Pesquisa revela comprometimento de empresários com a democracia no Brasil
Uma pesquisa realizada pela Fundação Tide Setubal e o Instituto Sivis apura o grau de comprometimento dos empresários brasileiros com a democracia. O objetivo é revelar os aspectos da cultura política do setor empresarial, procurando caracterizar os principais valores, atitudes e comportamentos políticos do setor.
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O estudo envolveu 417 empresários brasileiros entre os dias 20 de maio e 8 de julho. A amostragem utilizada seguiu a proporção de três variáveis-chave para caracterização das empresas: região do País (Sudeste, Sul, Nordeste e Centro-Oeste + Norte), setor (serviço, comércio e indústria) e tamanho (pequena, média e grande). Os resultados também podem ser recortados por gênero, faixa etária e grau de escolaridade.
Resultados da pesquisa
Geral
A imensa maioria dos empresários (91%) concorda que, apesar de ter alguns problemas, a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo; 74,1% dos empresários estão dispostos ou muito dispostos a mudar de opinião quando confrontados com argumentos convincentes em um debate com adversários políticos.
A imensa maioria dos empresários (98%) avalia que é importante que haja eleições livres e justas no país para que eles e seus negócios prosperem; 79,6% dos entrevistados concordam totalmente ou em parte com a noção de que pessoas aprisionadas são também merecedoras de respeito e dignidade.
Ainda, 82,5% da amostra concordou (totalmente ou em parte) que “ninguém deve ser sujeito à tortura, independentemente das circunstâncias”; 83,7% consideram “aceitável” ou “muito aceitável” a existência da divergência política.
“Em tempos difíceis, a mídia não deveria divulgar notícias que prejudiquem o governo ou os políticos que estiverem tentando melhorar a situação do país, mesmo que tais notícias sejam verdadeiras”. A maioria dos empresários (65,1%) discorda (em parte ou totalmente) de tal relativização;81,5% dos empresários concordam totalmente ou em parte que eles também são responsáveis por trabalhar pela solução dos problemas sociais do país.
Gênero
Ao todo, 89% dos empresários do sexo masculino sentem que entendem bem os assuntos políticos mais importantes do país, contra 68% das empresárias do sexo feminino; 68% dos empresários do sexo masculino se dizem muito interessados por política, contra 39% das empresárias do sexo feminino.
A imensa maioria dos empresários (96%) julga que as mulheres devem possuir os mesmos direitos que os homens.
Faixa etária
Conforme a pesquisa, 63,8% dos empresários idosos se consideram interessados pela política, contra 48% dos jovens; 76,4% dos jovens discordam da relativização da democracia, contra 56,7% dos idosos; 88% dos empresários idosos acreditam que ninguém deve ser sujeito à tortura independentemente das circunstâncias, contra 72% dos jovens.
Ainda, 48% dos empresários idosos consideram que a meta de proteger a liberdade de expressão no país deveria ser prioritária nos próximos anos, ao passo que 41% dos jovens empresários acreditam que a meta prioritária deveria ser combater a inflação; 67% dos empresários idosos estão insatisfeitos com o funcionamento da democracia no Brasil, contra 45% dos jovens empresários.
Grau de escolaridade
O levantamento apurou que 85% dos empresários com pós-graduação ou nível de escolaridade acima concordam que pessoas aprisionadas são também merecedoras de respeito e dignidade, contra 67% dos empresários com até ensino superior incompleto; 75% dos empresários com pós-graduação ou nível de escolaridade acima relatam que frequentemente dialogam com pessoas com opiniões políticas opostas às deles, contra 58% dos empresários com até ensino superior incompleto.
Empresários mais escolarizados demonstram interesse substancialmente maior por política em comparação aos menos escolarizados – 72,7% com muito interesse entre os que têm pós-graduação ou nível de escolaridade acima, ante 59,8% entre os que têm até o ensino superior incompleto.
Empresários altamente escolarizados são mais propensos a rejeitar a relativização da democracia do que aqueles com menor escolaridade – 77,3% de discordância entre os empresários com pós-graduação ou nível de escolaridade acima, ante 61% entre aqueles com até ensino superior incompleto.
Regional
Conforme os dados, 95% dos empresários da região Centro-Oeste acreditam que é importante obedecer às leis e ao governo independentemente de os políticos no poder serem aqueles nos quais votaram ou não, contra 82% dos empresários do Nordeste; 90% dos empresários da região Centro-Oeste discordam de que, para pessoas como eles, tanto faz ser governado por um regime democrático ou não, contra 77% dos empresários do Norte.
Governança ambiental, social e corporativa (ESG)
Sobre a importância para os empresários e suas empresas da discussão que tem ganhado força no mundo corporativo acerca de práticas de cunho ambiental, social e de governança: 42% dos jovens empresários consideram as práticas de cultura organizacional pautadas por confiança e colaboração como as menos importantes do ESG. Para 35% dos empresários adultos, as menos importantes são as de diversidade e tolerância no ambiente de trabalho e para 33% empresários idosos, as de responsabilidade e relacionamento com a comunidade local.
A grande maioria dos empresários considera o ESG de alta importância para suas empresas – 74,2% alegam ser importante ou muito importante. No recorte por faixa etária, os mais velhos se mostram mais adeptos ao ESG do que os mais jovens: 83,1% dos idosos consideram de alta importância, contra 70% dos mais jovens.
A variável de sexo também se mostrou um fator relevante, sendo que 85,1% das empresárias veem mais importância no ESG, ante 72% dos empresários homens.
Os entrevistados também responderam sobre o conjunto de práticas ESG mais importante entre cinco alternativas: Compliance e práticas anticorrupção; Cultura organizacional pautada por confiança e colaboração; Diversidade e tolerância no ambiente de trabalho; Responsabilidade e relacionamento com a comunidade local; Sustentabilidade e proteção do meio ambiente. No geral, 62,4% deles atribuem maior importância ao compliance e às práticas anticorrupção na governança corporativa. Diversidade e tolerância no ambiente de trabalho foi a alternativa considerada menos importante por 32,4% do total de empresários entrevistados.