Alta do dólar após eleição de Trump vai piorar a vida do brasileiro? Veja análise
Professor Dabliu acredita que a alta do dólar não é permanente, mas se fosse, os maiores impactados seriam os mais pobres
Após a confirmação da eleição de Donald Trump como o próximo presidente dos Estados Unidos, o dólar turismo chegou ao patamar de R$ 6,08 no início da manhã desta quarta-feira (6), fechando o dia abaixo dos R$ 6. Já o dólar comercial atingiu os R$ 5,86 durante as primeiras horas de abertura das bolsas, mas sofreu uma queda no fechamento, ficando em R$ 5,67.
Diante deste cenário, muitos brasileiros passaram a questionar a dimensão do impacto econômico da eleição do republicano para o Brasil. Porém, segundo o doutor em economia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Walcir Soares da Silva Junior, conhecido como professor Dabliu, não há motivos para pânico.
“Fuga e atração de capitais são fenômenos corriqueiros e, até mesmo, esperados, em situações de mudanças políticas, especialmente na política de países tão importantes mundialmente como os Estados Unidos. No entanto, em situações em que a desvalorização se torna desmedida, o governo (Banco Central) até pode intervir vendendo dólares das suas reservas, por exemplo. Mas essa é uma política mais extrema e que tem um certo custo”, explica.
O professor Dabliu pontua ainda o que motivou esta alta repentina do dólar: “Porque o mercado, com o resultado das eleições, está confiante em relação às políticas republicanas na economia americana. Isso faz com que os investidores retirem seus dólares de países em desenvolvimento, como o Brasil, e invistam em títulos públicos nos Estados Unidos. É esse movimento de saída de dólares do Brasil que leva a um movimento de desvalorização da moeda brasileira”.
A alta do dólar é momentânea, mas se fosse duradoura…
Segundo o especialista, caso a alta do dólar fosse duradoura, o que ele nega que haja evidências que apontem para isso neste momento, o efeito colateral seria preocupante para o Brasil.
“Primeiro, precisamos entender por que esse efeito eleitoral altera o valor da taxa de câmbio. O preço do dólar no Brasil reflete, como o preço de qualquer produto, o oferta e a demanda desta moeda, ou seja, a quantidade de dólar que existe na nossa economia, frente à quantidade de reais que nós temos, é o que determina o preço do dólar. E como nós não somos autosuficientes, não produzimos aqui tudo aquilo que precisamos para consumir e investir, quando o preço do dólar aumenta, isso pode ser problemático”, diz.
A alta do dólar, segundo o economista, que também da palestras sobre a desigualdade, tem vários impactos sociais e econômicos no Brasil, “já que o país é bastante integrado ao comércio global e depende de insumos importados para muitas atividades produtivas”.
“O encarecimento do dólar torna as importações brasileiras mais caras, uma vez que para cada dólar, mais reais são necessários. Portanto, setores que dependem da importação de matérias-primas acabam sendo afetados e precisam repassar esse aumento nos custos para seus preços finais. Isso vale para o agronegócio, nosso principal setor, que depende de fertilizantes importados; a indústria farmacêutica que importa variados princípios ativos para produzir medicamentos; peças e tecnologias importadas para a produção de veículos e máquinas; o petróleo refinado utilizado na fabricação de combustíveis”, pontua.
Professor Dabliu explica também que esse efeito em larga escala pode levar a um aumento na inflação que prejudica, especialmente, as pessoas mais pobres, que não têm seus ativos protegidos e acabam sendo mais afetadas pelos aumentos de preços nos bens de consumo.
“É importante salientar, no entanto, que não há motivo para pânico”, reforça ao explicar que essa volatilidade do dólar é comum.
“No entanto, caso a desvalorização da moeda se torne mais do que transitória, um efeito de longo prazo, o principal efeito é a inflação que irá corroer, principalmente, os salários dos trabalhadores. Como, no momento presente, a indústria trabalha com alguma previsibilidade de estoques, esse aumento cambial não será repassado de maneira tão rápida e intensa”, alerta.
Como se proteger da alta do dólar?
O professor Dabliu explica que o cidadão comum, que possui alguma renda guardada, pode tomar algumas medidas para se proteger deste tipo de situação. “Uma forma de se antecipar a essas adversidades pode ser, por exemplo, investir parte da sua reserva de emergência em títulos corrigidos pela inflação. Isso é muito fácil e pode ser feito por qualquer cidadão no site do Tesouro Direto”, explica.
Mas Dabliu alerta que neste momento o ideal é manter a cautela e evitar gastos desnecessários. “Se você planeja fazer uma viagem, o ideal é esperar passar o fenômeno ocasionado pelo resultado das eleições, pois, espera-se, que este será arrefecido nos próximos meses”, finaliza.
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