Cotação: ★★★

Exatamente pelo fato de amadurecer não ser uma coisa fácil que o processo da adolescência é algo tão marcante para quase todo mundo. Havendo, então, um processo drástico de ruptura durante este período de tempo, tudo se torna ainda mais traumático e sofrido. É exatamente isto o que acontece na vida de Theo Decker aos 13 anos, quando ele perde a mãe quando acontece um atentado terrorista enquanto os dois visitam a um museu de Nova York.

Este é o ponto de partida para o romance O Pintassilgo, escrito pela norte-americana Donna Tartt, publicado em 2013 e agraciado com o prêmio Pulitzer de ficção no ano seguinte. A história, um épico de 700 páginas, ganhou agora versão de duas horas e meia para o cinema com bons nomes no elenco (Ansel Elgort, Nicole Kidman, Jeffrey Wright, Luke Wilson, Finn Wolfhard), um diretor reconhecido (John Crowley, mais conhecido por ter sido indicado ao Oscar e outras grandes premiações pelo belo trabalho realizado em Brooklyn, de 2015), um dos maiores nomes da cinematografia norte-americana (Roger Deakins) e uma longa história que mais se parece um épico vivido por um rapaz entre sua adolescência e a vida adulta.

O Pintassilgopossui dois tempos na narrativa: passado e presente. O espectador acompanha ao mesmo tempo o desenrolar da vida de Theo quando garoto (interpretado por Oakes Fegley, com a segurança de um veterano sobretudo nas horas de mais emoção de seu papel) e já nos seus vinte e poucos anos (Ansel Elgort). Ao mesmo tempo, o espectador vai descobrindo detalhes que vão se cruzar e fechar mais tarde e acompanhando os perrengues vividos pelo protagonista, sobretudo nos anos posteriores à perda da mãe.

Aliás, é justamente quando Fegley aparece em cena que se constrói toda a base da história. Tartt desenvolveu seu personagem rumo às incertezas psicológicas de segurança e estabilidade emocional. Primeiro, Theo acha ter encontrado estes dois elementos junto a uma abastada família que fica na sua tutoria após o atentado. Paralelamente, descobre em um antiquário caminhos que parecem definir seu futuro: a garota que se torna sua primeira paixão e o interesse pela área de restauro de móveis antigos e a construção de suas réplicas para a venda.

Só que aí vem o primeiro baque: o pai, sumido faz anos e que nem pensão pagava, aparece do nada para requerer a sua guarda e levá-lo aos confins do deserto lá na outra costa norte-americana, nos arredores de Las Vegas. Em sua nova casa, o garoto educado, articulado, desenvolto e com gostos refinados passa a sofrer com ausos físicos e psicológicos do pai e os delírios de uma madrasta perua. Enquanto isso, passa à fase das descobertas e pequenas contravenções da adolescência junto a um novo amigo de origem russa (Finn Wolfhard, mais uma vez ampliando seu currículo cinematográfico depois da fama com a série Stranger Things).

Até que outro capricho do destino coloca o precoce Theo em xeque-mate e ele resolve fugir de volta a Nova York. É justamente nesta fase que se encaixam as informações que compõem a trajetória de Elgort em cena, quando do drama a trama passa a ganhar contornos de suspense e ação. E até que todos os elementos se juntem para que se possa compor o quebra-cabeças que define a vida de Theo o filme se arrasta por uma duração desnecessária, cansando um pouco o espectador, apesar da sempre bela fotografia assinada por Deakins.

Mas e o que teria a ver o tal pintassilgo do título? Este é o nome de uma obra do holandês Carel Fabritius, que viveu na primeira metade do século 17 e é considerado um dos grandes discípulos de Rembrandt. Ele morreu aos 32 anos de idade quando a explosão de um paiol de pólvora nos arredores destruiu todo o seu ateliê. Uma das únicas coisas não destruídas na ocasião foi exatamente esta pintura de mesmo nome, algo extremamente simples e básico. Na história escrita por Tartt, Theo e sua mãe estavam exatamente diante deste pequeno quadro quando ocorreu a explosão no Metropolitan Museum. Desde então, o garoto desenvolve uma tocante ligação sentimental com O Pintassilgo, enquanto aprende a caminhar junto a incertezas,  tentando lidar com o luto da norte da mãe e se ancorar em alguma figura adulta que lhe sirva de pai ou mãe. São justamente estes detalhes que garantem a beleza filme, mesmo com sua longa duração.

O Pintassilgo(The Goldfinch, EUA, 2019). Direção: Todd Phillips. Roteiro: Peter Straughan. Com Oakes Fegley, Ansel Elgort, Nicole Kidman, Jeffrey Wright, Luke Wilson, Sarah Paulson, Willa Fitzgerald, Aneurin Barnard, Finn Wolfhard, Ashleigh Cummings, Aimée Laurence. Warner. 149minutos. Estreia nos cinemas brasileiros: 10 de outubro.