ONGs, mostrem a cara!
Sou um ávido defensor das organizações não governamentais e do importante papel que elas desempenham na sociedade. Mas o que contesto de forma veemente é a falta de transparência quando falamos em lideranças de ONGs e seus ativismos.
Recentemente, fui surpreendido de maneira extraoficial por uma carta assinada por oito ONGs paranaenses contestando uma reportagem feita pelo Grupo RIC a respeito das obras de extensão da orla de Matinhos e da construção da ponte sobre a Baía de Guaratuba, no litoral do Paraná. O documento coloca em xeque a veracidade das informações jornalísticas, sugerindo tendência a interesses políticos em um ano de eleições.
Ao que me parece, o que incomoda é o fato de, pela primeira vez, uma rede de comunicação expressiva dar nomes às lideranças que encabeçam um movimento que retarda o andamento das obras.
Para quem não acompanhou o assunto, a Rede de Organizações Não Governamentais da Mata Atlântica (RMA), que é formada por nove ONGs do Paraná e outra série de instituições de outros estados, rebate as notas técnicas relacionadas às obras de alargamento da praia de Matinhos e de construção da ponte em Guaratuba. A contestação afirma que as melhorias não resolvem problemas indicados pelos pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) a partir de um estudo solicitado pelo Ministério Público.
O projeto indica que a obra do governo não soluciona a erosão no litoral, transferindo o problema para Pontal do Paraná, e ainda impacta de maneira irreversível a dinâmica da costa. Além disso, o movimento contesta a existência de licenciamento ambiental atualizado e específico para esta obra, que hoje passa de R$ 510 milhões previstos.
Ao contrário do que julgam as ONGs que assinam a carta, eu e o Grupo RIC respeitamos o trabalho sério feito por elas, importante para gerar equilíbrio do uso do meio ambiente em prol do cidadão. Mas, em sua maioria, as lideranças das ONGs precisam mostrar a cara, se manifestar e gerar opinião e não permanecerem escondidas por detrás de bandeiras e ações muitas vezes infundadas.
O Grupo RIC é um dos mais importantes do País e, enquanto grupo de comunicação, estamos abertos para dar voz a ambos os lados, cedendo nossos microfones para que possamos ter em nosso palco a discussão sadia, seja sobre um parque, uma ilha, um porto ou qualquer espaço que gere qualquer impacto ambiental. Somos a favor do equilíbrio, mas, sobretudo, somos a favor da transparência.
Queremos fomentar um espaço amplo para debate, mas para isso, queremos que as lideranças saiam da escuridão e mostrem quem são realmente os envolvidos nesses movimentos e que assumam seus posicionamentos.
Caso semelhante a este do litoral aconteceu também em 2020, quando ONGs causaram a suspensão da instalação de linhas de transmissão, em São Luiz do Purunã, no Paraná, sem manifestações claras sobre o real apelo. O mesmo ocorre em um trabalho obscuro em relação ao Porto de Pontal, à ponte de Guaratuba, ao alargamento da faixa da orla de Matinhos. Há atuações obscuras por trás de uma série de empreendimentos imobiliários, que geram embargos. E o que acontece? Quem é penalizado é o cidadão!
Enquanto obras são embargadas ou permanecem estagnadas por muito tempo e muitas vezes sem motivos claros, faltam debates em torno da construção de um novo porto no litoral paranaense, por exemplo, para desafogar o Terminal de Contêineres do Estado.
Quer outro exemplo? A Ilha do Mel, um dos principais destinos turísticos do País, tem tudo para assemelhar-se à Fernando de Noronha, uma ilha autossustentável e muito bem explorada economicamente. Mas no Paraná, a falta de infraestrutura, de saneamento básico e de leis claras para construir ou preservar comprometem o desenvolvimento local.
Mas esta não é uma visão única. Importantes autoridades, como o próprio governador Ratinho Junior, e deputados federais, como Ney Leprevost, por exemplo, também falam publicamente que muitas destas ações impede, o desenvolvimento da região.
Mais uma vez: não é sobre ser contra as ONGs. O que queremos é um palco de discussão mais aberto, mais transparente e democrático, com lideranças que não fiquem se escondendo em atitudes jurídicas e denúncias evasivas, para que o Ministério Público use de seu instrumento e poder para inibir qualquer desenvolvimento para o cidadão.
Nós não vamos nos calar. Os microfones da Jovem Pan e da RIC estão abertos. Mas para darmos voz, é preciso que essas lideranças apareçam e mostrem suas caras.