O sequestro de Moro
O político Moro foi sequestrado e morto por criminosos. Esta poderia ser a manchete desta quarta-feira dos principais jornais brasileiros, não fosse o excelente trabalho da Polícia em desvendar o plano de atentados do crime organizado contra o senador paranaense e diversos outros agentes públicos. Contudo, há quase 45 anos, um político chamado Moro foi realmente sequestrado e morto na Itália. As circunstâncias exatas deste crime permanecem até hoje nebulosas.
Na década de 70 a Itália passava por um período de grande instabilidade política em meio a guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética.
O Partido Comunista italiano reclamava uma maior participação no governo italiano, controlado historicamente no pós-guerra pela Democracia Cristã (partido de centro). Em paralelo a isto, o Grupo Terrorista de esquerda Brigadas Vermelhas aterrorizava o país com atentados, pregando a necessidade de uma revolução comunista. Um de seus membros, Cesare Battisti, era acusado de múltiplos homicídios na Itália e fugiu para o Brasil, onde foi preso em 2007 e depois conseguiu o status de “refugiado político” pelo governo petista da época.
Já Aldo Moro havia sido primeiro-ministro da Itália por cinco vezes entre os anos 60 e 70 pelo partido Democracia Cristã. Pacificador, havia dado espaço para políticos de esquerda durante os seus governos. Após deixar o comando do Estado italiano, assumiu como Presidente do seu partido e continuou a ter protagonismo político no país, pregando um governo coalização. A exemplo de seu xará brasileiro, o Moro italiano angariou vários inimigos. Sua política conciliatória não era vista com bons olhos pelos extremistas de esquerda.
Em 11 de março de 1978 Aldo Moro atuou na realização de um acordo entre o Partido Comunista italiano e a Democracia-Cristã para formação de um governo de coalização. Poucos dias depois, em 16 de março de 1978 militantes dos Brigadas Vermelhas mataram seus cinco seguranças e sequestraram o ex-primeiro ministro italiano. Levado a cativeiro, sua liberdade foi negociada com o governo italiano por 55 dias. Os terroristas exigiam a liberação de 13 líderes presos na Itália. Do cativeiro, Moro implorou pela negociação, chegando a escrever uma carta para sua mulher dizendo que “meu sangue cairá sobre eles”, referindo-se aos colegas da Democracia Cristã, que relutavam em ceder aos terroristas.
Ao final, diante do não avanço das negociações, os terroristas decidiram executar covardemente o Moro italiano, que seria posteriormente encontrado morto com marcas de bala no porta-malas de um carro no Centro de Roma em 9 de maio de 1979. Não se sabe ao certo a razão pela qual o governo italiano não aceitou negociar. Diversas teorias conspiratórias emergiram deste fato, não cabendo aprofundamento neste momento.
O fato é que o caso gerou uma enorme comoção nacional no país. Sobretudo, o acontecimento foi decisivo para a queda do movimento terrorista Brigadas Vermelhas na Itália. No primeiro momento, o Estado atuou fortemente na repressão dos integrantes do grupo terrorista. Além disso, a simpatia popular eventualmente existente pela suposta causa política desapareceu. É certo que alguns dos envolvidos tiveram suas penas perdoadas em 1982 e muitos fugiram do país. Contudo, este é assunto para outro artigo.
Muito tempo depois de seu covarde assassinato, Aldo Moro ainda é muito lembrado na Itália. Em homenagem aos 40 anos de sua morte, o prefeito de Bari, Antonio Decaro lembrou que “Moro é um patrimônio do nosso país. A partir desse caso, nosso país reconstruiu a comunidade”. Aqui no Brasil, o nosso Moro também deve ser considerado um patrimônio. Sua luta destemida contra o sistema das propinas e contra o crime organizado deve ser ovacionada.
Nos anos seguintes, a Itália iniciaria uma nova luta sangrenta, desta vez contra a máfia siciliana, com novos personagens e acontecimentos. Mas esta história é para outro momento.