Copel vê "timing" da privatização associado à renovação da concessão de hidrelétrica
Por Letícia Fucuchima
RIO DE JANEIRO (Reuters) – A Copel enxerga no processo de privatização, revelado na véspera, uma oportunidade importante para que a elétrica consiga renovar a concessão e preservar no portfólio 100% de seu principal de ativo de geração de energia, a usina hidrelétrica Foz do Areia –que, pelas regras atuais, precisaria ter seu controle vendido até o final de 2023.
Em videoconferência nesta terça-feira para apresentar um novo plano estratégico, o CEO da Copel, Daniel Slaviero, destacou a relevância do tema de Foz do Areia, sinalizando que o “timing” para a privatização será influenciado por essa discussão.
Com 1.676 megawatts (MW) de capacidade instalada, a hidrelétrica é o principal ativo de geração da Copel, gerando cerca de 450 milhões de reais em Ebitda anual, e tem sua concessão expirando em dezembro de 2024.
Pelo fato de ser uma estatal, a Copel precisa necessariamente vender o controle de Foz do Areia se quiser renovar a concessão e manter uma participação, ainda que minoritária, sem enfrentar um leilão de relicitação do ativo.
“Temos um encontro marcado com a realidade, que é dia 10 de dezembro de 2023, que é ter que pagar 1,83 bilhão de reais (a título de bônus de outorga), seja ficando com 100% (da hidrelétrica), seja (tendo) um parceiro privado com 51%. Esse processo (privatização) tem que acontecer nesse período, ou no mínimo um ‘dual track’, em paralelo”, disse Slaviero.
Ele ponderou, porém, que a companhia não abandonará o atual processo de venda de Foz do Areia, que já foi iniciado. Segundo ele, isso será tocado em paralelo, para o caso de a privatização não ocorrer.
O CEO da Copel também não arriscou prever um prazo para que o governo consiga as aprovações necessárias para a privatização. O Estado precisa conseguir a aprovação de uma lei na assembleia legislativa local –o projeto de lei sobre o tema já foi encaminhado aos parlamentares– e também conseguir o aval do Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Questionado sobre eventuais melhorias operacionais que poderiam vir da privatização, Slaviero disse que isso ainda seria avaliado.
“Esse grupo que toca a empresa, que continuará tocando a empresa, imagina o que a gente pode fazer sem amarras. Vamos competir com a Eletrobras, esse é o tom”, comentou.
O Paraná revelou na véspera a intenção de desestatizar a Copel por meio de uma oferta secundária de ações, em operação semelhante à realizada pela Eletrobras. A Copel se tornaria uma “corporation”, sem controlador definido, com o governo paranaense permanecendo com participação de pelo menos 15% do capital social total da elétrica.
O BNDES, outro importante acionista da Copel, poderia acompanhar o “follow on” do Estado, embora as conversas para isso ainda não tenham sido iniciadas, disse Slaviero.
PLANO ESTRATÉGICO 2030
A Copel apresentou nesta terça-feira uma atualização de seu plano estratégico para os próximos anos.
A elétrica planeja consolidar sua posição de empresa integrada de energia elétrica até 2030, crescendo em geração renovável, transmissão e comercialização de energia, além de potencialmente entrar em novos mercados de distribuição fora do Paraná.
Em geração de energia, a meta é acrescentar ao portfólio 2 gigawatts (GW) de ativos renováveis e se desfazer de ativos emissores de carbono, como a termelétrica Araucária (UEGA).
Outro destaque é a aposta no crescimento da distribuição para além do Paraná. Slaviero disse que a companhia vai olhar “ativamente” oportunidades de aquisição de distribuidoras que surgirem no mercado.
“Não são oportunidades que aparecem todos os dias, mas temos tido um monitoramento periódico de operações que possam agregar em escala e sinergia para nós”, acrescentou Cássio Santana da Silva, diretor de Desenvolvimento de Negócios.
No segmento de transmissão de energia, a elétrica paranaense prevê acrescentar mais 2 mil km de linhas ao portfólio, principalmente por meio da participação em leilões, além de explorar projetos de reforços e melhorias em sua rede existente.
O executivo destacou essas metas de crescimento são apenas referências de sua estratégia de longo prazo. “Se não tiver projetos (bons), o dinheiro vai para dividendos… Não tem nenhuma obrigação, não vamos crescer a qualquer custo”.
DESCARBONIZAÇÃO DA CARTEIRA
A Copel pretende alcançar 9 GW de potência em seu parque gerador em 2030, que será composto apenas por ativos das fontes hídrica (56% de participação no futuro), eólica (29%) e solar (15%).
Para isso, a elétrica deve desinvestir da usina Araucária (UEGA), uma termelétrica movida a gás natural que opera na modalidade “merchant”, isto é, não tem contrato de comercialização de energia, recebendo receita com a liquidação da energia gerada no mercado de curto prazo.
Segundo executivos da Copel, a ideia é aproveitar que a Petrobras colocou à venda sua fatia de 18% na usina, de forma que potenciais interessados possam vir a comprar até a totalidade do ativo.
Outro desinvestimento previsto é o da Compagas, distribuidora de gás canalizado do qual a Copel detém 51%, tendo como sócias a Mitsui (24,5%) e a Commit, do grupo Cosan (24,5%).
Santana disse que a distribuidora está na reta final do processo de renovação de sua concessão por mais 30 anos, o que garante a atratividade do investimento para um novo comprador. A Copel acredita que pode realizar um leilão de venda da Compagas “entre 180 e 210 dias” após a renovação da concessão, acrescentou.
(Por Letícia Fucuchima)