Moro sai do governo atirando
O ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro disparou uma saraivada de bombas atômicas contra o presidente da República, Jair Bolsonaro, em pronunciamento no qual comunicou seu pedido de demissão do cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública. Por exemplo: acusou-o de praticar duas vezes falsidade ideológica, ao violar o Código Penal e, ao mesmo tempo, cometer crimes de responsabilidade, passíveis de abertura de processo de impeachment pela Câmara para ser julgado no Senado, no ato da demissão do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. “Demissão a pedido”, definiu o decreto assinado por ele e pelo ainda então ministro, Moro.
No pronunciamento pela manhã, o ex-ministro disse que não o assinou e o demitido lhe garantiu que nunca pediu demissão. Na resposta dada no fim da tarde, em discurso confuso de 43 minutos, chamado de “coletiva”, o chefe mentiu ao dizer que o ex-diretor-geral da PF comunicou seu pedido de saída por cansaço numa reunião virtual com superintendentes. E a reunião foi cancelada para os seus participantes acompanharem a fala de Moro.
O ex-subordinado fez acusações gravíssimas contra o ex-chefe. Contou que ele lhe disse querer mudar a chefia do órgão de Estado para poder ter acesso a relatórios sigilosos de investigações da PF. Para impedir que isso ocorra sob a nova direção da instituição, o relator dos inquéritos autorizados para devassar fake news e o comício subversivo de domingo à frente do QG do Exército pelo Supremo Tribunal Federal – STF –, ministro Alexandre de Moraes, determinou que os delegados encarregados sejam mantidos. Bolsonaro reconheceu que, de fato, recebe relatórios de informações secretas das Forças Armadas e outras repartições, e não vê por que não possa fazê-lo com a PF. Em que Moro mentiu?
O procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu ao STF um inquérito específico sobre tais acusações para atestar se Bolsonaro realmente cometeu crimes de que foi acusado, entre eles advocacia administrativa, ou se Moro praticou denunciação caluniosa. Como dizem os comentaristas esportivos, agora é ver quem tem mais vasilhame para trocar.
A opção é impeachment ou autogolpe. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, terá uma semana, por decisão do decano do mesmo STF, Celso de Mello, para por, ou não, em votação a autorização, por três quintos dos deputados, para abrir o impeachment. Para conquistá-los, Bolsonaro fez do Planalto balcão para comprar com dinheiro público parlamentares do centrão, que tem maioria no plenário. Assim, evita imitar Dilma, que topou briga com Cunha e perdeu. E repete Temer, que comprou os votos necessários, mas jogou fora a oportunidade de entrar na História como um presidente de respeito.