Por Eliana Raszewski e Nicolás Misculin
BUENOS AIRES (Reuters) – A coalizão governista peronista da Argentina está à beira de uma crise política, com o presidente Alberto Fernández enfrentando uma luta por controle depois que os eleitores abandonaram seu partido de centro-esquerda nas eleições de meio de mandato, minando seu poder no Congresso.
O partido, uma mistura de moderados aliados do presidente e uma poderosa divisão de extrema esquerda em torno da vice-presidente Cristina Kirchner, agora tem um dilema: ceder terreno para trabalhar com a oposição, virar para a esquerda –ou dividir-se ao meio.
“O governo tem sérios problemas. É um presidente que está totalmente sem poder”, disse Mariel Fornoni, da consultoria política Management & Fit. “A coalizão está quebrada.”
A votação de domingo viu os peronistas perderem a maioria no Senado pela primeira vez desde 1983, com várias províncias se afastando drasticamente do governo de Fernández, que assumiu o poder em 2019 em uma plataforma de centro-esquerda.
A perda prejudica a capacidade de seu governo de aprovar legislação no Congresso, atingindo os planos de reforma judicial e adicionando complexidade às negociações sobre um novo acordo de 45 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional, que precisa da aprovação legislativa.
Alberto Ramos, do Goldman Sachs, disse em uma nota que a derrota pode deixar o partido no poder enfraquecido e que “a dissidência interna sobre a direção da política pode crescer ainda mais”, potencialmente prejudicando vozes moderadas como o ministro da Economia, Martín Guzmán.
“Este cenário aumenta o risco de uma combinação de políticas (ainda) mais heterodoxa/intervencionista que poderia complicar ainda mais a já difícil negociação de um programa do FMI”, disse ele.
“A perda do controle do Congresso implica que o governo terá que negociar com uma oposição mais forte e reenergizada, que pode levar a um processo de formulação de políticas barulhento e volátil.”
Em mensagem gravada após a derrota, o presidente Fernández adotou tom moderado, dizendo que pediria o diálogo com a oposição, redobraria os esforços para resolver a dívida do FMI, apresentaria um plano econômico ao Congresso e miraria na inflação.
No entanto, ele minimizou sugestões de conter os gastos públicos, que muitos consideram vitais em meio às difíceis condições econômicas.
“É preciso colocar as contas do Estado em ordem, mas nunca à custa de um ajuste nos gastos. O ajuste foi tentado várias vezes na Argentina e só aprofundou a desigualdade e a pobreza”, disse.
CUSTO POLÍTICO
A derrota do meio do mandato provavelmente terá um preço para o governo.
“Eles vão começar a depender de negociações com possíveis aliados e, quando você entra nesse tipo de conversas, elas começam a sair caras”, disse o analista Carlos Fara.
O governo tem uma longa lista de crises para resolver.
A inflação está acima de 50% ao ano, a pobreza está acima de 40% e o peso é negociado a cerca de 200 por dólar nos mercados informais que floresceram em meio a controles de capital, o dobro da taxa de câmbio oficial de 100 pesos por dólar.
Alguns prevêem uma desvalorização mais rápida da moeda para aproximar as duas taxas e igualar os preços em alta.
“Em dezembro ou um pouco antes, o ritmo da desvalorização oficial vai se acelerar para evitar que o dólar fique muito atrás da inflação”, disse Roberto Geretto, economista da Fundcorp.