Apesar de diplomação, bolsonaristas no Alvorada ainda acreditam que Lula não tomará posse

por Reuters
Por Victor Borges
Publicado em 12 dez 2022, às 22h05. Atualizado em: 13 dez 2022 às 09h19.

Reunidos em frente ao Palácio da Alvorada, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro inconformados com a derrota do candidato à reeleição ainda alimentam a expectativa de que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva não tomará posse em 1º de janeiro, a despeito de sua diplomação nesta segunda-feira (12) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A diplomação de um presidente eleito é a última etapa formal depois das eleições e antes da posse. No entanto, para bolsonaristas que questionam os resultados das urnas, e que protestam em frente a quartéis generais na esperança de que haja o que chamam de “intervenção federal” – o que seria um golpe militar, já que não há previsão legal para isso –, ainda há chance de reversão do resultado das eleições presidenciais.

“Posse não vai ter. Lula não vai ser empossado. Lula vai ser preso com sua corja de ladrões. Ele vai ser preso”, disse o pastor evangélico Cleber Palaui, do Tocantins, que se juntou a um grupo de apoiadores de Bolsonaro em frente à residência oficial do presidente na tarde desta segunda.

Bolsonaro, que nunca reconheceu explicitamente a derrota para Lula, apesar de ter autorizado seu governo a realizar a transição, manteve-se praticamente recluso e em silêncio por mais de um mês após as eleições. Na última sexta-feira (9), porém, disse em sua primeira aparição a apoiadores após um longo período que o Brasil está numa “encruzilhada”, e que são eles, os bolsonaristas, quem decidem para onde vão as Forças Armadas, instando-os a “fazer a coisa certa”.

Ainda que cifrada, a fala de Bolsonaro alimentou temores de que pudesse estimular apoiadores a agir para impedir a diplomação de Lula nesta segunda, a exemplo do ocorrido com apoiadores do então presidente dos Estados Unidos Donald Trump no Capitólio, em janeiro de 2021, após a derrota.

Manifestações

Realizada sob intenso esquema de segurança, a diplomação transcorreu sem problemas. Na noite desta segunda-feira (13), no entanto, bolsonaristas tentaram invadir a sede da Polícia Federal em Brasília após a ordem de prisão contra um indígena ligado ao grupo e houve confronto.

Horas antes, Bolsonaro havia aparecido nesta segunda em frente ao Alvorada, onde os apoiadores se encontravam, e posou para fotos com crianças, mas não fez declaração, assim como no dia anterior. O presidente acompanhou uma reza em que o orador afirmou que os “militares precisam ter inteligência e não prestar continência a um bandido”, em referência a Lula. Os apoiadores responderam com gritos de: “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão”.

Alguns cartazes empunhados pelos manifestantes pediam ajuda das Forças Armadas para evitar a posse de Lula.

Logo após o resultado eleitoral, o silêncio de Bolsonaro foi interpretado por alguns apoiadores como parte do processo que supostamente permitiria uma chamada “intervenção federal” com base no artigo 142 da Constituição.

O dispositivo constitucional afirma que as Forças Armadas estão “sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) já julgou, em diferentes casos, que o artigo não confere aos militares a prerrogativa de atuar como espécie de “poder moderador” para restaurar a ordem.

A desinformação propagada principalmente via redes sociais e a pulverização de teorias da conspiração também servem de combustível a muitos dos apoiadores, que enfrentam sol e chuva à espera de uma reversão do resultado eleitoral.

“Não vai ter posse. Ele (Lula) já foi diplomado, mas empossado não… Bolsonaro foi eleito, só que foi roubado. E isso aí só o Exército para botar ordem, botar o Alexandre de Moraes na cadeia. São todos da mesma quadrilha, tem muita gente aí para ser preso”, disse José Trindade, um marceneiro de 58 anos, de Brasília.

Indicado por Lula para ser o futuro ministro da Defesa, José Múcio, disse na sexta-feira, que, com a aparição aos apoiadores naquele dia Bolsonaro havia colocado “a digital” no estímulo aos atos antidemocráticos e vai “deixar a gente pensar”.

(Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello; Edição de Pedro Fonseca e Flávia Marreiro)