Após a pandemia voltar ao normal será um reinício

Publicado em 16 jul 2021, às 17h10. Atualizado às 17h12.

Essas últimas semanas tive dias atípicos desde o início da pandemia de Covid-19, coisas do meu normal que não aconteciam há 1 ano e 4 meses. Com a mudança da bandeira para amarela em Curitiba, começou a chegar Press kit e convites para eventos que seguem todos os protocolos de segurança da Organização Mundial da Saúde (OMS), e também algo que me deixou muito contente, a volta das cabines de imprensa, já que os cinemas reabriram.

Ir a esses locais, cinema, teatro, bar, eventos… faz parte do meu trabalho, para que eu possa informar você sobre o entretimento. Nessa última quinta-feira, fui a um bar a convite deles, para o Festival Crossroads – Dia Mundial do Rock. Fazia muito tempo que não curtia um show, sentir o vibrar dos instrumentos no corpo, falar alto e ficar sem voz, ah como é bom né? Essa saída após mais de um ano sem saber o que é um show me fez ver algo.

Se fala muito sobre o “novo normal” mas após tudo isso, será mesmo que é possível voltar de onde estávamos antes da pandemia? Ao meu ver não. Após uma experiência dessa, o medo, isolamento social, mortes, queda da economia – cenário esse, muito similar ao de guerra – fica sequelas, tudo vai mudar, vamos reiniciar.

Além do medo de contrair a doença, a COVID-19 tem provocado sensação de insegurança em todos aspectos da vida, da perspectiva coletiva à individual, do funcionamento diário da sociedade às modificações nas relações interpessoais. Quanto à saúde mental, é importante dizer que as sequelas de uma pandemia são maiores do que o número de mortes. Os sistemas de saúde dos países entram em colapso, os profissionais de saúde ficam exaustos com as longas horas de trabalho e, além disso, o método de controle mais efetivo da doença, que é o distanciamento social, impacta consideravelmente a saúde mental da população [fonte Estudos de Psicologia (Campinas)].

Constatei isso ontem – foi incrível estar no bar, no show, sorrindo, cantando e bebendo – sensação que descrevi no artigo da semana passada, como “a luz no fim do túnel” com o avanço da vacinação. Entretanto, assim como tudo nesses últimos tempos, tem o “mas”. Estive no mezanino, mesa reservada para imprensa, o local segue todos os protocolos de segurança: mesas devidamente espaçadas, público reduzido, uso obrigatório de máscara, medição de temperatura e não poder dançar (sair da sua mesa).

A sensação era ótima, prazerosa – estou fora de casa, estou em um show, na medida do possível com segurança – porém, você se mantem vigilante, está sempre em alerta, não se tranquiliza, mesmo já tendo a primeira dose do imunizante. A sensação tira um pouco do prazer. O estado de alerta do corpo deve ser por um curto período de tempo (para fuga ou combate), estamos nesse alerta constante a mais de 1 ano, isso é péssimo para o corpo e psicológico.

E no outro dia, você acorda com medo, medo de ter saído de casa, de ter se colocado em risco. Assim como o câncer, quem já o enfrentou fica preso a uma paranóia de que qualquer anormalidade no corpo é câncer. É horrível viver assim. A pandemia nos trouxe o medo de sair de casa, de estar perto de pessoas, e isso vai se perdurar mesmo após todos estarem vacinados, pois é uma sequela, leva tempo para corrigir o dano.

Irei continuar meu trabalho, vigilante. Se cuide, fique bem. Vamos vencer isso tudo, vamos recomeçar.