Beto Richa revela torturas durante delações premiadas: "Isso é um crime"
O ex-governador do Paraná, Beto Richa, concedeu na manhã desta quarta-feira (27) a primeira entrevista a um grupo de comunicação após as prisões, que aconteceram entre 2018 e 2019. Nos estúdios da rádio Jovem Pan Paraná e da RIC Record TV, Richa conversou com o jornalista Marc Sousa nos programas Jornal da Manhã e Paraná no Ar, respectivamente. Entre as revelações, o político contou casos de torturas durante delações premiadas que resultaram em sua prisão.
- Leia também: Beto Richa quebra silêncio e concede entrevista ao Grupo RIC: “Tentaram infernizar minha vida”
Segundo Beto Richa, existia até um termo durante as delações em referência a denúncias contra ele. Pela primeira vez, o político revelou detalhes sobre os bastidores das delações premiadas.
“Sabe como é que funciona as delações? Essas pessoas são presas e torturadas psicologicamente. Eu digo, porque eu tenho provas. […] Você sabe o que é bater na grade? ‘Você quer ir para casa? Quer passar o Natal em casa? Saudades da família? Saudades dos netos? É fácil, entrega o Gov’. Esta é a frase padrão, entrega o Gov. Isso é crime”,
contou Beto Richa.
O ex-governador informou que pelo menos 60 delatores receberam a oferta para realizar alguma denúncia contra ele.
“Não tinham absolutamente nada para falar sobre mim. Hoje as audiências, perante os juízes, são monitoradas, tem o vídeo. ‘Doutor, me ofereceram a liberdade, mas eu tinha que entregar o Gov, doutor eu não conheço o homem, o que eu vou falar?’. Então essas delações não têm meia prova contra mim. É palavra de delator desacompanhada. A Constituição é clara, a delação tem que ser acompanhada de provas, por isso que está caindo tudo”,
destacou Beto Richa.
Beto Richa classificou as ocorrências contra ele e sua família como violentas e covardes. Além disso, aproveitou para questionar sobre outros problemas que devem acontecer no sistema prisional brasileiro.
“Tem horas que temos que falar a verdade sem receio. Até para que ninguém mais seja injustiçado desta forma como eu fui. Porque, se aconteceu comigo, que tenho todos os holofotes, não só do Paraná, que tenho condições graças a Deus de contratar bons defensores, bons advogados, quantos estão detidos anonimamente e não têm sequer condição de contratar um bom advogado. Quantos estão injustiçados em unidades prisionais no Paraná e Brasil afora”,
pontuou Beto.
Assista a entrevista completa:
Prisões de Beto Richa
O ex-governador Beto Richa foi preso em três oportunidades, entre setembro de 2018 e abril de 2019. O político foi investigado em quatro operações: Operação Rádio Patrulha, Integração, Piloto e Quadro Negro.
No dia 11 de setembro de 2018 Beto Richa foi detido pela primeira vez. A pedido do Ministério Público do Paraná (MP-PR), o ex-governador foi preso pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) na operação Rádio Patrulha. Os policiais investigavam possível pagamento de propina a agentes públicos e direcionamento de licitações de empresas.
No mesmo dia, Beto Richa foi alvo da operação Lava Jato. No dia 14 de setembro, o ministro do Superior Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, pediu a soltura de Beto Richa.
Já no dia 29 de janeiro de 2019, Beto foi denunciado pelo MP-PR acusado de corrupção passiva e pertencimento a organização criminosa em um esquema de propina em contratos de concessão de pedágio. O ex-governador foi solto no dia 1 de fevereiro, a pedido do presidente do STF, João Otávio de Noronha.
Por fim, em 19 de março de 2019, Beto Richo foi preso em desdobramento da operação Quadro Negro, que apura o desvio de 20 milhões em obras de escolas públicas. O ex-governador foi solto no dia 4 de abril após pedido da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR).