Como a guerra entre Rússia e Ucrânia pode impactar o Paraná; entenda
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia que começou com uma invasão na manhã desta quarta-feira (24), pode impactar diretamente a economia dos paranaenses ao causar um possível impedimento na atividade portuária e no comércio exterior. Os dois países fornecem soja, milho, trigo e outros insumos importantes para o Brasil.
De acordo com o professor de economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Eugenio Stefanelo, durante os dois dias que antecederam a invasão, terça-feira (22) e quarta-feira (23), foi possível notar uma reação das cotações internacionais. A soja aumentou para US $17 por bucha, o que equivale a R$87,53. Já o milho ultrapassou os US$6,80 (R$34,98). O trigo também teve um aumento significativo, chegando a US $9 por bucha (R$46,30).
O economista ainda alerta sobre o aumento de preço de outros produtos, como o petróleo, que acaba impactando no aumento de preços de todo o restante da cadeia produtiva. Após a invasão feita pela Rússia à Ucrânia, a Petrobras pensa em avaliar os impactos da alta volatilidade dos preços do petróleo no mercado internacional. Todas essas mudanças refletem diretamente no Paraná.
Impactos a longo prazo
Outra preocupação é a possível falta de fertilizantes na próxima safra de verão, que comecará a ser plantada em setembro. No ano passado, o produto já teve seu valor duplicado.
Segundo Eugênio Stefanelo, no ano passado, o Fundo Monetário Brasileiro já tinha previsto para 2022 uma redução do comércio mundial e do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, com relação aos números do ano passado.
“Com a eclosão dessa convulsão e seus efeitos sobre a economia global, é possível que nós tenhamos números ainda mais baixos do que a queda já prevista, na economia mundial e principalmente em termos de Produto Interno Bruto (PIB) e desempenho do comércio”,
lamentou o economista.
Fertilizantes
A administração dos portos paranaenses acompanha o momento de tensão entre os países do Leste Europeu, com atenção. O conflito internacional pode gerar apreensão nos principais portos de entrada dos fertilizantes no Brasil.
De acordo com o diretor-presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia, ainda pode ser cedo para saber quais serão os impactos diretos e indiretos das atividades militares na Ucrânia, porém, existe uma preocupação, principalmente com o segmento dos granéis de importação, especialmente dos adubos.
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“Para se ter uma ideia, das quase 11,5 milhões de toneladas importadas de fertilizante no ano passado, cerca de 2,35 milhões (mais de 20%) vêm da Rússia”,
afirma o executivo.
A Ucrânia, segundo Garcia, não é uma região tradicionalmente produtora de fertilizantes. “A preocupação realmente é com a Rússia que, com a guerra, tende a suspender as atividades portuárias e o comércio com os países, principalmente ocidentais”, pontua o dirigente dos portos paranaenses.
Produtores
Segundo o gerente executivo do Sindicato da Indústria Adubos e Corretivos Agrícolas no Estado do Paraná (Sindiadubos), Décio Luiz Gomes, a Rússia e outros países vizinhos, como Belarus, são grandes produtores de fertilizantes, principalmente o cloreto de potássio.
“A apreensão é quanto os problemas logísticos para escoar esses produtos. A invasão da Rússia à Ucrânia complica ainda mais a situação que já estava delicada com a Belarus, outro importante mercado”,
comentar.
Conforme Décio Luiz Gomes, o mercado e a indústria dos fertilizantes no Brasil – assim como em todo o mundo – já estava sentindo há algum tempo, quando a Rússia decidiu suspender as exportações dos produtos.
Alternativa
Outra preocupação para o segmento da produção, era o impedimento imposto pela Lituânia para circulação de produtos da Belarus. O país pode ser uma outra opção, além da Rússia, para o escoamento da produção de cloreto de potássio para o mundo.
“Uma alternativa para o mercado brasileiro, na importação do produto, seria o Canadá, também grande produtor e exportador do cloreto de potássio”,
completa Décio Luiz Gomes.
Como explica Décio, a maioria das empresas produtoras de fertilizantes nos dois países, Rússia e Belarus, são estatais. “Ou seja, as decisões dessas empresas vão a reboque do que decidem os respectivos governos em relação ao mercado internacional”, pontua o gerente executivo, que ainda ressalta: “A redução da oferta mundial de fertilizantes certamente vai nos afetar”.
Portos
Os navios com bandeiras da Rússia, Ucrânia e Belarus dificilmente chegam nos portos do Paraná. O presidente do Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado do Paraná (Sindapar), Argyris Ikonomou, a preocupação não é tanto com a mão-de-obra, no caso, das tripulações e sim o aumento nos valores do transporte.
“A possibilidade de impacto negativo que eu consigo enxergar, no momento, seria a dificuldade, alto risco e o aumento do valor dos fretes para navios que, a partir de agora, vão escalar em portos da Rússia para carregamento de fertilizantes, por exemplo”,
comenta.
Ele ainda alerta que é muito cedo para saber o que pode acontecer nos próximos dias.
Mercado de proteínas animais
Gustavo Fanaya, funcionário do Sindicarne do Paraná, informa que é impossível prever o que a guerra vai causar no mercado de proteínas animais e de carnes no Estado. “Nós não exportamos suínos nem para a Rússia e nem para a Ucrânia neste momento”, disse.
A exportação de frango é mais expressiva. No ano passado, cerca de US$100 milhões de dólares foram gerados
informou.
Ele ainda acrescentou que, já na carne bovina, o valor gerado foi de US$7 milhões de dólares e que não há informações sobre a interrupção do fluxo dessas mercadorias.
“O que a gente percebe nesse momento é uma especulação muito grande no mercado internacional de milho, pois a Rússia e a Ucrânia são grandes exportadores e definidores de preços dessa obra prima”, conta.
“O grande receio das nossas indústrias é que a matéria prima, o milho principalmente no Brasil, já está muito cara, pressionando o custo de produção, tornando nossos produtos muito caros e comprimindo a margem de todo sistema, de toda a cadeia produtiva. Então esse é um fator que gera grande preocupação que esses países não deixem de abastecer o resto do mundo”,
diz.
Rússia e Brasil em números
A Federação das Indústrias do paraná (Fiep) fez um levantamento prévio de impactos com a guerra. Conforme a entidade, os principais produtos paranaenses exportados para a Rússia em 2021 foram pedaços e miudezas
de galos e galinhas (43,3%) e café solúvel (20%). Os 5 principais produtos paranaenses exportados para a Rússia em 2021 foram alimentos e corresponderam a 91,1% de tudo o que foi exportado para o país. Já nas importações, a Rússia é o 7º maior parceiro paranaense, respondendo por 2,8% das importações em 2021. Os principais produtos importados da Rússia pelo Paraná em 2021 foram: cloretos de potássio (25,7%) e diidrogeno-ortofosfato(20,3%) (fertilizantes). Os 4 principais produtos importados da Rússia pelo Paraná em 2021 foram produtos químicos e
corresponderam a 72% de tudo o que foi importado pelo estado.