Cotação: ★★★½

Arnold Schwarzenegger disse, na lata, em O Exterminador do Futuro (1984), que estaria de volta. E volta a cumprir a promessa. Pela quinta vez em seis filmes da franquia, ele volta a encarnar o ciborgue T-800 modelo 101 nas telas. Desta vez com uma diferença: além de Schwarzenegger, também voltaram para a série sua colega de elenco nos dois primeiros filmes, Linda Hamilton e o criador do universo e seus personagens principais, o diretor, roteirista e produtor James Cameron.

Com Cameron se resumindo à produção e deixando a direção para Tim Miller (mais conhecido pelo primeiro filme de Deadpool e a série de animação Love, Death & Robots) e o roteiro para três outros profissionais da área,  O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio retoma a série tendo como principal objetivo recoloca-la nos eixos. A premissa é ser uma sequência do ponto onde ela parou após o segundo longa-metragem. Mas também serve como um mezzo reboot por apagar o que aconteceu nas três produções posteriores. O que significa que tanto T-101 (Schwarzenegger) quanto sua oponente humana Sarah Connor (Linda Hamilton) reaparecem nesta nova trama, mesmo sendo personagens secundários. A aventura se passa nos tempos atuais e por isso vemos os dois clássicos atores envelhecidos na tela. Arnold, que já passou dos 70 anos de idade, sustenta uma barba branca em contraste com os braços hipermusculosos. Linda é um pouco mais nova que o colega mas está lá, toda linda, poderosa, mesmo que sua Sarah ostente rugas no rosto e um cabelo entre o loiro e o grisalho. Os personagens de ambos sendo peças fundamentais no suporte às duas protagonistas desta nova história.

Daniella Ramos (a atriz colombiana Natalia Reyes) é uma jovem mexicana que, de uma hora para outra, se vê perseguida por um outro modelo de ciborgue, o Rev-9 (Gabriel Luna, capaz de se replicar em mais de um corpo e interagir com humor com os seres humanos. Com o corpo movido a uma espécie de líquido negro insaciável e que não deixa rastros por onde passa, esse Rev-9 é enviado para o tempo presente por um novo inimigo. Como a Skynet dos primeiros filmes não existe mais, agora quem quer eliminar a morena latina é a Legião, a grande destruidora e inimiga da humanidade em 2042.

É justamente deste ano que é enviada Grace (Mackenzie Davis), com a missão de cuidar de Dani e salvá-la da perseguição implacável da criatura que logo no início já começa matando seu pai e irmão. Com lookandrógino, preparada fisicamente pelas forças militares, extremamente hábil para atirar, Grace teve seu organismo “preparado” para enfrentar de igual a igual as máquinas vilãs. A missão da “super-humana” tem um propósito que vai se revelando ao longo das duas horas de projeção, ao longo das explicações do que é trazido de novo para o universo da franquia.

É nítida a mudança de foco quanto ao gênero na frnquia. Agora quem manda são as mulheres, tanto que se Grace é durona, Sarah, por sua vez, mostra-se ainda mais, já que quer acabar com os exterminadores justamente porque seu filho John Connor, líder da resistência, foi morto por um. Unindo passado, presente e futuros diferentes em uma só linha, a trinca feminina se une em prol da sobrevivência de Dani, que guarda segredos que, assim como o público, ela mesmo desconhece de início.

 

O que explica a presença “de luxo” de Arnold Schwarzenegger reservada apenas para a metade final do filme. Tudo bem que muitas vezes seu ex-ciborgue – já que a Skynet foi extinta, ele ressurge agora “quase transformado” em humano, com direito a sentimentos, nome (Carl), profissão, esposa, enteado e uma pacata casa numa cidade do interior do Texas – resume-se à função de alívio cômico de intervalos de calmaria na história. Entretanto, como o ator por algumas vezes mostrou-se também afeito à comédia (ao contrário do seu congênere Sylvester Stallone), tal detalhe até passa a ser um ganho ao roteiro, que também não compromete apesar de volta e meia escorregar rumo a algum clichê dos filmes de ação.

Sob as rédeas do criador de O Exterminador do Futuro, Schwarzenegger e Hamilton aceitaram o desafio de voltar às telas para fazer a passagem de bastão a uma nova geração. E o fizeram com perfeição em um filme que honra o bombástico início da franquia. Se vierem mais filmes como este Destino Sombrio, pelo menos nem tudo estará perdido nos filmes blockbuster de ação. E o que é mais curioso ainda é que nos cinemas podemos ver o ex-governador republicano do estado da Calfornia (e do mesmo partido conservador de Donald Trump) ajudando a proteger e salvar o mundo em 2019, começando com uma imigrante ilegal vinda do México.

O Exterminador do Futuro: Perigo Sombrio(Terminator: Dark Fate, EUA/China, 2019). Direção: Tim Miller. Roteiro: David S. Goyer, Justin Rhodes e Billy Ray. ComArnold Schwarzenegger, Linda Hamilton, Mackenzie Davis, Natalia Reyes, Diego Boneta, Gabriel Luna. Fox. 125 minutos. Estreia nos cinemas brasileiros: 31 de outubro.