"Não foi só a Rosaira que morreu, eu e minha família também morremos", diz ex-policial em júri
A ex-policial civil Kátia das Graças Belo, que está sendo julgada por matar a copeira Rosaira Miranda da Silva, em 23 de dezembro de 2016, afirmou em interrogatório que assume e que fez o disparo em um ato de desespero. O júri popular começou na tarde desta quinta-feira (26), no Tribunal do Júri, em Curitiba. Assista ao vídeo mais abaixo.
“Houve um erro que, infelizmente, me define por completo hoje. Eu assumo esse erro. Sinto muito. Não foi só a Rosaira que morreu naquele dia, eu e minha família também morremos”,
disse a ex-policial.
Kátia, que começou a ser interrogada por volta das 17h, também explicou que não teve intenção de matar a copeira, que estava em uma confraternização com a equipe de trabalho, nos fundos de um lava a jato, ao lado da casa da ex-policial, e foi atingida na cabeça. Ela, que deixou um filho, morreu no hospital nove dias depois de ser baleada.
“Foi um ato de desespero. O meu quarto naquela noite virou uma caixa de som. As paredes vibravam, como por muitas vezes ocorreu naquele 2016. E, de fato, perdi o controle, em um ato de desespero, de pedir socorro. Eu dei um tiro para baixo. E é por isso que estou aqui hoje, infelizmente”,
afirmou a ré.
Kátia Belo, que foi demitida da Polícia Civil após o caso, é acusada de homicídio duplamente qualificado (por motivo fútil e impossibilidade de defesa da vítima). Com isso, a pena prevista, caso condenada, varia de 12 a 30 anos de prisão.
Nesta quinta, ao começar o júri, o corpo de jurados – com autorização judicial – foi até o local onde o crime aconteceu, no Centro Cívico. No procedimento, a intenção dos advogados de defesa era mostrar que a ex-policial não tinha a intenção de matar a vítia. Kátia optou por não acompanhar essa etapa do julgamento.
Antes do interrogatório de Kátia, três testemunhas foram ouvidas no julgamento. A expectativa era a de que o júri não terminasse nesta quinta e fosse retomado na sexta-feira (27).
“Temos vários sofrimentos”, diz viúvo
O marido da copeira Rosaira, que foi até o tribunal para acompanhar a sessão, conversou com a equipe da RICtv e afirmou que aguarda por justiça. Ele estava com a esposa no momento em que ela foi baleada.
“Temos vários sofrimentos, pela demora, pela Justiça, pela mulher estar solta ainda, sei que muitos vão dizer que foi uma fatalidade, mas isso não foi, isso foi um crime hediondo, atirar a ermo no meio de uma festa, no meio de todo mundo, ainda mais sendo uma policial. Isso aí para mim é abuso de autoridade, ela já era acostumada a fazer isso, atirava no meio de uma praça para tocar a piazada de lá, era acostumada já a querer assustar todo mundo”,
afirmou Francisco Feliciano Leite, viúvo de Rosaira.
O que dizem as defesas
Peter Amaro, que defende Kátia Belo, disse que está confiante na Justiça e que foi uma “surpresa agradável” o juiz ter autorizado o deslocamento dos jurados até o local dos fatos para que possam analisar melhor o que aconteceu.
“Esperamos que seja responsabilizada na medida da sua culpabilidade, nem mais nem menos. Estamos seremos, confiantes e esperamos realmente que seja feita Justiça. Seja qual for a decisão, não vamos trazer a dona Rosaira de volta, foi uma tragédia”, disse.
O advogado Edson Luiz Facchi Junior, que integra a banca que defende a família da vítima, afirmou que a expectativa é de que o júri ocorra dentro da normalidade, “expondo, diante dos jurados, o conjunto farto de provas que existem e que apontam que a ex-policial estava absolutamente consciente e, no mínimo, assumiu o risco de matar”.
“A dor da família será, temos convicção, amenizada por uma condenação pelo cruel e covarde crime praticado pela ex-policial civil”, afirmou.