Curitiba x esquerda: por que há poucos prefeitos desse espectro na cidade?

Desde 1984, a capital paranaense elegeu apenas dois candidatos desse espectro político: Roberto Requião e Gustavo Fruet

Publicado em 11 set 2024, às 21h52. Atualizado em: 13 set 2024 às 09h53.

Historicamente Curitiba é uma das capitais do Brasil com menor predominância de prefeitos de esquerda e centro-esquerda.

candidatos direita e esquerda
Luciano Ducci e Roberto Requião tentam quebrar sequência negativa da esquerda em 2024 (Foto: TRE-PR)

Desde a redemocratização em 1984, a capital paranaense elegeu apenas dois candidatos que, historicamente, são ou representavam esse espectro político: Roberto Requião (PMDB) em 1984 e Gustavo Fruet (PDT) em 2012.

Angelo Vanhoni (PT) por duas vezes seguidas chegou ao segundo turno: em 2000 foi derrotado por Cássio Taniguchi (PFL) e em 2004 por Beto Richa (PSDB).

Mas o que explica essa dificuldade? Para o o professor de administração pública e ciência política da Universidade Federal do Paraná, Rodrigo Horochovski, é preciso entender o grupo político que mais venceu na capital paranaense.

“Uma dificuldade é a prevalência de um grupo político relacionado às grandes transformações urbanas porque passou a nossa cidade, especialmente ali, a partir de 1965, com a chegada do ex-prefeito Jaime Lerner, em 1971, ao Executivo. Então, esse grupo tem, até hoje, uma grande força. Podemos dizer que em alguns momentos, inclusive, ele foi hegemônico aqui em Curitiba”, explica.

Após a redemocratização, Lerner se filiou ao PDT. O partido nacionalmente conhecido por ser presidido por Leonel Brizola e ter forte apelo trabalhista, no Paraná, especialmente entre os anos 1980 e 1990, foi a casa de diversos políticos de centro e centro-direita.

Lerner foi derrotado por Requião em 1984, mas quatro anos depois venceu a disputa para ser prefeito de Curitiba pela terceira vez. Após deixar a Prefeitura, o arquiteto conseguiu eleger os dois próximos prefeitos na capital paranaense: Rafael Greca em 1992 e Cássio Taniguchi em 1996 – ambos do PDT.

Nesse meio tempo, Lerner também foi eleito para dois mandatos consecutivos ao Governo do Paraná (1994 e 1998). Com essa base formada, nomes da esquerda como Dr. Rosinha e Vanhoni sequer foram ao segundo turno.

“As dificuldades que partidos e candidatos de esquerda têm em Curitiba são as dificuldades que partidos e candidatos de esquerda têm na maior parte do país. Se nós fazemos uma análise de longo prazo, de várias eleições em várias capitais, são raros os momentos em que a esquerda consegue ter um desempenho, por exemplo, superior às outras forças políticas”, prossegue Horochovski.

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Com Lula, altos e baixos em Curitiba da esquerda

Quatro anos depois de ser derrotado no primeiro turno, Vanhoni voltou a disputar a Prefeitura de Curitiba em 2000. O petista chegou ao segundo turno contra Taniguchi e foi derrotado por uma diferença de cerca de 74 mil votos.

Em 2002, a esquerda nacionalmente conseguiu um grande passo ao eleger o primeiro representante à presidência da República, após a redemocratização. Com Lula eleito, a esquerda no Paraná acompanhou a popularidade do presidente.

“Um grande desafio da esquerda é, que o governo Lula, por exemplo, bastante identificado com a esquerda, precisa convencer a população de que é um governo bem sucedido, nas diversas áreas que são avaliadas pela população, segurança, economia e corrupção. O desempenho local depende muito do desempenho do governo federal”, analisa Horochovski.

Com o apoio de Lula, Vanhoni novamente chegou ao segundo turno em 2004, mas foi derrotado por Beto Richa. O tucano ainda venceria no primeiro turno quatro anos depois, em uma eleição que contou com a presença da petista Gleisi Hofmann.

Mas em 2012, quando o PDT no Paraná voltou a ser um partido mais alinhado a esquerda, Gustavo Fruet contou com o apoio do PT e de outras legendas da esquerda para superar o prefeito à época, Luciano Ducci (PSB), e vencer o futuro governador do estado Ratinho Júnior (PSC).

Voto antipetista vira tendência

Após o impeachment presidencial de Dilma Rousseff em 2016, o antipetismo se tornou um movimento nacional dentro da política nacional e também em diversas localidades no Brasil.

Pesquisa divulgada em 27 de agosto pela Quaest Pesquisa e Consultoria apontou que o voto antipetista é uma tendência na disputa pela Prefeitura de Curitiba nesta eleição.

O levantamento apontou que o apoio político do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é rejeitado por 82% dos entrevistados.

Na disputa em Curitiba, nenhum candidato de esquerda chegou sequer ao segundo turno desde o impeachment de Dilma. Sem mais contar com o apoio do PT, Fruet foi superado por Ney Leprevost e Greca em 2016.

Greca conseguiu ser eleito em 2016 e quatro anos depois foi reeleito ainda no primeiro turno, sem dar chance para candidatos como Goura (PDT) e Paulo Opuszka (PT).

Desde então, a primeira vitória em nível nacional da esquerda foi em 2022, quando Lula voltou a ser eleito presidente da República.

Atualmente dois candidatos de esquerda aparecem com chances de irem ao segundo turno, segundo a pesquisa Quaest. Ducci, que conta com o apoio do PT e tem Goura como vice, embora sem utilizar ainda Lula nas propagandas eleitorais.

E o veterano Requião, candidato pelo recém-criado Mobiliza e que tenta voltar a vencer uma disputa eleitoral no Paraná pela primeira vez em 14 anos.

Metodologia da pesquisa citada

A pesquisa da Quaest Pesquisa e Consultoria contratada pela RPC TV entrevistou 900 pessoas de 16 anos ou mais entre os dias 24 e 26 de agosto. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número PR-06447/2024.

A margem de erro da pesquisa é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos e tem grau de confiança de 95%.

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