Arlequina leva o empoderamento feminino às ruas de Gotham City
Cotação: ★★★½
Ela surgiu nas telas em 2016, no malfadado longa do Esquadrão Suicida. Mesmo assim, conseguiu ter carisma suficiente para de destacar no meio da mediocridade e emplacar uma produção que, se não é exatamente solo, pelo menos gira ao seu redor. E que, se traz uma história simples e básica, diverte também pelo humor e traz mensagens valiosas em suas entrelinhas.
A primeira já está lá indicada no título. Indica que garotas não precisam de apoios ou muletas para viverem suas vidas e serem felizes. Muito menos de qualquer homem por trás delas. No caso da protagonista, ela celebra sua libertação amorosa do Coringa. Após o rompimento com aquele que chamava de Pudinzinho, ela começa a tocar o terror em Gotham City provocando machos abusados e atos públicos explosivos que começam a demarcar o seu território de anti-heroína na cidade do Batman. E ainda faz novas amizades, formando um grupo feminino que, enquanto luta contra o crime, tenta superar barreiras sociais e emocionais que sinigificam o triste enraizamento do patriarcado vil em nossa sociedade.
Canário Negro é o alter-ego de Dinah Lance, uma grande cantora que se esconde diariamente no palco da boate dominada pelo gangster dessa história. Tudo o que a personagem de Jurnee Smolett-Bell quer é se livrar das terríveis amarras impostas por Roman Sionis (interpretado por Ewan McGregor), empresário da noite que usa a identidade do vilão Máscara Negra para complementar suas aparições públicas fora-da-lei. Ela não usa somente a voz como instrumento de batalha diária: Dinah é uma exímia lutadora e a primeira que busca se aliar a Harley Quinn (Margot Robbie) para recuperar um valioso diamante e, enfim, libertar-se das garras do terrível patrão. A policial Renee Montoya (Rosie Perez), por sua vez, vê nesta missão sua grande chance de conseguir uma promoção profissional e fazer seu chefe machista e preconceituoso. Por sua vez, a jovem Caçadora (Mary Elizabeth Winstead) desenvolve habilidades especiais no arco e flecha e cria uma nova identidade secreta, para assim como Bruce Wayne, libertar-se do trauma e de certa forma vingar o cruel assassinato de seus pais quando era criança. Juntas, as três criam o Aves de Rapina, grupo feminino do universo DC que agora ganha as telas de cinema depois de ter uma série de TV meio obscura lá no já longínquo ano de 1982.
A responsabilidade do filme foi entregue para tanto diretora (Cathy Yan) quanto roteirista (Christina Hodson) ainda sem currículos extensos ou renomados em Hollywood. Além de haver ninguém melhor do que duas mulheres para guiar uma trama como filigranas e características femininas em suas personagens principais, Hodson e Yan dão conta do recado com um filme ágil, colorido e bastante quadrinhesco. Narrando com humor peculiar a sua trajetória e também a das amigas, Arlequina frequentemente quebra a quarta parede para falar diretamente com o espectador e ainda “aparece” nas cenas de flashback. Tudo isso a torna mais próxima de tudo e todas, dando a ela um certo poder de controla ao qual nunca esteve acostumada antes – logo no início ela deixa claro que a função de um arlequim é servir aos outros, mas que a partir de agora tudo será diferente.
Somando-se ao cultuado longa do ex-namorado e com o seu puxando em definitivo o outrora sombrio universo DC para o lado das cores vivas, da diversão e de uma excelente trilha sonora pop (com altos vocais femininos e balançantes faixas antigas de soul), Arlequina decreta sua emancipação nas telas e em Gotham de modo contundente e pleno para que tenha vida longa nas telas. Dentro e fora das aventuras com o Esquadrão Suicida.
Aves de Rapina – Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa (Birds Of Prey And The Fantabulous Emancipation Of One Harley Quinn, EUA, 2020). Direção: Cathy Yan. Roteiro: Christina Hodson. Com Margot Robbie, Rosie Perez, Mary Elizabeth Winstead, Jurnee Smollett-Bell, Ella Jay Basco, Ewan Mc Gregor, Chris Messina, Ali Wong. Warner Bros. 109 minutos. Estreia nos cinemas brasileiros: 6 de fevereiro.