Metrônomo é um dos aparelhos fundamentais para a música popular contemporânea. Afinal, desde que o rock’n’roll chamou a atenção para a extrema importância da pulsação da batida nas músicas – isso lá pelos meados dos anos 1950 – que a juventude nunca mais foi a mesma. Duzentos anos atrás ele já era um instrumento devidamente criado, patenteado e utilizado por compositores com Beethoven na criação de suas obras. O nome vem do idioma grego (metron = medida; nomos = padrão) e o aparelho regula com precisão o andamento rítmico de uma composição. Cada um de seus toques representa o tempo certo da batida. Por isso, instrumentistas sempre recorrem a ele para fins de estudo, criação ou mesmo a base para o registro sonoro de suas obras.
Metronomy (termo em inglês para a palavra metrônomo) é também o nome de uma banda inglesa fundada há exatos vinte anos mas que começou a chamar a atenção do cenário indie lá por meados dos anos 2000, com o lançamento de seus discos. De lá para cá, o projeto solo criado pelo guitarrista, vocalista, tecladista e produtor Joseph Mount se consolidou como um grupo e transformou-se em um dos nomes mais queridos dos fãs de música alternativa desta segunda década do século 21. Tudo porque Mount e sua turma conseguem aliar a linguagem do rock com grooves extremamente dançantes sem nunca perder a ternura e a fofurice.
Em setembro, o Metronomy lançou seu sexto álbum, batizado Metronomy Forever. Depois de percorrer diversas cidades do Reino Unido e do continente europeu durante os últimos meses, eis que o hoje quinteto está novamente na América do Sul para apresentar um misto do novo repertório com os grandes clássicos da carreira. No Brasil são quatro shows: a abertura foi em São Paulo, com ingressos esgotados no último sábado, e a segunda escala ocorre hoje à noite, em Curitiba. Na capital paranaense pela primeira vez, Mount mais Olugbenga Adelekan (baixo e vocais), Anna Prior (bateria e vocais), Oscar Cash (guitarra, teclados, saxofone e vocais) e Michael Lovett (teclados e guitarra) encabeçam na Ópera de Arame mais uma noite da Popload Gig – projeto que já trouxe a esse cartão-postal curitibano os concertos de Devendra Banhart, Phoenix e Franz Ferdinand. O show começa às 21h. Depois da apresentação, o local vira uma enorme pista de dança sob o comando dos DJs Olugbenga (sim, o mesmo baixista da banda) e Lovefoxxx (vocalista do reativado quarteto paulistano Cansei de Ser Sexy, também conhecido pela sigla CSS). Mais informações sobre o evento você encontra clicando aqui.
O batismo do projeto foi escolhido de modo quase aleatório pelo então adolescente de 17 anos de idade Joe Mount. Tudo porque o Metronomy sempre manteve um pezinho na música eletrônica. Mas não exatamente a música eletrônica de samples, programações e DJs que hoje arrastam multidões para grandes eventos e festivais em todo o mundo. Mas sim aquela “orgânica”, feita com equipamentos eletrônicos mas comandada por músicos ali na hora. A base deste vertente é o krautrock alemão da década de 1970, que consagrou formações como Kraftwerk, Neu! e Can através da equação batidas tão dançantes quanto hipnotizadoras e mais uma proposta de embarque do ouvinte em uma boa viagem de experimentações sonoras. Só que aqui, no caso desses ingleses, tudo se mistura com uma veia pop. Há ainda o acréscimo de melodias grudentas, nas letras curtas e ensolaradas e na extrema fofurice de seus videoclipes.
O trabalho que alçou o Metronomy à fama mundial foi o álbum The English Riviera, de 2011. Indicado naquele mesmo ano ao Mercury Prize (o prêmio anual dedicado ao melhor disco britânico), rendeu singles de sucesso como “The Bay” e “The Look”, hits que até hoje não podem faltar no repertório de qualquer show da banda – a segunda, inclusive, é tocada nos créditos finais de Os Amantes Passageiros (2013), longas-metragens do espanhol Pedro Almodóvar. O disco seguinte, Love Letters, rendeu parceria com outro famoso cineasta europeu. O francês Michel Gondry (que fez filmes cultuados como Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças e Rebobine, Por Favor) dirigiu o clipe da faixa-título, que também tornou-se peça suprema nas apresentações ao vivo do quinteto. Neste vídeo, a banda toca imóvel enquanto a câmera vai girando e encaixando diversos cenários de caprichadas ilustrações/pinturas manuais típicas de livros infantis que faziam a alegria dos leitores mirins nas décadas de 1950 e 1960. O clima bubblegum eletrônico destes dois discos reaparece no novo Metronomy Forever, especialmente em faixas como “Salted Caramel Ice Cream”, “Lately” e “Whitsand Bay”.
O show que o Metronomy apresentará hoje na Ópera de Arame é basicamente composto por faixas destes três álbuns. Metade do trabalho mais recente, a outra metade dividia entre os discos mais famosos. Há ainda espaço para faixas da segunda e da penúltima obra fonográfica – respectivamente os discos Nights Out (2008) e Summer 08 (2016). O último foi integralmente gravado, composto e elaborado por Mount, enquanto o outro representou a transição de projeto solo para um coletivo, com uma pequenas participação de Cash e o primeiro baixista do grupo, Gabriel Stebbing. Em comum ao repertório selecionado para a atual turnê, o fato das obras musicais proporcionarem um divertido e non-stop convite à dança. Para quem gosta de uma sessão de cerca de uma hora e meia de escapismo musical de excelente qualidade, o quinteto é uma das grandes opções no cenário atual da música independente.