A indústria ainda é um caminho para o desenvolvimento?

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por Jeulliano Pedroso
Publicado em 10 fev 2023, às 17h00. Atualizado em: 12 fev 2023 às 19h32.

A ideia de que é necessário se industrializar para atingir melhores níveis de desenvolvimento econômico é antiga no Brasil. Ela esteve por trás do processo de substituição das importações nos anos 1930, no plano de metas do governo de Juscelino Kubitschek em 1956 e nos planos nacionais de desenvolvimento (PND) do governo militar e percebemos o retorno desse discurso tanto por parte do presidente da república quanto de seus ministros.

A atividade industrial gera mais empregos formais, mais arrecadação de impostos, a média salarial é maior que em outros setores como o de serviços e tem maior poder de encadeamento na economia, criando mais emprego e renda em outros setores. Também é a atividade industrial que lidera o desenvolvimento de novas tecnologias.

Ao se tornar mais industrializada, uma região pode ter crescimento em alguns indicadores socioeconômicos. Podem ocorrer melhorias no nível de escolaridade e na infraestrutura urbana, já que as atividades industriais necessitam de trabalhadores qualificados e de infraestrutura adequada para o desenvolvimento de suas atividades.

O aumento da arrecadação de impostos também contribui para uma maior oferta de serviços públicos. O estado do Paraná tem papel de destaque nas atividades industriais desenvolvidas no Brasil. Dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes a 2020 mostram que o Produto Interno Bruto (PIB) industrial do Paraná é o quarto maior do Brasil.

O Paraná também teve o terceiro maior valor de produtos industrializados exportados, terceiro maior número de trabalhadores na atividade industrial e ficou na quinta posição em número de estabelecimentos industriais. Apesar desses números, o salário médio pago aos trabalhadores na indústria paranaense (R$2.486,10) está abaixo da média nacional (R$ 2.749,40). Isso pode ser um reflexo do menor nível de escolaridade dos trabalhadores do estado: 64% dos trabalhadores têm ensino médio completo, enquanto a média nacional é de 67%.

Os principais setores industriais do estado são Serviços Industriais de Utilidade Pública (saneamento, energia e esgoto: (19,3%), Alimentos (18,6%), Construção (16,2%), Veículos Automotores (8,2%) e Derivados de Petróleo (7%). Juntos, esses setores representam 69,3% da indústria do estado.


Figura 1. Principais setores industriais do Estado

Dados da Matriz de Insumo Produto do Panará de 2015 estimada pelo Ipardes, mostram que as atividades industriais são aquelas com maior potencial de gerar empregos na economia como um todo. Por exemplo, para cada emprego gerado no setor de fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustível, outros 70 empregos são criados direta ou indiretamente no estado; na fabricação de automóveis, caminhões e ônibus, exceto peças, são criados 10 empregos.

Figura 2. Empregos criados pela indústria

A produção industrial no Paraná é altamente concentrada em poucos municípios. Na Figura 3 vemos os 20 municípios com as maiores participações no valor adicionado industrial do Paraná em 2002 e 2020. Valor adicionado é o total de bens e serviços criados por dado setor ou região e é calculado descontados os impostos indiretos e o consumo intermediário do valor bruto da produção. Podemos ver que houve uma ligeira desconcentração da atividade industrial no estado, com a participação dos 20 principais municípios reduzindo de 72% em 2002 para 68% em 2020. Curitiba, apesar de se manter na primeira posição, reduziu sua participação de quase 19% para cerca de 13%.

Outros municípios da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) também perderam participação, como São José dos Pinhais e Pinhais. Por outro lado, vemos um crescimento da participação de cidades importantes no interior do estado, como Ponta Grossa, Cascavel e Telêmaco Borba.

Em 2011, a cidade de Ponta Grossa foi escolhida para a implantação da fábrica de veículos automotivos DAF caminhões, aumentando a produção do estado nesse setor que antes estava muito concentrado na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). O menor custo e o acesso a mão de obra qualificada podem ter sido alguns dos motivos para a desconcentração observada. Essa distribuição mais ampla pode estar relacionada com a expansão da agroindústria no interior do estado. Entre 2009 e 2019, a indústria de alimentos foi a atividade industrial que ganhou mais participação: teve aumento de 6,5%.

Figura 3. Ranking dos municípios com maior participação no valor adicionado da indústria no Paraná

A relação industrialização-desenvolvimento também pode ocorrer no sentido contrário, ou seja, as indústrias tendem a se instalar em regiões que já oferecem alguma estrutura e mão de obra qualificada para o desenvolvimento de suas atividades. Essa é uma das razões pelas quais a produção industrial no Paraná ainda é bastante concentrada em grandes aglomerados urbanos, como Curitiba, Londrina e Maringá, Ponta Grossa e Foz do Iguaçu.

Regiões mais industrializadas possuem melhores indicadores sociais?

Para tentar identificar algum padrão da relação entre industrialização e desenvolvimento nas regiões paranaenses, vamos analisar dois indicadores: o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) e o Grau de Industrialização Municipal. O IDH-M é uma das principais medidas utilizadas para classificar o grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida dos municípios.

Na Figura 2 podemos ver a evolução desse índice em três décadas. Em 1990, mais de 80% dos municípios do Paraná eram classificados com nível muito baixo de desenvolvimento (índice menor que 0,499). Em 2010 (último dado disponível), 60% dos municípios se encontram com nível médio de desenvolvimento. Também podemos notar que em todos os anos os melhores níveis de desenvolvimento são de municípios na Região Metropolitana de Curitiba, Oeste Paranaense e Norte Central Paranaense.

Por outro lado, alguns municípios da região central do estado e do norte pioneiro são os que tiveram um desenvolvimento mais lento e ainda permanecem com os menores níveis do estado. Dentre as possíveis razões para os baixos níveis de IDH-M estão a dificuldade desses municípios em gerar emprego e renda e a prestação inadequada de serviços públicos, que afeta diretamente a qualidade de vida da população e torna a região menos atrativa para investimentos produtivos.

Figura 4. Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

O grau de industrialização foi calculado dividindo o valor adicionado da indústria pelo valor adicionado total em cada município para os anos de 2002 e 2020 (primeiro e último ano da série disponível). O resultado é mostrado nos mapas da Figura 3, quanto mais escuro, maior a participação da indústria no valor adicionado total do município.

Vemos que pouca coisa mudou entre o período analisado, as regiões mais industrializadas em 2002 mantiveram o posto em 2020. O que se destaca nos mapas é o fato de que as áreas menos desenvolvidas mencionadas anteriormente (centro do estado e Norte Pioneiro) também são as regiões com os menores níveis de industrialização.

Figura 5. Grau de industrialização (percentual do valor adicionado da indústria no valor adicionado total)

Podemos afirmar então que industrialização e desenvolvimento econômico parecem caminhar juntos. Porém, identificar o quanto a industrialização contribuiu para os bons indicadores socioeconômicos em alguns municípios não é uma tarefa fácil, pois diversos outros fatores, tais como o ambiente macroeconômico do Brasil e investimentos em programas sociais, podem ter sido os principais responsáveis. Incentivar a instalação de empreendimentos industriais nas regiões menos desenvolvidas também trará pouco resultado: é necessária a melhoria dos serviços públicos e a identificação das atividades com maior potencial de crescimento em cada região.

Olhando para esses dados podemos ter a certeza que a indústria tem ido bem no Paraná e que ela é de suma importância para o desenvolvimento de nosso estado e que assim continue. Entretanto, precisamos superar alguns desafios, entre eles uma reforma tributária que desonere o setor industrial e fomentar políticas públicas que facilitem o investimento, sem que para isso se apele à intervenção de bancos públicos no financiamento da atividade industrial, e sim em esforço massivo nas variantes responsáveis pelos indicadores analisados:

Educação: para assegurar mão de obra qualificada nas distintas regiões do estado, possibilitando ainda mais a descentralização do setor.

Infraestrutura: para garantir segurança energética, hídrica e logística para a produção mas também para o escoamento do que é produzido.