Autogolpe de Bolsonaro em marcha
Exemplos de autogolpes na História não faltam ao ocupante do principal gabinete do Palácio do Planalto professores. Adolf Hitler era primeiro-ministro num cambalacho de partidos na República de Weimar quando mandou pôr fogo no Reichstag (parlamento alemão). E se aproveitou da senectude do presidente Paul von Hindenburg para se tornar o Führer (condutor, em português).
Com a condescendência do rei Vittorio Emanuele II, o fascista Benito Mussolini usou pobreza e mágoa da Itália, abandonada pelos aliados ricos que venceram a Grande Guerra, para tomar o poder como duce (guia, em português). Deu na Segunda Guerra Mundial. No Brasil, Getúlio Vargas seguiu seus passos e trocou a presidência constitucional pela chefia da ditadura do Estado Novo, em 1937.
Ignorante em praticamente tudo, o presidente Jair Bolsonaro, investido do maior poder republicano com uma votação com mais de 57,7 milhões de votos no segundo turno, deu a dica que faltava para a marcha que Jânio Quadros tentou encetar em 1961 e malogrou. No meio da maior crise sanitária da História, na perspectiva de uma recessão econômica que superará até o craque da Bolsa de Nova York em 1929 e em plena crise política provocada por ele mesmo com o afastamento de Mandetta e Moro do Ministério, ele confessou que levou o País à iminência de um caos institucional.
Proibido de trocar o diretor-geral da Polícia Federal, órgão do Estado, e não do governo, muito menos da assessoria pessoal do presidente, para o compincha de seus filhotes malandros, Sua Insolência, em pleno isolamento, insultou o ministro do Supremo Tribunal Federal que interrompeu sua tentativa de intervir na polícia judiciária para blindar o clã. Acusou Alexandre de Moraes de ter dado uma “canetada” de natureza política violando a Constituição, que, dias antes, declarou que encarnava.
Ingredientes para o autogolpe não faltam. Militares juram amor à Constituição, mas fazem vista grossa para seus crimes, como a adesão ao comício pedindo “intervenção militar com Bolsonaro já” no Dia do Exército (19 de abril), à frente do QG do Exército. A quebra de hierarquia, violando a Constituição, foi praticamente autorizada pela Força. Enquanto acusava o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, de dar golpe e a pandemia da covid-19 planta cadáveres pelo país inteiro, ele começou a comprar à luz do dia próceres do Centrão, com dois objetivos.
Um é evitar que com três quintos dos votos em plenário seja votado um dos mais de 30 processos de impeachment na Casa. Tudo indica que conseguirá. O outro, livrar-se e blindar seus três filhos mais velhos, 01, 02 e 03, o trio nota zero, de incriminação na CPMI das fake news e em processos instaurados pelo STF para investigar o “gabinete do ódio”. Por enquanto, não parece fácil. Será?