Fãs de k-pop e dorama relatam etarismo: "Falam que é coisa de adolescente"
"É doloroso, pois essas críticas ignoram o valor cultural e o impacto positivo que essas mídias têm na vida das pessoas", diz uma fã da cultura sul-coreana
A Hallyu (onda sul-coreana) chegou com força no Brasil, as obras audiovisuais da Coreia do Sul estão presente em diversas plataformas de streaming. Atualmente, na Netflix dois k-dramas aparecem no top 10 da plataforma: “O Amor Volta para Casa’ ocupa o 3º lugar, já ”Miss Night and Day’ está na 7ª posição. Já o k-pop conquistou o mundo, o cantor Jimin, integrante do BTS, lançou recentemente a música ‘Who’, que ganhou o título de música mais ouvida do mundo no Spotify. Apesar da popularização do k-pop e k-dramas, ainda há um preconceito contra as fãs que consomem as obras sul-coreanas, principalmente entre mulheres que tem mais de 30 anos.
Ines Sarzano, de 60 anos, começou a consumir as obras sul-coreanas em novembro de 2023 e desde então recebe críticas por apreciar a cultura sul-coreana. De acordo com a aposentada, os comentários são etaristas.
“No início e até hoje, as pessoas de uma forma geral, costumam rir, fazer comentários do tipo: ‘nossa, você com essa idade curtindo k-pop? Você não tem outra ocupação na vida, precisa curtir coisas de jovens? Você tem problema em aceitar que ficou velha, por isso quer curtir coisas de adolescentes? Nossa, acho que você está precisando de terapia para reconhecer sua idade. Você não sente vergonha de falar de k-pop e principalmente de querer ir em shows? Isso não é para você, já passou da idade dessas coisas’. E por aí vai indo os comentários desse tipo, tentando diminuir e menosprezar pela idade”, relata Inês.
Etarismo, piadas racistas e julgamentos
Além do etarismo, as fãs relatam que há comentários racistas e pré-julgamentos incabíveis. Larissa Castro Tome, de 34 anos, que é fã de k-pop e doramas desde 2018, também já enfrentou as críticas por admirar a cultura sul-coreana.
“Já enfrentei julgamentos por ser fã de K-pop e doramas, como comentários de que isso é ‘coisa de adolescente’ ou que eu estava ‘perdendo tempo’ com algo ‘sem importância’ e ‘quando você vai agir conforme sua idade’. Também já ouvi piadas racistas por admirar a cultura asiática, o que é doloroso, pois essas críticas ignoram o valor cultural e o impacto positivo que essas mídias têm na vida das pessoas”, disse a CEO da Pandai, produtora de eventos de k-pop e dorama em Curitiba.
Priscila Oliveira Melo de Alcântara, de 37 anos, passa por situações constrangedoras no cotidiano, pois trabalha no Bom Retiro, em São Paulo, onde há uma concentração de imigrantes sul-coreanos.
“No meu trabalho, não pode entrar uma pessoa do mais, né, com o ‘olhinho puxado’, que aí fica, pode ser qualquer idade, velhinho, ‘ai, seu marido’, ‘você não queria, olha aí, coreano que você queria’”, relata Priscila.
O impacto dos doramas na vida das pessoas: “Não me sinto mais sozinha”
Apesar dos olhares de julgamento, comentários maldosos, essas três mulheres não dão importância para as críticas e continuam apreciando a cultura sul-coreana e focam nos benefícios que ser fã traz para a vida delas.
“Criei uma nova motivação para ver e viver a vida, descobri uma alegria de viver que estava perdida. Ampliei meus contatos, apesar de distantes, tenho sempre com quem interagir nos diversos grupos que acompanho. Não me sinto mais sozinha e abandonada. Além de sempre ter retornos positivos e apoio das dorameiras. Me sinto muito mais viva e feliz com muita vontade de viver e curtir cada vez mais. Não tenho o menor problema com a minha idade”, disse Inês.
Já para Larissa, o interesse pelas obras sul-coreanas despertou o interesse de aprender uma nova lingua e conhecer novos lugares.
“Ser fã de K-pop e doramas me trouxe inúmeros benefícios para minha vida. Desenvolvi um profundo interesse pela cultura asiática, o que ampliou minha visão de mundo e me fez valorizar diferentes tradições e costumes. Esse interesse despertou em mim o desejo de aprender um novo idioma, como o coreano, o que não só é enriquecedor, mas também me aproxima ainda mais das obras que amo. Além disso, ser fã alimentou o sonho de um dia visitar países como Coreia do Sul, China, Tailândia e Japão, para vivenciar essas culturas de perto. Também me proporcionou a oportunidade de conhecer pessoas incríveis”, explica.
Dorameiras querem casar com sul-coreanos?
Apesar da crença popular de que as fãs de k-pop e doramas desejam casar com um sul-coreano, a realidade é outra. As brasileiras entendem que a nacionalidade não influência no caráter de alguém ou no seu nível de romantismo. A jornalista Aline Taveira, de 24 anos, explica que essa confusão entre realidade e ficção é comum no começo.
“No início pode sim ocorrer essa fantasia de que os homens coreanos são príncipes encantados, e surgir essa vontade de ter um parceiro sul-coreano, mas conforme a pessoa vai consumindo mais sobre a cultura sul-coreana esse esteriótipo se dissipa”, afirma Aline.
“No fim, o que fica é a vontade de viver um romance semelhante aos que aparecem nos k-dramas, eu digo semelhante, porque a gente também sabe que é quase impossível viver um amor igual os das telas, assim como nossas mães também se encantavam com as novelas brasileiras e os Beatles, por exemplo, nós estamos encantadas pelas produções sul-coreanas, acredito que é algo comum, não entendo a ignorância que as pessoas tem em relação aos doramas e ao k-pop”, explica.
Seo In Guk no Brasil: fãs estão ansiosas para o show
O cantor e ator sul-coreano Seo In Guk estará em solo brasileiro no sábado (24) para realizar um fan meeting em São Paulo, no Espaço Vibra. O evento é organizado pela produtora SAM entretenimento, que anteriormente trouxe o ator Sung Hoon ao Brasil. Os ingressos para o show do artista Seo In Guk estão à venda no site Kticket, atualmente há 783 ingressos disponíveis, com valores de R$500 a R$ 1100. As fãs estão ansiosas aguardando a chegada do artista sul-coreano.
“Estou super ansiosa, quero curtir o máximo, me divertir muito, ter a satisfação, a alegria de conhecer um artista tão completo e perfeito. Além de ter a oportunidade de conhecer as meninas do grupo, quero tentar viver o máximo um momento que será único. Estou muito feliz por ter conseguido o ingresso, não no vvpi, como eu gostaria, mas, só de poder estar lá e participar de tudo isso, é muito prazeroso. É uma sensação difícil de explicar com palavras, mas tentando resumir, acho que é sentir que, apesar de 60 anos, ainda estou viva, inteira, ativa e agradecida por isso”, disse Inês.
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