Cinquenta anos sem Brian Jones, a força-motriz dos Rolling Stones

Publicado em 3 jul 2019, às 00h00.

Responda rápido quem você acha ser o principal nome dos Rolling Stones: Mick Jagger ou Keith Richards? Para muitos fãs dos primeiros anos da mais longeva banda de rock ainda em atividade, a resposta é clara e ainda aponta para uma terceira opção ausente na pergunta. Trata-se de Brian Jones o grande nome daquele grupo que conquistou o mundo com “(I Can’t Get No) Satisfaction” em maio de 1965 e desde então emplacou diversos hitsque ainda permanecem como grandes músicas do gênero.

O dia de hoje marca exatamente meio século sem Lewis Brian Hopkins Jones, guitarrista e aquele que era o grande nome dos Rolling Stones até o dia de junho de 1969, quando, após seguidos problemas com drogas, bipolaridade e detenções policias, deixara a banda que ajudou a formar. Nos primeiros minutos da madrugada do dia 3 de julho de 1969, os abusos químicos e etílicos cobraram seu preço derradeiro: o instrumentista foi encontrado já sem vida pela namorada, boiando na piscina de sua mansão ao sul da Inglaterra. Brian Jones entrava para a História como o primeiro grande músico de rock a morrer aos 27 anos de idade – o que logo depois iria acontecer com Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison (Doors), além de, mais tarde. Kurt Cobain (Nirvana) e Amy Winehouse.

Mick Jagger era o frontmanque chamava a atenção pelos frenéticos rebolados durante as performances. Keith Richards, o herói da guitarra, que construía riffscerteiros para grudar no cérebro já na primeira audição, além de carregar uma grande veia bluesy para contrabalançar seu lado mais irrequieto. Só que o verdadeiro astro dos Rolling Stones estava no outro canto do palco. Era Brian Jones quem chamava mais atenção sempre. Nas entrevistas, o integrante com mais bom humor. No visual, aquele que estava sempre vestido vestido de forma mais elegante. Na beleza, o que atraía mais gritos das fãs femininas. Na técnica, quem dominava o maior número de instrumentos: além dos tradicionais guitarra, baixo, piano e bateria, ele também chegou a tocar nas gravações dos discos da banda cítara, violoncelo, gaita e outros instrumentos de sopro.

Jones foi a mente supercriativa por trás de um dos períodos mais prolíficos da banda. Entre 1965 e 1968, gravou cinco álbuns, que compõem o ápice autoral de uma banda que se juntara para tocar covers de blues e r&b no início da década. De Out Of Our Heads(1965) saiu o primeiro grande sucesso, “(I Can’t Get No) Satisfaction”, De Aftermath(1966) vieram “Paint It Black” e “Lady Jane”. De Between The Buttons(1967), “Ruby Tuesday” e “Let’s Spend The Night Together”. No mesmo, ano, o psicodélico Their Satanic Majesties Requestnão alcançou tanto o topo das paradas de singles mas mesmo assim rendeu faixas poderosas como “She’s a Rainbow” e “2000 Light Years From Home”. Beggars Banquet(1968) deu ao mundo “Street Fighting Man” e “Sympathy For Devil”. Antes deste álbum, “Jumpin’ Jack Flash” já havia sido lançada somente em compacto. Durante as gravações de Let It Bleed(1969), o músico fora excluído devido ao comportamento errático nos bastidores, que já atrapalhava e muito os batidores das viagens, apresentações ao vivo e gravações do quinteto.

Por mais que a autoria das composições do repertório fossem divididas entre Jagger e Richards, era Brian quem dava a excelência musical aos arranjos. Ele não conseguia compor e, por isso, o empresário dos Stones, Andrew Logg Oldham, mirava o foco no vocalista, tornando Mick Jagger o nome de maior atenção externa na banda por causa de suas performances nos concertos.

Gradativamente, Brian foi desligando seus interesses musicais e se dedicando aos excessos pessoais. O jornalista inglês Paul Trynka, amigo pessoal de Jones e autor da biografia Sympathy For The Devil, conta que Brian enxergava no deus grego Pan a personificação do espírito rock’n’roll, o que explica a sua degradação física acelerada. “Ele se via em uma jornada de busca. Tinha grande interesse pelo oculto e pelo diabo, como manifesto no blues”. Menos de um depois após ter sua saída da banda anunciada, o fígado e o coração do músico não aguentaram mais tantas aventuras na companhia de drogas e álcool.

Sem a técnica e a liderança interna de Jones, os Rolling Stones se reformularam e passaram a ser, naquele início dos anos 1970, a banda a qual nos acostumamos a ver até hoje. Com uma pegada mais rock’n’roll, calcada nas levadas das guitarras, sempre com as atenções dividias entre Mick Jagger e Keith Richards. Brian se transformou apenas em ícone do tempo mais inventivo e musicalmente variado dos Stones.

P.S.: o dia 3 de julho também marca a passagem de outras duas importantes figuras do rock. Em 1971, Jim Morrison era encontrado morto na banheira de um hotel em Paris. Em 1999, logo após iniciar um show do Morphine na cidade italiana de Palestrina, o baixista e vocalista Mark Sadman sofreu um ataque do coração fulminante no palco.