Crise do diesel: entenda a influência do preço na possível escassez na hora da safra, no Brasil
De um lado, o governo federal em ano de eleições buscando redução no preço do diesel. De outro, o somatório de crises, como a pandemia e a Guerra da Ucrânia, pressionando estoques mundiais do combustível. No horizonte, o risco da escassez do diesel justamente no segundo semestre, em plena colheita do milho e plantio de soja – fundamentais para a economia do país e do Estado.
Em visita ao Paraná, o presidente Jair Bolsonaro (PL), na sexta-feira (3), admitiu que o combustível pode faltar no país já nas próximas semanas. A Petrobras informou ao presidente que o estoque deve durar, no máximo, 40 dias. Na ocasião, Bolsonaro disse que enviou missão internacional a países árabes, na tentativa de resolver o problema.
Hoje, ninguém pode cravar se vai faltar ou quando vai faltar diesel no país. Porém, as “disputas” sobre o preço podem decidir os rumos da situação para o segundo semestre. Especialistas ouvidos pelo RICMais apontam que a pressão no preço é esperada e que para melhorar os estoques com a importação, o combustível deve aumentar.
Cerca de 30% do diesel consumido no país é importado – o que, necessariamente, não é um problema. Atualmente, o preço interno do diesel está abaixo do praticado no mercado internacional, e isso desestimula os importadores do combustível.
Na esteira da discussão, Bolsonaro tenta exigir que os Estados zerem o Imposto sobre Circulação de Serviços e Mercadorias (ICMS) do combustível para reduzir o preço – pressionado por caminhoneiros, por exemplo -, o que tem impacto difícil de calcular tanto sobre a duração dos descontos quanto o prejuízo para os Estados.
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“Tenho algumas certezas. Caso aconteça queda de preço, será passageira. A demanda é soberana. Se é forte, o preço sobe, não tem como não subir. Agora, se o governo federal fizer algo ainda mais radical, dada as eleições, como tabelamento de preços, aí sim seria desabastecimento líquido e certo”,
explica José Guilherme Silva Vieira, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Segundo ele, no momento, não há garantias nem que vá haver estoque de diesel nem que vá ocorrer uma escassez. “É um insumo que tem repercussão para além da agricultura, passando pela indústria, transporte, fornecimento de energia. O que está se verificando é um aumento da demanda que vai continuar, porque a safra está sendo boa”, diz.
O professor faz um paralelo da situação com a escassez de máscaras no auge da pandemia. Para ele, foi justamente o aumento do preço do produto que fez com que se conseguisse importar, de diferentes maneiras. A falta de diesel em alguns países necessariamente aumenta o preço em outros.
“O preço resolve esse problema [da escassez], se tiver livre. O maior problema do desabastecimento é alguma espécie de tabelamento, de pressão para que fique de forma irreal [para baixo]. Se tiver caro, o importador vai atrás”,
avalia o economista.
Para Vieira, a falta de planejamento, como ocorreu na Argentina que enfrenta problemas mais graves com escassez de diesel, é um problema maior do que o Brasil não ser autossuficiente na produção do combustível. “O problema é não ter uma política de gerenciamento de estoque”, aponta.
Riscos para a safra
O Paraná, assim como o Brasil, tem perspectiva com de safra cheia neste ano. No Estado, o crescimento é esperado em 5%. No entanto, o diesel se tornou uma preocupação adicional para os produtores rurais, avalia Luiz Eliezer Ferreira, técnico do Departamento Técnico e Econômico da Federação da Agricultura do Paraná (Faep).
“A possível escassez de diesel é uma preocupação porque vai coincidir com a colheira do milho segunda safra, que esperemos forte recuperação no Estado, e também pode coincidir com o plantio da soja. Inclusive, técnicos do Ministério da Economia me informaram que se não houver mais aumento do preço, poderá ter escassez”,
indica o especialista.
Para ele, a falta de diesel limitaria a capacidade de armazenamento, uma vez que não seria possível escoar a produção. O técnico explica que o setor tem olhado com preocupação dada a importância do insumo, usado em máquinas durante as operações de plantio e colheita, no transporte e na geração de energia.
“O setor já espera um preço maior no segundo semestre. O governo tem anunciado medidas para tentar reduzir o preço, mas não está muito bem desenhado. Por enquanto, hoje não temos desabastecimento e não acreditamos muito. Se não houve reajuste de preço ou como importar, podemos esperar a escassez no exato momento da colheita”,
afirma o técnico da Faep.
O que dizem outras organizações sobre o diesel:
- Federação da Indústria do Estado do Paraná (Fiep): “está monitorando o assunto, mas ainda não vai se manifestar”.
- Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar): “sem sombra de dúvida, o diesel é um importante insumo para a produção agropecuária e qualquer alteração nos preços impacta diretamente nos custos de produção. O Sistema Ocepar acompanha esta situação apenas pelas notícias veiculadas na imprensa até o momento”.
- Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do Paraná (Sindicombustíveis-PR): “os postos vendem os produtos que são repassados pelas distribuidoras e, na maioria, produzidos pela Petrobras. Até o momento, não tivemos informações mais concretas além do que foi veiculado na imprensa”.