Mulher-Maravilha 1984: Crítica
Após inúmeros adiamentos e muito hype alimentado em eventos como a DC Fandome e CCXP Worlds, o turbulento 2020 vai chegando ao fim nos presenteando com o melhor e mais notável filme de super-heroína do ano. Foram elas que seguraram as pontas de fevereiro até aqui. Não parece, mas Aves de Rapina, também da DC Comics, fora lançado lá no começo do primeiro semestre. Agora é a vez de Mulher-Maravilha 1984, repetindo a dobradinha de Gal Gadot e Patty Jenkins que ultrapassou os limites da parceria profissional e conquistou o público pelo carisma e simpatia que as duas têm.
Nesta sequência, os eventos saltam do cenário da Primeira Guerra Mundial para a década de 1980, auge da Guerra Fria. Agora, Diana Prince vive nos Estados Unidos e leva uma vida dupla, revezando-se entre atividades profissionais e na luta contra o crime. Assim, ela conhece Barbara Minerva, antropóloga desajeitada e impopular que trabalha no Museu Smithsonian, em Washington, e está à frente na pesquisa de um misterioso artefato, que pode realizar desejos para qualquer usuário. Este é cobiçado por Maxwell Lord, um empresário falido do setor petrolífero que acumula dívidas e, consequentemente, tem sua empresa e carreira ameaçadas. Por acaso, todos os personagens realizam seus desejos, mas não sem enfrentar um ônus: Barbara se torna a Mulher-Leopardo, Steve Trevor ressurge e Lord… bem, ele simplesmente vira o mundo inteiro de cabeça para baixo. Cabe à Mulher-Maravilha e Trevor colocarem as coisas em ordem.
Mas o que está em ordem mesmo é a direção de Jenkins: ela soube exatamente como manter as coisas no trilho. A transição daquele clima de terra arrasada monocromática do primeiro longa para o colorido e diversificado cenário de Mulher-Maravilha 1984 é surpreendentemente equilibrada e traz um excelente respiro narrativo, inserindo uma pancadaria de ‘esquenta’ e, depois, minutos e mais minutos de contextualização, relações interpessoais e uma exposição gostosa de se acompanhar. É possível assistir à rotina de Prince por algum tempo sem se cansar. Já da segunda metade em diante é onde o frenesi come solto. O filme impressiona com as belas e vastas locações, e os palcos são perfeitos para todas as cenas de combate. Todas mesmo! Dignas de wallpapers de plano de fundo da TV ou computador, de tão bem detalhadas e majestosas que são.
O CGI, desta vez, está um pouco mais plástico e bem trabalhado, sem os excessos que acometeram o ato final do primeiro longa, algo digno de Dragon Ball Z. Aliás, indo nessa contramão, Jenkins apostou em cenas delicadas de ‘contemplação’. Sem entregar demais, mas há uma tomada em que há fogos de artifício, romance, e uma outra aérea rodeada de nuvens e sentimentos alheios que aquecem o coração de um jeito inexplicável. Só assistindo para sentir.
Se há algo a ser pontuado em Mulher-Maravilha 1984 talvez seja a caricatura extrema do personagem de Pedro Pascal, que é exagerado e previsível, embora o trabalho gesticular do ator, na pratica, releve tudo isso. Também existe alguma pressa em resolver os desfechos lá na frente, só que o espectador se diverte tanto ao longo do filme que esse detalhe passa completamente batido. Gal Gadot dispensa comentários e nasceu para viver a super-heroína nas telonas. Ela continua forte, empoderada e carismática, agora trazendo novidades incríveis em seu arsenal. Kristen Wiig só acrescenta com sua vilã. A Mulher-Leopardo expõe camadas e tem uma interessante escala até chegar ao que ela se torna. E a reinserção de Chris Pine também é bem-vinda, uma vez que ele continua elevando as emoções de Prince tanto no amor quanto no companheirismo no campo de batalha. Nenhum personagem fica jogado ou se atropela — os enlaces fluem bem.
Apesar de ter cara de spin-off e pequenos deslizes aqui e acolá, Mulher-Maravilha 1984 é extremamente divertido, tocante e só consagra Patty Jenkins como uma das melhores diretoras de todo o segmento de heróis no cinema. É uma pena que o filme tenha sofrido tanto com os entraves da pandemia, mas é muito bom saber que ficou esse presentão de Natal para salvar o restinho de 2020. E sim, tem cena pós-créditos, e ela é simplesmente maravilhosa, para deixar qualquer fã em catarse. Enfim, já estamos com a roupa de ir para o terceiro filme.
Por Fabrício Calixto.