase inteiramente no reino de Zamunda (será que não deveria ser Um Príncipe em Zamunda?). Além disso, o fan service é feito da forma mais vazia e despropositada possível, dando vez a um humor pastelão da mais baixa categoria, totalmente na contramão da sutileza e inventividade que marcou seu antecessor. É tanta baboseira em looping que as resoluções convenientes e tacanhas nem chegam a impressionar (negativamente) o espectador. O pior é ter que passar por tudo isso em meio a musicais enfadonhos e piadas autorreferenciais que simplesmente não funcionam. Ao menos preservam e até melhoram os excelentes figurinos do país fictício do continente africano. Já o CGI, sobretudo o visual do leão, você deve esquecer que viu.
O ponto que mais deveria se destacar em Um Príncipe em Nova York 2, que é o elenco, está em completo desarranjo e mais se parece com uma caricatura do que já foi considerado único e exemplar. Eddie Murphy perde brilho e entrega apenas uma silhueta suficiente para frisar que aquele é o rei Akeem, e fica por isso mesmo. Arsenio Hall está totalmente perdido e alheio na trama. Se ele não estivesse lá, mal faria diferença. Jermaine Fowler assume prematuramente um protagonismo que não era para ser seu, promovendo um personagem disfuncional e monótono, e Wesley Snipes, Leslie Jones e Paul Bates até divertem, mas não o suficiente para compensar a falta de guarnição do resto da equipe.
É triste saber que Um Príncipe em Nova York 2 tinha tudo para dar certo: um diretor prestigiado, um legado incontestável e um super elenco nostálgico, encabeçado pelo talentoso e irreverente Eddie Murphy, mas o que ficou foi apenas uma caricatura pobre e “esquética” de uma das maiores comédias românticas dos anos 80 e 90. Decepcionante.