Candidato do PT no Paraná, Requião não decola
Dirigentes do PT estão preocupados com o desenrolar da campanha de Roberto Requião (PT). O plano era tornar o ex-governador no principal cabo eleitoral de Lula no Paraná, mas ele não decola nas pesquisas ao governo do estado. Em meio a condenações por “fake news”, declarações de desrespeito à propriedade privada, apoio radical ao MST e estranhas movimentações financeiras de familiares, a campanha do veterano estagnou.
Já existem questionamentos na cúpula petista se foi um bom negócio apostar em Requião. A coluna já mostrou que setores do PT estão escondendo Requião de seus materiais de campanha. Além disso, a legenda faz a liberação de recursos para a campanha com parcimônia, justamente porque não enxerga avanços na candidatura. O ex-governador também está incomodado com a situação e se queixa com frequência sobre falta de dinheiro. “Me liguem e digam se vai haver ou não [estrutura], pois se não desisto dessa aventura e vou para a praia.”, teria dito à um assessor de Lula no saguão de um hotel em Jacarezinho, no norte pioneiro, há pouco tempo.
Estagnação nas pesquisas
Requião não consegue decolar nas pesquisas. No último levantamento do Instituto Paraná Pesquisas, ficou muito atrás do atual governador, Ratinho Júnior (PSD), que chegou a 56,2% das intenções de voto, e, com isso, tem chance de ser reeleito já no primeiro turno. O novo petista ficou em segundo, com 23,8%. Na sondagem, Requião também aparece como mais rejeitado, chegando a 42,6% os entrevistados que disseram não votar nele de jeito nenhum.
O ex-governador parece não ter conseguido impactar ainda nem os eleitores de Lula no Paraná. Segundo o IRG, por exemplo, o ex-presidente tem 30,3% dos votos no estado, enquanto o ex-governador gira entre 20% e 23%, dependendo do instituto.
Relação com MST e o desrespeito à propriedade privada
Um dos motivos para o baixo desempenho de Requião nas pesquisas pode estar nas recentes manifestações dele de apoio ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Alguns militantes do PT se assustaram com o radicalismo de algumas fala do ex-governador, eles lembram que o Paraná é um estado conservador e é preciso dosar alguns posicionamentos.
Logo após se filiar ao PT, em 18 março desse ano, Requião criticou a propriedade privada. No evento junto com Lula em Curitiba, ele foi mais incisivo que o próprio presidente de honra da nova legenda dele, e declarou apoio ao MST. “Nesse nosso Brasil, enquanto houver uma área com capacidade produtiva vazia, ocupada por monopólios de monocultura, não é aceitável que a gente considere um título de propriedade para impedir o povo de lavrar, plantar e de fazer o que faz o MST hoje: solidariedade a um conjunto da população num momento difícil do Brasil”, disse Requião.
Um dia depois, em Londrina, Requião foi além. Em um evento em um assentamento do MST ele ironizou o direito à propriedade privada. “Pessoalmente, eu só aceito um título de propriedade, quando existir um trabalhador sem a possibilidade de ter a terra, de produzir os alimentos. Se me apresentarem, João Pedro [Stédile, dirigente e fundador do MST], um título de propriedade, Lula, assinado por Deus e com firma reconhecida. Os valores cartoriais, a propriedade consagrada acima do interesse das pessoas tem que ser rejeitada”, disse.
Tudo isso se soma ao fato dos produtores rurais paranaenses estarem assustados com o MST. Recentemente o líder da organização, João Pedro Stedile, disse que prevê o retorno de “mobilizações de massa” caso o ex-presidente Lula saia vitorioso das eleições de outubro. As declarações foram feitas em um podcast divulgado na página do movimento na internet. A informação foi divulgada pela revista Veja.
Na luta para eleger Lula e candidatos do PT, o MST já criou mais de 7.000 “comitês populares de luta” em todo o país.
Condenações por “Fake News”
A campanha requianista já foi condenada três vezes por “fake news” nestas eleições.
No mês de julho, o ainda pré-candidato petista, fez acusações de existência de funcionários fantasmas no governo “sem qualquer prova ou indício de sua veracidade.”, segundo a decisão que o condenou.
Em agosto, ele afirmou que não houve investimentos no Paraná nos últimos anos e apresentou supostos números que colocariam o estado como o 20º de país no ranking de investimentos. Contudo, para o judiciário “a publicação impugnada extrapola a mera crítica política ou partidária e caracteriza ofensa à honra do então pré-candidato, com intenções de denegrir a sua imagem, com violação ao princípio da isonomia na disputa eleitoral e à garantia do processo eleitoral hígido.”, destacou o juiz do caso na época.
Na semana passada, a Justiça Eleitoral condenou pela terceira vez Roberto Requião (PT) por divulgar “desinformação”. Desta vez, o petista afirmou em sua propaganda eleitoral que congelou por 8 anos a tarifa de luz quando foi governador entre 2003 e 2010. Ocorre que nesse período houve reajuste de 30,47%.
Recordista em processos no STF
As condenações por “fake news” não são os únicos problemas com o judiciário. Quando foi chefe do executivo estadual, Requião chegou a ser réu em 141 ações judiciais e inquéritos, sendo 60 criminais. Além dos crimes contra a honra por acusações contra adversários, Requião foi denunciado por improbidade administrativa, uso da máquina pública para promoção pessoal, abuso de poder e recebimento ilegal de verbas públicas.
No período em que esteve no Senado Federal, entre 2011 e 2018, Requião chegou a ser o segundo senador com mais processos no Supremo Tribunal Federal, conforme levantamento do site Congresso Em Foco.
Empresas e imóveis no exterior: o patrimônio milionário da família Requião nos Estados Unidos
No mês passado, a coluna também revelou que a família Requião tem um patrimônio milionário nos Estados Unidos e também no Brasil. Apartamentos em Miami e lojas de grife de luxo em Santa Catarina. O patrimônio de Thiago e Thobias de Mello e Silva, filhos do ex-superintendente dos Portos de Paranaguá e Antonina, Eduardo Requião de Mello e Silva – indicado ao cargo pelo irmão e ex-governador Requião -, mostra que os dois têm sucesso nos negócios. Já o patriarca da família está com as contas quase zeradas. Condenado a devolver R$ 26 milhões por irregularidades no porto de Paranaguá, até agora a Justiça só encontrou alguns trocados em nome dele.