Cotação: ★★½
Tem certos filmes que já dão spoilers logo no título. Querendo ou não, você já começa a acompanhar a história prevendo ou pelo menos tendo uma breve perspectiva do que vai acontecer no desenrolar das ações. Este novo longa-metragem, protagonizado por Ian McKellen e Helen Mirren é um bom exemplo disto.
Adaptado de um romance literário chamado The Good Liar, o título, de certa forma, já entrega o que logo o espectador começa a ver projetado na tela. Em inglês, há ainda a questão da falta de certificação de um gênero sexual específico, o que pode indicar que a pessoa que é boa mentirosa pode ser tanto homem quanto mulher. Na adaptação para a língua portuguesa, a pessoa que é boa mentirosa dá lugar à ação em si, não mais ao sujeito que a pratica. Mesmo assim, já se evidencia que há mentiras no meio do caminho, o que se torna mais evidenciado logo nas duas primeiras cenas, quando o casal londrino de terceira idade começa se conhecendo através de um site de relacionamento e marca o primeiro encontro em um restaurante para começar a estreitar a convivência.
De cara é quebrada a quarta parede a respeito de Roy Courtnay e (McKellen) sua vida baseada em tentativas de golpes. Junto com um amigo ele tenta enganar investidores iniciantes para engordar sua conta bancária. A recém-viúva Betty McLeish (Mirren) também está em sua mira. Através da criação de laços afetivos com ela, o que ele objetiva, entretanto, é o bom montante de dinheiro que a ex-professora tem guardado. Aos poucos, detalhes do passado de Roy vão se revelando e contribuindo para desvendar a trama, que chega a revolver a detalhes ocorridos durante e tão logo depois da Sgeunda Guerra Mundial em Berlim.
Quem também vai sendo desvendada aos poucos pelo espectador é Betty. Sua história pregressa, a relação bem próxima com o neto que às vezes fica longe de casa para fazer pesquisas para um doutorado. Seria Betty também uma mentirosa tão boa quanto Roy? Ou ela é apenas do jeito que se apresenta para o novo conhecido, uma pessoa afável e que facilmente se apega a um estranho que acabou de conhecer, a ponto de abrir sua casa a ele?
A atuação destes dois grandes ícones da dramaturgia hollywoodiana garante uma excelente construção de ambos os personagens. McKellen, em especial, muda facilmente de personalidade em questão de segundos, de acordo com a conveniência do momento para o dissimulado Roy. Entretanto, o que acaba pesando contra o filme dirigido por Bill Condon (famoso por obras como Kinsey: Vamos Falar de Sexo, Deuses e Monstros, Dreamgirls e O Quinto Poder) é justamente a desandada do roteiro da metade para frente. Enquanto o espectador ainda está construindo na cabeça quem são Courtnay e McLeish, são projetadas expectativas a respeito de quem na verdade poderão ser ambos os personagens. Depois, conforme os porquês vão sendo apresentados e justificados, a história caminha para uma confluência do melodrama com o clichê, atenuando em demasia o bom suspense apresentado no início do roteiro e comprometendo o que havia começado de forma atraente e interessante.
A Grande Mentira deixa a impressão de ser uma boa trama literária subaproveitada no cinema apesar de bons nomes na direção e no elenco. É daqueles filmes que, se o roteiro estivesse melhor trabalhado, grudaria a atenção de quem está vendo sentado na poltrona do começo até o fim.
A Grande Mentira (The Good Liar, EUA/Canadá, 2019). Direção: Bill Condon. Roteiro: Jeffrey Hatcher. Com Ian McKellen e Helen Mirren. Warner. 109 minutos. Estreia nos cinemas brasileiros: 21 de novembro.