Bolsonaro ensaia discurso em defesa do teto de gastos após reunião com Maia, Alcolumbre e Guedes

Publicado em 12 ago 2020, às 20h23. Atualizado em: 8 maio 2022 às 16h55.

Por Ricardo Brito e Maria Carolina Marcello

BRASÍLIA (Reuters) – O presidente Jair Bolsonaro ensaiou nesta quarta-feira um discurso alinhado com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-RJ), em defesa da manutenção do teto de gastos e da responsabilidade fiscal, após reunião que reuniu os três, além de ministros em meio às incertezas da equipe econômica de tocar a agenda de reformas.

“Nós, em que pese o problema da pandemia, o Brasil está indo bem, a economia está reagindo e nós aqui –pelo menos, com essa reunião– queremos direcionar as nossas forças para o bem comum daquilo que todos nós defendemos: queremos o progresso, o desenvolvimento e o bem-estar do nosso povo”, disse Bolsonaro, em entrevista após o encontro no Palácio da Alvorada.

“Nós respeitamos o teto dos gastos, queremos a responsabilidade fiscal e o Brasil tem como realmente ser um daqueles países que melhor reagirá à questão da crise”, destacou.

Na véspera, o próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu ter havido uma “debandada” de sua equipe econômica, com os pedidos de as demissão de Sallim Mattar (Desestatização) e Paulo Uebel (Desburocratização). Os secretários deixaram os cargos insatisfeitos com o andamento das privatizações e da reforma administrativa.

O movimento ocorre diante de pressões de parlamentares e de integrantes do próprio governo de buscar uma flexibilização dos gastos públicos para realizar investimentos sem eventuais cortes na máquina federal.

Guedes chegou a dizer na terça-feira que uma tentativa de “furar” o teto de gastos para aumentar despesas públicas poderia aproximar o presidente da “zona de impeachment”.

Nesta quarta, o dólar fechou em alta ante o real, afetado por incertezas sobre a capacidade de a equipe econômica tocar pautas reformistas. Guedes, que participou da reunião na Alvorada, não deu declarações à imprensa.

Sem falar em prazos, Bolsonaro afirmou que o encontro serviu para discutir pautas como privatizações e reformas, como a administrativa. Ele disse que há um compromisso de os presentes, mesmo sendo ano eleitoral, de buscar juntos “soluções, destravar a nossa economia e colocar o Brasil no local que ele sempre mereceu estar”.

Bolsonaro citou a ausência “justificada” no encontro do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, que está tratando de uma pneumonite alérgica, em uma indicação de que pretendia dar ares de pacto para a reunião desta quarta.

GATILHOS

Assim como na véspera em fala conjunta com Paulo Guedes, o presidente da Câmara disse que há “muito o que fazer” e reafirmou o compromisso em defesa do teto de gastos e alertou para a necessidade de votação da regulamentação dos seus gatilhos para dar condições de administrar o Orçamento da União.

Em um sutil tom de cobrança, Rodrigo Maia aproveitou sua declaração para afirmar que a Câmara está pronta para analisar a reforma administrativa, assim em que o governo enviá-la.

Por sua vez, o presidente do Senado afirmou que é preciso “nivelar” as agendas política e econômica. Ele defendeu a construção de um consenso na sociedade em torno da reforma administrativa e do pacto federativo. Destacou ainda que o alinhamento das agendas após a pandemia do novo coronavírus é “fundamental”.

Entre outros participantes do encontro estavam o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, que tem sido apontado nos bastidores como um dos que pressionam pela flexibilização do teto de gastos, e parlamentares, como o novo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).

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