Neil Jordan volta ao longa-metragem com Obsessão e sua stalker sexagenária

Publicado em 11 jun 2019, às 00h00.

Cotação: ★★★

Stalker é sempre uma figura que rende bons frutos no cinema. Volta e meia surge uma trama de alguém que persegue outro alguém de maneira obsessiva. Isso traz suspense e gera medo em quem assiste. Caso a história seja desenvolvida de maneira interessante e os personagens bem desenvolvidos, o filme ganha ares de um produto de entretenimento que pode ainda, posteriormente, suscitar questionamentos e dúvidas na cabeça de espectadores mais atentos.

Nesta quinta-feira chega mais um thriller nesses moldes ao circuito comercial brasileiro. O atrativo para o grande público é a atriz francesa Isabelle Huppert, que embora já tivesse reconhecimento na Europa só passou a ser nome badalado no mercado norte-americano dois anos atrás, quando disputou o Oscar de melhor atriz pela atuação no filme Elle. Para os mais jovens, a isca é a presença de Chloë Grace Moretz, uma das maiores revelações recentes de Hollywood, dividindo o protagonismo com Huppert. Contudo, quem gosta de cinema vai se interessar mesmo é pelo nome de Neil Jordan. Diretor de clássicas obras de terror ou suspense como A Companhia dos Lobos (1984), Traídos Pelo Desejo (1992) e Entrevista com o Vampiro (1994), o irlandês está volta ao formato de longa-metragem depois de se dedicar a criar, escrever e produzir séries como Os Bórgias e Riviera nesses últimos anos.

OK que Jordan está longe de ameaçar um aceno a seus grandes momentos no cinema, mas também faz correr deliciosamente a história que gira em torno da amizade entre uma jovem de vinte e poucos anos que vai tentar a vida na megalópole nova-iorquina baseada em valores éticos e morais e uma sexagenária solitária do Brooklyn que procura uma amiga da faixa etária da filha que não está mais com ela. Quando menos se espera, Neil apresenta reviravoltas na trama. A primeira é fazer com que Greta passe de adorável professora de piano oriunda do continente europeu a uma aterrorizante e incessante perseguidora, capaz de alternar momentos de barraco público a sutis manipulações emocionais a ponto de enlouquecer a jovem Frances e desestabilizá-la emocionalmente. Depois surgem outras que jogam o espectador numa montanha-russa, sempre junto com Frances, para que se tente encaixar indícios e suspeitas para entender o que de terrível pode estar por vir logo ali adiante. No meio disso há uma cena crucial em que não se sabe se o que ocorre é real, sonho, alucinação ou mera paranoia – cena esta surpreendentemente embalada pela psicodélica “The Strangers”, faixa lançada dez anos atrás por uma ainda não tão cultuada assim St Vincent.

Greta ainda protagoniza alguns finos momentos de humor. Um tanto negro, é bem verdade. Ela cospe chiclete no cabelo de Frances, recebe um detetive particular em sua casa (interpretado pelo ator Stephen Rea, parceiro de longa data dos filmes de Jordan) e ainda toca música erudita ao piano em um dos momentos de maior crueldade no seu relacionamento, já transmutado, com a garçonete que insiste em colocar no lugar da filha.

Todo rodado fora dos estúdios e utilizando como cenários ruas, apartamentos e locações públicas de Nova York, Obsessão chega como um ponto alternativo fora de curva de megaproduções e apostas blockbusters tão características neste mês de junho, que marca o início das grandes férias de verão para as bilheterias da indústria cinematográfica hollywoodiana. Para quem não curte ou já está cansado de ver tantos efeitos visuais e sonoros valendo mais do que uma simples história humana, este filme é grande pedida para os próximos dias.

Obsessão (Greta, Irlanda/EUA, 2019 – Galeria Distribuidora). Direção: Neil Jordan. Roteiro: Ray Wright e Neil Jordan. Com Isabelle Huppert, Chloë Grace Moretz, Maika Monroe, Stephen Rea. Paramount. 98 minutos. Estreia nos cinemas brasileiros: 13 de junho.