Preço dos combustíveis faz curitibanos trocarem carro por ônibus

por Redação RIC.com.br
com informações da Agência Brasil
Publicado em 8 jun 2022, às 11h19.

Com o aumento do preço dos combustíveis, algumas pessoas deixem de se deslocar de carro e recorrem ao transporte público. Pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e da Universidade Federal do Paraná (UFPR) resolveram investigar a questão de forma mais aprofundada e criaram modelos matemáticos que permitiram provar essa relação com base na realidade de Curitiba.

Segundo a pesquisa, os ônibus de trânsito rápido (BRT) da capital paranaense tiveram aumento de 5 mil passageiros mensais cada vez que o litro da gasolina sobe R$ 0,10. As conclusões foram publicados na revista Sustainability, referência internacional em pesquisas interdisciplinares sobre sustentabilidade ambiental, cultural, econômica e social.

O estudo reuniu informações relativas a um intervalo de dez anos. Dois modelos matemáticos foram criados e aplicados para analisar as variações no preço dos combustíveis, nas tarifas do transporte público, no número de passageiros e no volume de veículos nas ruas entre janeiro de 2010 e dezembro de 2019.

De acordo com Luis André Luis André Wernecke Fumagalli, pesquisador do Grupo de Pesquisas em Cidade Digital Estratégica da PUC-PR e um dos autores do levantamento, entre os fatores que as pessoas levam em conta na hora de deslocar estão: duração da viagem, segurança e o conforto. O custo também é determinante.

“Se os preços do combustível e da tarifa do transporte público ficarem estáveis, a tendência é que as pessoas mantenham sua opção.”

Foram avaliadas as variações no número de passageiros a partir do histórico das seis linhas do BRT de Curitiba, que conectam a capital em várias direções e representam quase 30% do total de usuários transportados todos os dias na cidade.

Conforme o estudo, cada carro na rua representa, em média, 25 passagens a menos vendidas no transporte público de Curitiba. O pesquisador observa que muitas pessoas tomam a decisão conforme a situação de momento

“O proprietário não vende o carro e começa a andar de ônibus. Ele deixa na garagem. E aí, quando ele volta a achar que vale mais a pena usar o carro, ele para de se locomover por transporte público.”

No entanto, o cenário geralmente não ocorre com o motociclista. De acordo com Fumagalli, aqueles que adquirem uma motocicleta tendem a não voltar a usar o transporte público. Diante desse movimento, o volume de motocicletas nas ruas vem aumentando consideravelmente. “Em Curitiba, isso se observa no dia a dia o tempo inteiro”, afirma.

Gestão estratégica

Conforme os pesquisadores, uma das principais preocupações para se obter as conclusões foi a contribuição para pensar uma gestão estratégica da cidade. Para Fumagalli, a partir dos dados levantados, é possível discutir melhores práticas para a administração pública, envolvendo, por exemplo, a alocação de recursos.

“O município precisa investir no transporte público, na estrutura viária, na gestão do trânsito para acomodar, por exemplo, as motocicletas. Com maior número de motocicletas nas ruas, normalmente, ocorrem mais acidentes. No caso do transporte público, o número de passageiros é cada vez menor. E o serviço precisa ser viável economicamente”, observa o pesquisador.

Ele ressalta também que não se pode imaginar que tirar pessoas dos ônibus é bom. “Com menos passageiros, a passagem vai precisar ser mais cara para manter o funcionamento [do transporte público. E carro demais também é problema, porque passa a ter muito engarrafamento.”

Um dos desafios dos municípios é avaliar como o aumento do preço dos combustíveis impacta na sustentabilidade do transporte público. Isso porque o serviço passa a ter simultaneamente mais despesas, para abastecer os veículos, e maior arrecadação, com o aumento do número de passageiros que passam a deixar o carro na garagem. Para os pesquisadores, não é possível fazer generalizações, já que cada cidade lida de forma diferente com o sistema de transporte público. Ainda que a operação seja realizada por concessionárias privadas na maioria das grandes cidades, muitas vezes, elas recebem subsídios municipais.

“Em Curitiba, quando o preço do combustível sobe, há uma compensação feita pela prefeitura. Eventualmente, alguns aumentos acabam sendo repassados para o usuário nos reajustes da tarifa, mas não é algo linear”, pontua Fumagalli. Segundo o pesquisador, a série histórica das tarifas revela que estas não acompanham a frequência de aumentos do preço dos combustíveis.