Ao dizer que Brasil voltou, Lula defende governança global climática e afirma que será "cobrador"

Publicado em 16 nov 2022, às 14h28. Atualizado às 14h30.

SHARM EL-SHEIKH, Egito (Reuters) – Em seu primeiro discurso em um fórum internacional após a vitória nas urnas, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira que o Brasil voltou, defendeu uma governança global para tratar do clima e destacou que no seu futuro governo vai adotar uma postura mais cobradora dos países ricos para enfrentar questões do aquecimento no mundo.

“Se tem uma coisa que nós precisamos de uma governança global é a questão climática. Nós temos que ter um fórum multilateral que decida com poder de decisão definitiva para que seja aplicado, porque senão o tempo passa, a gente morre e as coisas não são cumpridas neste mundo”, disse Lula, em discurso na COP27, evento das Nações Unidas para o clima realizado no Egito.

No pronunciamento, o petista cobrou uma maior ação e participação de nações ricas para minimizar problemas decorrentes do aquecimento global. Ele lembrou que, em 2009, países presentes à COP15 em Copenhague comprometeram-se em mobilizar 100 bilhões de dólares por ano, a partir de 2020, para ajudar os países menos desenvolvidos a enfrentarem a mudança climática. Mas, destacou, a promessa ainda não foi cumprida.

“É preciso tornar disponíveis recursos para que os países em desenvolvimento, em especial os mais pobres, possam enfrentar as consequências de um problema criado em grande medida pelos países mais ricos, mas que atinge de maneira desproporcional os mais vulneráveis”, ressaltou ele.

Lula disse que será o “Lula cobrador” a partir de 2023 e que falava em nome do povo brasileiro.

“Eu não voltei para fazer o mesmo que eu já tinha feito, voltei para fazer mais e por isso esperem um Lula muito mais cobrador para que a gente possa fazer um mundo efetivamente mais justo e um mundo humanamente melhor para todos nós”, ressaltou.

Para Lula, a emergência climática afeta a todos, embora os efeitos recaiam com maior intensidade sobre os mais vulneráveis e que a luta contra o aquecimento global é “indissociável” daquela travada “contra a pobreza e por um mundo menos desigual e mais justo”.

O presidente eleito afirmou que o país vai oferecer o Brasil para sediar a COP30, em 2025, e espera que o evento ocorra em uma cidade da região amazônica.

AMAZÔNIA PROTEGIDA

No discurso, o presidente eleito afirmou que “não há segurança climática para o mundo sem uma Amazônia protegida”. O petista aproveitou a oportunidade para anunciar medidas do seu governo. Segundo ele, sua gestão não vai medir esforços para zerar o desmatamento e a degradação de nossos biomas até 2030.

Lula anunciou que “o combate à mudança climática terá o mais alto perfil na estrutura do meu governo”. Pouco antes, ele disse em encontro com governadores da região amazônica que iria criar o cargo de Autoridade Nacional do Clima. A instituição do cargo havia sido antecipada em reportagem da Reuters da semana passada.

Em um aceno ao agronegócio, importante setor econômico e que majoritariamente apoiou o presidente derrotado nas urnas Jair Bolsonaro, o petista afirmou estar certo do papel do agronegócio como aliado do futuro governo.

“A produção agrícola sem equilíbrio ambiental deve ser considerada uma ação do passado. A meta que vamos perseguir é a da produção com equilíbrio, sequestrando carbono, protegendo a nossa imensa biodiversidade, buscando a regeneração do solo em todos os nossos biomas, e o aumento de renda para os agricultores e pecuaristas”, disse.

“Estou certo de que o agronegócio brasileiro será um aliado estratégico do nosso governo na busca por uma agricultura regenerativa e sustentável, com investimento em ciência, tecnologia e educação no campo, valorizando os conhecimentos dos povos originários e comunidades locais. No Brasil há vários exemplos exitosos de agroflorestas”, reforçou.

O presidente eleito disse que a luta contra o desmatamento será prioridade em todos os biomas e que a “devastação ficará no passado”. Segundo ele, os crimes ambientais, que cresceram de “forma assustadora” no atual governo, “serão agora combatidos sem trégua”.

A gestão Bolsonaro afrouxou a fiscalização sobre a Amazônia e isso levou a um aumento de desmatamento e queimadas nos últimos anos, segundo dados oficiais e entidades que monitoram o assunto.

“Vamos fortalecer os órgão de fiscalização e os sistemas de monitoramento, que foram desmantelados nos últimos quatro anos”, disse.

“Vamos punir com todo o rigor os responsáveis por qualquer atividade ilegal, seja garimpo, mineração, extração de madeira ou ocupação agropecuária indevida”, emendou.

(Reportagem de Jake Spring, William James e Gloria Dickie, em Sharm el-Sheikh, Egito; Reportagem adicional e texto de Ricardo Brito, em Brasília)

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