IPCA tem maior alta para fevereiro em 7 anos; combustíveis pesam em 12 meses

Publicado em 11 mar 2022, às 10h12. Atualizado às 11h18.

SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) – Os custos de educação e alimentos pesaram em fevereiro e a inflação ao consumidor brasileiro acelerou com força para o nível mais elevado para o mês em sete anos, com a taxa em 12 meses acima de 10,5% em meio ao fantasma da elevação dos preços dos combustíveis.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou a alta a 1,01% em fevereiro, de 0,54% no primeiro mês do ano, mostraram dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O resultado divulgado nesta sexta-feira (11) é o mais elevado para um mês de fevereiro desde 2015 (1,22%), contra expectativa em pesquisa da Reuters de alta de 0,95%.

A leitura levou a taxa acumulada em 12 meses a uma elevação de 10,54%, contra 10,38% em janeiro e expectativa de 10,5%.

Isso representa mais do que o dobro do teto da meta de inflação para 2022 –3,50%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, no momento em que o Banco Central se prepara para voltar a discutir a taxa básica de juros no país na próxima semana.

Em sua tentativa de combater a inflação elevada, o BC já elevou a taxa Selic a 10,75% ao ano, e deve promover nova elevação na quarta-feira, ao fim de seu encontro de política monetária.

O BC se reúne sob o pano de fundo da alta dos preços dos combustíveis, depois de a Petrobras ter anunciado na véspera que elevará os preços do diesel em cerca de 25% em suas refinarias, enquanto os valores da gasolina deverão subir quase 19%, na esteira dos ganhos nas cotações do petróleo no mercado internacional em função da guerra na Ucrânia.

“Essa é um alta que não fica limitada aos combutíveis, e isso vai aparecer no IPCA de forma mais ampla em produtos e serviços”, destacou o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.

Uma política monetária mais apertada tende a esfriar os gastos do consumidor e, consequentemente, conter a alta dos preço, que também tende a ganhar impulso devido ao choque dos preços das commodities com a guerra entre Ucrânia e Rússia.

Fevereiro teve como maiores impactos as altas de 5,61% nos custos de Educação e de 1,28% da Alimentação e Bebidas –os dois grupos representaram cerca de 57% do IPCA do mês.

“Em fevereiro, Alimentação sofreu impactos dos excessos de chuvas e também de estiagens que prejudicaram a produção em diversas regiões de cultivo no Brasil”, explicou Kislanov, lembrando que a alta de educação é sazonal.

Combustíveis

Mas em 12 meses o maior peso para o resultado partiu dos combustíveis, que acumulam avanço de 33,33%, embora em fevereiro eles tenham registrado queda de 0,92%.

O preço da gasolina recuou 0,47% em fevereiro mas acumula em 12 meses avanço de 32,62%. Por outro lado, o óleo diesel subiu 1,65% no mês, chegando a avanço de 40,54% em 12 meses.

Apesar desse alívio em fevereiro, os preços dos combustíveis deverão pesar sobre a inflação nos próximos meses. Para tentar conter a alta, o Senado aprovou na véspera projeto que cria uma conta de estabilização para os preços dos combustíveis, que ainda será analisada pela Câmara dos Deputados.

Já a Câmara aprovou na madrugada desta sexta proposta que altera as normas de cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre os combustíveis e a medida irá à sanção do presidente Jair Bolsonaro, que afirmou que vai sancionar o projeto.

“O IPCA de março será impactado pelos combustíveis. Pode ser que tenhamos um impacto do porte de 1,2 ponto percentual, mas temos que esperar para ver como vai ser o comportamento nas bombas”, disse Kislanov, ressaltando que o impacto pode extrapolar o mês de março.

A deterioração das expectativas inflacionárias na esteira do choque de preços das commodities com a guerra na Ucrânia tem forçado analistas a promover uma revisão generalizada dos cenários para os preços e taxas de juros, que deverão subir mais e por mais tempo, com impactos colaterais sobre a atividade econômica. E a decisão da Petrobras já levou agentes financeiros a preparar novas revisões nas perspectivas para o IPCA.

Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier