Após o Brasil ultrapassar a marca de 100 mil óbitos por covid-19, o presidente Jair Bolsonaro afirmou neste domingo (9) que lamenta cada morte, “seja qual for a sua causa”, e apontou o isolamento social como possível causa de outras mortes no País, na contramão do que dizem médicos, cientistas e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
As declarações foram dadas pelo presidente da República em publicação no Facebook neste domingo (9), após um dia sem fazer referências diretas às 100 mil mortes pelo novo coronavírus no território nacional. “Lamentamos cada morte, seja qual for a sua causa, como a dos 3 bravos policiais militares executados em São Paulo”, afirmou Bolsonaro.
O presidente da República fez referência ao caso de um sargento e dois soldados da Polícia Militar mortos durante uma troca de tiros na região do Butantã, na zona oeste de São Paulo, na manhã de ontem (8).
O Brasil registrou 100.667 mortes causadas em consequência da pandemia do novo coronavírus, de acordo com dados do consórcio de imprensa formado por Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha e UOL. O total de pessoas que têm ou já tiveram a doença no País chega a 3.018.286.
Para justificar o argumento contra o isolamento, Bolsonaro compartilhou um artigo publicado no portal do jornal britânico Daily Mail. “Conclui-se que o lockdown matou 2 pessoas para cada 3 de covid no Reino Unido. No Brasil, mesmo ainda sem dados oficiais, os números não seriam muito diferentes”, escreveu.
O número citado no artigo compartilhado por Bolsonaro, porém, diz respeito apenas ao período de 23 de março a 1º de maio e faz relação às mortes por causas diversas após pessoas não irem ao pronto socorro. Em ocasiões anteriores, Bolsonaro havia falado que os efeitos da quarentena e a crise econômica matariam pessoas, e não apenas o vírus.
O comentário de Bolsonaro vai na contramão de especialistas e autoridades sanitárias. Como mostrou o Estadão no sábado (8), duas a cada três cidades brasileiras já perderam alguém para a covid-19. Pesquisas recentes mostraram, inclusive, que o número de mortes seria muito maior se não houvesse isolamento social.
Conforme pesquisa da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), o isolamento social, mesmo abaixo dos níveis desejáveis pelas autoridades sanitárias, poupou 118 mil vidas e evitou que 9,8 milhões de pessoas fossem contaminadas por covid-19 apenas em maio deste ano, conforme mostrou o Estadão.
Médicos e cientistas afirmam que, para conter o avanço da doença, é preciso que as ações tenham como base um tripé: identificação e monitoramento precoce dos casos; etiqueta respiratória e cuidados pessoais; isolamento social, ou até lockdown, principalmente nos locais com alta transmissão.
“Quanto à pandemia, não faltaram recursos, equipamentos e medicamentos para estados e municípios. Não se tem notícias, ou seriam raras, de filas em hospitais por falta de leitos UTIs ou respiradores”, escreveu Bolsonaro.