K-pop: como cultura coreana diminuiu influência dos EUA no Brasil? Veja análise

Por que os brasileiros começaram a assistir doramas, ouvir k-pop e comer pratos típicos da Coreia do Sul? Entenda como o fenômeno causou a desamericanização do Brasil

Publicado em 13 ago 2024, às 15h32. Atualizado em: 14 ago 2024 às 15h47.

A Hallyu (onda sul-coreana) chegou com força no Brasil. Atualmente podemos encontrar a cultura coreana em diversos lugares do país, nas plataformas de streaming com os filmes, séries e músicas, e até nas ruas com restaurantes com comidas típicas da região. Anteriormente, era mais difícil ter acesso a essas produções e alimentos devido a forte influência dos Estados Unidos e Europa nos países da América do Sul.

A cultura coreana se destacou após o sucesso dos grupos de k-pop, como o fenômeno BTS (Foto: divulgação)

“Nós temos todo um contexto histórico que fez com que os Estados Unidos tivessem muita força no Brasil. Soma-se a isso também o fato do brasileiro ter uma baixa autoestima. A gente olha para os Estados Unidos, sempre foi assim, olhou para os Estados Unidos e achou que tudo lá era melhor. Então, aquela visão de que ir para os Estados Unidos era maravilhoso, viver nos Estados Unidos era maravilhoso, o sonho americano de que lá eu seria feliz estaria realizado”, diz Aline Mara Gumz Eberspacher, Doutora em Sociologia e coordenadora de cursos de pós-graduação na área de Negócios da UNINTER.

A socióloga reforça que os Estados Unidos utilizaram os soft powers para poder expandir a cultura. “Os Estados Unidos investiram bastante nos chamados soft powers, quer dizer, esse poder cultural do alimento, da música, da mídia. Então, os mais experientes, as pessoas com um pouco mais de idade, elas vão lembrar que nós consumíamos somente e quase que exclusivamente cultura americana na televisão, que era um dos poucos canais que nós tínhamos também de entretenimento”, explica a especialista.

Além disso, Aline Mara reforça que a forte influência estadunidense fazia com que os brasileiros acreditassem que o modelo de vida americano era o ideal.

A desilusão com os EUA

“Isso fazia com que nós olhássemos para o modelo de vida americana e disséssemos, puxa, lá é o certo, lá é o correto. Então, se eu não posso ir para lá, naquele mundo maravilhoso, eu vou tentar trazê-lo para cá. Além disso, a questão da alimentação também, os fast-foods, como o McDonald’s, o grande símbolo americano, os sucrilhos e toda uma leva de produtos trazidos para o Brasil como sendo a verdade. Aquilo é bom, aquilo me fortalece, aquilo é saudável, aquilo me faz feliz. E, claro, a gente não pode esquecer também as relações políticas e econômicas entre os dois grandes países, que sempre foi muito forte”.

Em seguida, a especialista explica como a globalização trouxe a cultura sul-coreana para o Brasil e outras partes do mundo.

“A globalização, ela trouxe uma nova realidade. Se antes nós podíamos somente observar e ver a cultura americana, nós quase não conhecíamos nada do outro lado, lá asiático, com a globalização, com a internet, a gente começa a ter a notícia em momento real. A partir desse ponto, a notícia chega e a gente sabe o que está acontecendo na Ásia, na Coreia, na China, na Rússia”.

Além disso, a especialista explica que, atualmente, os brasileiros passaram a ver problemas dos Estados Unidos, como os ataques em escolas, a economia, a política, entre outros fatores que fizeram com que se desmitificasse de que o estilo de vida americano era perfeito.

Por que os brasileiros estão assistindo doramas?

A socióloga também compara as obras americanas com os k-dramas e explica porque as pessoas passaram a consumir mais produções da Coreia do Sul.

“As pessoas estão realmente engajadas, seja pelo estilo, pela história, porque trazem um retrato de vida, trazem uma cultura diferente, eles são sutis, eles são suaves, eles são pouco violentos. Acho que isso também é uma coisa que afasta, que foi cansando no modelo americano, o cinema americano, sempre a violência, eles sempre são justiceiros, eles sempre são corretos. E esses doramas estão chegando mais sutis, eles são mais suaves, são mais leves”, explica.

K-pop no Brasil

Com a chegada da cultura sul-coreana no Brasil, já é possível notar algumas mudanças sutis. Como, por exemplo, restaurantes especializados em comida coreana, festivais voltados para a cultura asiática, shows de k-pop e fan meeting de atores sul-coreanos como o Sung Hoon e Seo In Guk.

“Uma vez que chega essa cultura aqui no Brasil, certamente ela vai se modificar. Bom, agora, qual grau de modificação? Aí vem essa reflexão. A gente não vai deixar de ter carnaval ou festa junina, ou o que for, por causa dessa cultura, mas certamente vai influenciar o local onde está inserido, aquele espaço micro onde está inserido, como, por exemplo, quando abre um restaurante, um local, ou estabelecimento”, explica a especialista.

“Com a diplomacia da Coreia do Sul, que pode trazer algumas festas e alguns eventos que são típicos lá naquela região, trazê-los aqui para a nossa cidade, que também é uma oportunidade de conhecimento. Isso já acontece muito com os japoneses. Isso pode acontecer com a Coreia do Sul? Certamente que pode. Mas aí depende mais do interesse deles em vir e investir no nosso país do que de nós irmos lá aleatoriamente. Existe uma relação política também de trazer essa cultura para o país da América Latina”, completa Aline.

A desamericanização já é uma realidade e, conforme a especialista, parte deste acontecimento se dá devido à globalização e a forte onda Hallyu.

“Aí, pensando um pouco na questão dessa influência da Ásia, dessa desamericanização, e poderíamos brincar, então, com uma palavra chamada uma asiatização da América do Sul, América Latina sendo influenciada pelos hábitos asiáticos” brincou a especialista.

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