Paulo Guedes, o frasista
Existe uma máxima na comunicação que quando o sujeito tem que se explicar é porque não atingiu o objetivo. Para homens públicos essa regra tem uma importância ainda maior. O recado tem que ser simples, direto e objetivo. É praticamente proibido usar os famosos “veja bem”, “Eu quis dizer”, etc.
Paulo Guedes é um grande ministro. Foi um dos alunos mais brilhantes da escola de Chicago, e é indiscutível a sua capacidade intelectual e operacional de colocar a economia nos eixos. É dele o mérito dos primeiros avanços na área depois da maior crise da nossa história, provocada pela má gestão e roubalheira dos governos petistas.
O problema é que Guedes poderia fazer ainda mais, mas tem sido sabotado pela própria língua.
Em novembro do ano passado, uma frase sobre o AI-5 levantou polemica: “Não se assustem se alguém então pedir o AI-5. Já não aconteceu uma vez? Ou foi diferente?”. Ele teve que explicar depois que não era bem aquilo que quis dizer e falar o óbvio, que defende a democracia.
Na semana passada, ele comparou servidores públicos a “parasitas”. O contexto da fala era direcionado a casta do funcionalismo público e aos sindicalistas, mas a má formulação deixou margem para uma generalização da categoria. Pegou mal, e ele teve até que pedir desculpas. O resultado: Congresso aproveitou a onda e praticamente enterrou a reforma administrativa, tão necessária para enxugarmos a máquina pública e cortamos privilégios.
Na última quarta, falando sobre o câmbio ele soltou: “Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. Vou exportar menos, substituição de importações, turismo, todo mundo indo para a Disneylândia. Empregada doméstica indo pra Disneylândia, uma festa danada. Mas espera aí? Espera aí. Vai passear ali em Foz do Iguaçu, vai ali passear nas praias do Nordeste.”
Guedes ajudou Lula. Sim, o ex-presidiário correu para as redes sociais dizer que “Essa gente não suporta a ascensão social dos mais pobres”. Além disso, o dólar disparou, chegou a máxima histórica de R$ 4,38, o que obrigou o Banco Central vender todos os contratos de swap tradicional da oferta de até 20 mil.
É verdade que boa parte da imprensa tem má vontade com o governo Bolsonaro, e por consequência, com seus ministros. Neste caso é ainda maior a importância de não deixar cascas de bananas no caminho, principalmente as deixadas pela própria equipe do governo. Uma simples frase mal formulada pode incomodar muito. A missão exige cuidado e atenção redobrada.