Andrea Caldas (PSOL) defende linguagem neutra e método de educação Paulo Freire

Candidata do PSOL à Prefeitura de Curitiba declarou que é preciso reordenar as prioridades do orçamento e trabalhar com planejamento

por Guilherme Becker
com informações da rádio Jovem Pan News
Publicado em 11 set 2024, às 11h08.
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A candidata à Prefeitura de Curitiba Andrea Caldas (PSOL) declarou que a questão da linguagem neutra é um “falso debate” e garante que irá permitir caso seja aprovada. A professora ainda reforçou que discussões semelhantes já foram realizadas em universidades e o resultado faz parte do cotidiano sem alterar a vida das pessoas.

Andrea Caldas (PSOL) foi a terceira candidata a participar da sabatina da Jovem Pan News
Andrea Caldas (PSOL) foi a terceira candidata a participar da sabatina da Jovem Pan News (Foto: Isadora Mendes/ RIC.com.br)

“Eu acho um falso debate. O que a linguagem neutra reivindicada por setores, especialmente pela comunidade LBTQIA+, é que eles se vejam nesta linguagem. É a mesma questão que nós dentro da universidade passamos, que não se cite uma autora como autor. Esse foi um debate que tivemos que fazer dentro da universidade, porque a gente citava, por exemplo, Andrea Calda e dizia o autor, isso foi uma reivindicação das mulheres na ciência, dizendo que tem mulher aqui, não só homem escrevendo. É a mesma reivindicação que a comunidade LGBTQIA+ faz, que se use a linguagem neutra, para que se sintam incorporados. Eu não acho que isso mácula a língua portuguesa, o que mácula a língua é o estrangeirismo que usamos e ninguém acha ruim. Não há nenhum problema se a gente passar a usar. Então me passa uma falsa polêmica das pessoas que acham que isso é um atendado a língua portuguesa. Nós temos outras coisas mais graves para tratar”, explicou Andrea.

Para Andrea, a discussão ganhou uma repercussão muito grande e não altera a rotina da sociedade. A candidata foi questionada na sabatina da Jovem Pan News sobre a postura diante da linguagem neutra, que chegou a ser alvo de polêmica com um candidato do mesmo partido em São Paulo.

“A linguagem neutra é uma possibilidade, inclusive o STF já atuou nessa direção que é possível. Acho que não faz sentido a gente proibir o uso da linguagem neutra. Nós vamos permitir, para mim o foco está menos na linguagem e mais na realidade. Acho que a sociedade está gerando uma polêmica muito grande numa questão que não altera vidas. O que muda para você falar todes em vez de todos e todas, não altera. Estamos mais preocupados que as pessoas aprendam”, completou a candidata.

Andrea Caldas se filiou ao PSOL em 2018 e nestas eleições tem Letícia Faria como candidata a vice
Andrea Caldas se filiou ao PSOL em 2018 e nestas eleições tem Letícia Faria como candidata a vice (Foto: Reprodução/ Instagram)

Método Paulo Freire na educação

Andrea Caldas também respondeu a perguntas sobre o método de educação de Paulo Freire, que faz parte do plano para educação e é constantemente atacado por conservadores. 

“A gente defende o que a constituição estabelece, que é pluralidade de ideias. A gente faz referência ao Paulo Freire, porque o partido tem uma construção numa determinada área, mas eu acho interessante até desmitificar um pouco isso. Eu não sei se as pessoas que falam do Paulo Freire de fato leram. O que Paulo Freire estabeleceu foi basicamente um método de alfabetização onde ele dizia que para alfabetizar era preciso partir da realidade daquele estudante. Ou seja, ele ficou muito conhecido por alfabetizar adultos, então ele pegava os adultos operários da construção civil e a primeira palavra que eles aprendiam era o tijolo. Isso era o método do Paulo Freire, não sei o que as pessoas acham tão assustador. É um método que inclusive foi incorporado dentro da ditadura militar, porque ele funcionava, eles conseguiram em 40 dias alfabetizar no Rio Grande do Norte. Uma experiência muito bem sucedida. Agora, essa é a linha que estamos defendendo”, comentou Andrea.

Sobre uma possível educação voltada mais para a esquerda nas escolas, Andrea descartou a possibilidade. “Eu sou uma pessoa de esquerda, meu partido é de esquerda, mas nós vamos fazer, como sempre fizemos. Eu fui diretora do setor de educação da UFPR, por oito anos, por duas gestões. Tínhamos lá na universidade pessoas com visões muito plurais e você não vai encontrar ninguém dizendo que durante minha gestão eu priorizei só A ou B, não é assim”, completou.

“Não vamos gastar R$ 4 milhões em um tubo de ônibus”

A candidata à Prefeitura de Curitiba Andrea Caldas (PSOL) destacou que é preciso reordenar as prioridades para distribuir o orçamento da capital. A representante da esquerda reforçou que o trabalho com base no planejamento, com análise especialistas, garante um orçamento mais efetivo.

“Tem um inchaço da máquina pública, mas não é nos funcionários públicos de carreira e sim nos cargos comissionados. Isso é uma questão que a prefeitura pode reduzir. O gasto de pessoal fixo, aposentadorias, é um gasto que está incorporado. Nós vamos fazer um foco nas áreas sociais. Por exemplo, a minha gestão não vai gastar R$ 4 milhões em um tubo, como foi feito pela gestão atual”, declarou Andrea Caldas em sabatina na rádio Jovem Pan News.

Andrea Caldas defende uma reordenação nas prioridades para o orçamento
Andrea Caldas defende uma reordenação nas prioridades para o orçamento (Foto: Isadora Mendes/ RIC.com.br)

Durante a participação na série de entrevistas do Jornal da Manhã, na manhã desta quarta-feira (11), Andrea Caldas garantiu que as propostas do plano de governo estão dentro do orçamento. A candidata reforçou que a valorização dos servidores está entre as prioridades.

“A gente tem trabalhado em cima do orçamento. Eu como professora da área de políticas públicas não poderia fazer de outra forma. Nós não estamos batendo no teto, no chamado limite prudencial, ou seja, a gente tem espaço para gastos com servidor público, por exemplo […] não adianta falar em ampliação dos serviços públicos se a gente não valorizar os profissionais que estão na ponta atuando. E isso está dentro das possibilidades dos nossos recursos. É uma questão de reordenar prioridades. Volto a dizer, é o maior orçamento do estado, temos R$ 14 bilhões, e aí há gargalos que outras cidades com menores orçamentos já resolveram”, completou.

Andrea Caldas quer passe livre para estudantes

Entre as prioridades para o orçamento da gestão de Andrea Caldas, a candidata destacou que pretende implantar a tarifa livre para estudantes. O projeto prevê duas passagens por dia para alunos da educação básica pública e privada.

“Estamos nos comprometendo a implementar o passe livre estudantil já no primeiro ano. Nós fizemos a conta, são 280 mil estudantes da educação básica pública e privada. Considerando que todos possam usar, isso dá em torno de R$ 680 milhões, se formos pagar duas passagens por dia, como Fortaleza já faz. Isso é menos de 1% do orçamento, dos R$ 14 bilhões, e veja, hoje as famílias estão gastando de 15 a 20% do seu orçamento com transporte. Então é possível, sim, reordenando, gastando menos em publicidade e propaganda talvez, ou usando aquela publicidade de fato necessária, reordenar estes gastos”, comentou Andrea.

Desmilitarização da Guarda Municipal

No plano de governo, Andrea Caldas também menciona a desmilitarização da Guarda Municipal. Para a candidata, os órgãos de segurança precisam atuar mais na prevenção da criminalidade, do que na atuação de combate contra o inimigo.

“A Guarda Municipal não é militar. Essa expressão desmilitarizar é porque existe uma concepção que atinge tanto a PMPR, quanto a PCPR, quanto a Guarda Municipal, que é a lógica que vem do exército, do combate ao inimigo. A gente entende que a polícia tem que atuar no sentido da prevenção, da promoção da segurança, e não do combate ao inimigo. O combate ao inimigo é para ser usado na guerra. A lógica é que o conceito da militarização não é um bom conceito, não se aplica quando se pensa em uma polícia preventiva e comunitária”, explicou Andrea.

Andrea Caldas cita que é preciso usar mais a inteligência na atuação das forças de segurança
Andrea Caldas cita que é preciso usar mais a inteligência na atuação das forças de segurança (Foto: Pedro Ribas/SMCS)

A candidata ainda reforçou que desmilitarização não significa tirar a arma dos agentes. “A gente tem uma coisa que está faltando, que é a questão da inteligência. Por isso que falamos da questão das câmeras, de ter mais efetivo, de ter patrulhamento. Uma coisa que a guarda reivindica é a volta da patrulha, que fazia o acompanhamento da linha de transporte, que inclusive tem muitos furtos. Quando falamos em desmilitarizar, não é que vamos tirar a arma, a gente tá dizendo que vamos atuar especialmente na prevenção. É o que o policial quer, que a gente previna, que estabeleça uma lógica de inteligência na segurança e não que precise sair correndo com cassetete o tempo todo atrás de bandido”, concluiu.

Descriminalização das drogas

Outro ponto questionado sobre a candidatura de Andrea Caldas é a descriminalização das drogas. A candidata é a favor da separação entre o usuário e o traficante. “A prefeitura não vai lidar com a liberação do tráfico de drogas, não faz parte da nossa questão. O que nosso partido defende é que temos que separar o que é traficante e o que é usuário, e a descriminalização do uso de drogas”, defendeu a candidata.

Andrea ainda esclareceu que o combate ao tráfico de drogas depende de uma atuação com outras autoridades. 

“Quando a gente fala em descriminalizar, o que estamos falando, é que essa guerra das drogas que, na verdade, tem sido muito mais a guerra ao pequeno usuário que ao traficante, não está funcionando. Mas isso de fato não é de escopo da prefeitura, nós infelizmente não temos as condições de combater o grande tráfico, a gente deveria, essa é uma ação que exige ação com a Polícia Federal e com o governo estadual”, concluiu a candidata.

Confira a entrevista completa com Andrea Caldas:

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