Thom Yorke lança disco solo com curta-metragem perturbador na Netflix
Cotação: ★★★★
Thom Yorke sempre foi um artista “rage against the machine”. Desde a virada do século, quando sua banda, o Radiohead, rebelou-se contra as fórmulas e o jeito estabilishment de ser, que ele volta e meia entrega aos fãs trabalhos que procuram apontam por novos direcionamentos. Estilísticos, sonoros e comportamentais. Anima, o projeto lançado dias atrás em álbum e curta-metragem na Netflix, não é diferente deste postura.
Anima, o disco, é a quarta obra sonora da carreira solo de Thom Yorke. É composto por nove faixas baseadas em sintetizadores, programações eletrônicas e letras com poucos porém desconcertantes versos. Não pense, porém, que Yorke, rendeu-se às pistas de danças. A proposta aqui é justamente a experiência com timbragens e colagens e ver onde é que isso tudo pode nos levar. O nome do álbum vem da obra do psicanalista Carl Jung: anima é a representação feminina dentro de um ser masculino. Suas músicas questionam sonhos e realidade, distopia e normalidade, consciência e inconsciência. Crescem a cada audição. Poderiam ser, no entanto, mais um grande trabalho sonoro do vocalista do Radiohead. Só que some a tudo isso, agora, a Netflix.
Ah, a Netflix, poderosa empresa planetária de streaming audiovisual que vem se somar à multidisciplinaridade espantosa de Anima. Nesta época de dependência suprema da internet, todo artista deve lançar um disco bombardeando a rede com videoclipes (formais, lyric videos, fan videos), Yorke surpreende de novo e entrega um produto luxuoso distribuído com exclusidade pela Netflix. É um curta-metragem de quinze minutos de duração, protagonizado por Thom e sua namorada (a atriz italiana Dajana Roncione) com três faixas de seu novo disco como trilha sonora. Paul Thomas Anderson, amigo e parceiro de longa data, assina a direção.
Anima, o filme, não traz diálogos, somente música e dança. Aos cinquenta anos, sob as coreografias do belga Damien Jalet (que trabalhara nesta função no filme Suspiria: A Dança do Medo, lançado no ano passado e cuja trilha sonora foi criada também por Yorke), Yorke revela-se um bailarino de mão cheia. Com cenas rodadas em estações e vagões do metrô, mais externas na França (nos belíssimos cenários naturais da região de Les Baux-de-Provence, bem próxima ao Mediterrâneo) e na República Checa (explorando a iluminação natural do nascer do sol em Praga), o curta faz parte da estratégia da Netflix de oferecer novas possibilidades de conteúdo audiovisual ao público de todo o mundo. Desta vez apostando em opções alternativas ao senso comum das grande massas, como os nomes de Paul Thomas Anderson e Thom Yorke, mais a estética sofisticada do formato de videodança.
Thom Yorke está em uma fase bastante prolífica. Mal saiu de um disco e uma turnê do Radiohead e, neste último par de anos, se entregou de cabeça para fazer duas trilhas sonoras (Suspiriae um curta de moda para a marca Rag & Bone) mais o disco e o curta Anima. Sempre apontando por novas direções. Agora a curiosidade dos fãs fala mais alto. Portanto, resta perguntar se ele irá continuando a aprontar mais dessas coisas perturbadoras em breve.
Anima. Artista: Thom Yoke. Produção do álbum: Nigel Godrich. Faixas: “Traffic”, “Last I Heard (… He Was Circling The Drain)”, “Twist”, “Dawn Chorus”, “I Am a Very Ride Person”, “Dawn Chorus”, “The Axe”, “Impossible Knots” e “Runwayaway”. Tempo total: 47:44. Gravadora: XL Recordings. Direção do curta-metragem: Paul Thomas Anderson. Com Thom Yorke e Dajana Roncione. Coreografia: Damien Jalet. Trilha sonora: “Not The News”, “Traffic” e “Dawn Chorus”. Tempo total: 15:00. Distribuição: Netflix. . Lançamento de ambos: 27 de junho de 2019.