A professora de mestrado em Comunicação da UFPR, doutora em Ciência da Comunicação pela USP e especialista em Comunicação Política, Luciana Panke analisa o encontro de ontem (22) na RICTV Record.
“É importante levar em consideração que o debate envolve dois candidatos de oposição ao atual governo municipal. Esse é um cenário raro, uma vez que geralmente temos um candidato da situação (que apresenta um mundo ‘quase’ perfeito e que pode melhorar) e um candidato de oposição (que traz um mundo com problemas que seriam solucionados apenas com sua eleição). Assim, com esse perfil diferente, vimos um debate onde os ataques pessoais ou sobre o grupo de apoio estavam em destaque”, afirma.
Segundo Luciana, Ratinho Jr. buscou um apelo sentimental no início, cumprimentando a filha. Isso indica um candidato que quer se mostrar ligado a valores tradicionais e, como no caso é um candidato jovem, pretende transmitir que possui raízes e seriedade. “Por outro lado, ele iniciou os ataques já na primeira rodada, demonstrando um perfil mais passional. Ratinho perguntava apresentando suas propostas ou atacando. Foi o candidato que usou ironia e que focou em temas mais assistencialistas”.
Já Gustavo Fruet, de acordo com a especialista, mostrou um discurso conciliador, defendendo o diálogo entre segmentos da sociedade, provavelmente para se afastar da crítica de que se o PT entrar na prefeitura não haveria essa postura. “A cor da gravata que ele usou (azul) também pode indicar aproximação com esse perfil. Fruet foi mais objetivo nas respostas, não focando em ataques. Por sua vez, iniciava a defesa dos ataques do oponente com um jargão ‘em respeito à verdade’. Usou mais números em seu discurso como um elemento legitimador das suas respostas”.
Luciana diz que ambos os candidatos usaram parte do seu tempo para reforçar o discurso de reforço de suas supostas qualidades a partir da apresentação do que teriam feito em outros momentos da vida política.
“O objetivo de um debate é mostrar as supostas qualificações do candidato e para isso, muitas vezes se usa de desqualificação. Para fortalecer o próprio discurso um procura desfazer a fala do outro. A desqualificação pode ser classificada em três categorias: desqualificação de mundo (quando se critica a visão que o outro tem da cidade; estratégia comum entre candidatos da situação e da oposição); desqualificação do partido/grupo (quando o oponente procura mostrar que o grupo do outro não é bom, ou tem defeitos graves). Essa forma esteve bem presente nesse debate, em especial enquanto estratégia do Ratinho Jr. Por último, a desqualificação do candidato- quando os comentários recaem sobre atos, currículo e posturas; quando a desqualificação do outro qualifica quem profere o discurso”.