O Colapso das estradas do litoral do Paraná
Em 2022 choveu muito em Curitiba e no litoral paranaense. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), entre janeiro e outubro do ano passado já havia chovido 1.421,4 mm, valor maior do que o acumulado em 2020 (1.217,4 mm) e 2021 (1.175,2 mm). Foram registrados 133 dias de chuva na capital. Em 2023, os temporais continuam com uma frequência nunca vista.
Se por um lado o volume de águas foi positivo para encher os reservatórios da cidade em 100% e evitar o colapso do abastecimento, tão alarmado pelos ambientalistas, o excesso de chuvas acabou escancarando outro problema tão ruim quanto seca: a completa falta de eficiência administrativa na gestão da infraestrutura das estradas de acesso entre Curitiba e os litorais do Paraná e Santa Catarina.
Tudo começou em outubro de 2022. As fortes chuvas que castigaram a serra do mar paranaense ocasionaram desmoronamentos de terra que interditaram a rodovia BR-277 na altura do KM 42. Até aí tudo bem. Incidentes ocasionados pela natureza são relativamente comuns e não houve vítimas. O cidadão médio poderia pensar que em poucas semanas a via seria normalizada, principalmente considerando a proximidade da temporada de verão de 2022-23. Esta estação era muito aguardada pelos veranistas e pelos comerciantes do litoral. Afinal, após dois anos de pandemia, cheia de restrições, finalmente a pessoas poderiam acessar livremente as praias e o dinheiro voltaria a circular nos municípios litorâneos, tão dependentes do turismo.
Não foi bem o que aconteceu.
Um mês após o deslizamento de terra, a obra de reparo não havia sido nem iniciada. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e o Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER/PR) não conseguiam se entender. Ninguém queria assumir a responsabilidade pelo problema. A obra começou em dezembro e até agora não foi finalizada, com muitas restrições de tráfego no local. Filas quilométricas e restrição de tráfego de caminhões se fizeram presentes por todo o verão. A viagem Curitiba-Matinhos (110km) que normalmente é de 1 hora e 15 minutos passou a durar 4 horas.
O quadro foi agravado com novos deslizamentos que fecharam a estrada da Graciosa, no acesso à Morretes. Além disso, na última semana houve uma nova interdição total da BR-277 após um afundamento do asfalto no trecho próximo ao antigo pedágio.
Soma-se a isto o carcomido ferry-boat, que também produziu suas filas de mais de 4 horas na temporada, trazendo o pesadelo para todos aqueles que almejam um acesso rápido até Guaratuba. Há mais de 30 anos a ponte de Guaratuba continua sendo um sonho distante dos paranaenses.
Resultado disso tudo: prejuízos milionários e astronômicos para empresários, comerciantes e para o próprio turista. Viagens canceladas, hotéis e restaurantes vazios no litoral do Paraná. Transportadoras sofrendo com a dificuldade de escoamento das produções para o Porto de Paranaguá.
Alguns poderiam dizer que o problema na BR-277 foi a retirada do pedágio. Que se a concessão ainda estivesse vigendo o caos não teria sido instaurado. Ledo engano.
Primeiro, porque as concessões rodoviárias paranaenses do Anel de Integração só ficaram marcadas pelos valores exorbitantes das tarifas e pela corrupção desenfreada dos gestores públicos, o que propiciou a retirada de quase todas as obras de incremento da infraestrutura rodoviária por intermédio de aditivos contratuais comprados, conforme confessado pelas próprias concessionárias.
Em segundo lugar, porque no Estado de Santa Catarina, onde está ativa a concessão da BR-376 e BR-101, o problema não foi muito diferente.
Lá, no final de novembro de 2022, um grave deslizamento de terra vitimou motoristas e interditou a rodovia. Obras de reparo emergencial foram feitas pela concessionária e algumas semanas depois a rodovia foi liberada. Contudo, ao que parece, as intervenções de engenharia foram tão “confiáveis” que, diante das chuvas do fim de semana, a própria concessionária Arteris decidiu novamente fechar a rodovia na noite deste domingo por receio de novos desmoronamentos de terra. A confusão se instalou novamente. Filas quilométricas, desvios, ausência de previsão de liberação da estrada.
Isso sem se falar do trecho Navegantes- Itajaí, conhecido nos últimos 20 anos por suas filas quilométricas. Na gestão pública não se debate nenhum projeto sério de desafogamento do trânsito na região. Um contorno para os caminhões que almejam chegar no porto de Itajaí poderia ser uma solução.
Temos que ser realistas. A ineficiência administrativa dos nossos gestores é responsável pelo colapso da nossa infraestrutura rodoviária para as praias. Não falta de dinheiro, o que falta é respeito com a população. Também falta vergonha na cara de alguns dos nossos gestores públicos. A sensação é de completa indiferença dos governantes com este absurdo. Sabendo que não há solução fácil para problemas difíceis, chegou a hora da sociedade civil se mobilizar para buscar soluções efetivas para essas questões crônicas. Caso isto seja deixado apenas para os governantes, nos restará apenas o colapso.