Só nos resta a Justiça Eleitoral
Alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por óbvia interferência na Polícia Federal (PF) para perseguir inimigos políticos em processos rápidos e letais, o presidente Jair Bolsonaro levantou duas muralhas da China contra tudo o que possa incomodá-lo ou a seus filhotes. No mesmo dia, quinta-feira 11, feriado de Corpus Christi, os responsáveis por eventuais denúncias que possam dar início a investigações sobre suspeitas para lá de “robustas”, como está na moda dizer agora, estão sob seu absoluto domínio.
O procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras, numa peça rocambolesca e barroca, em que diz o que desdisse, mentiu ao acusar o relator do inquérito sobre fake news (benévolo eufemismo anglófono para mentira), o ministro do STF Alexandre de Moraes, de tê-lo excluído do processo. O acusado desmentiu e ele calado estava e ficou. Sem denúncia do PGR, nem o último Poder a decidir, o Judiciário, terá como propor à Câmara dos Deputados a abertura de impeachment, nem mesmo abrir ação por violações do Código de Processo Penal.
Mas Aras foi além, ao misturar veículos de comunicação com quadrilhas do gabinete do ódio na indústria de mentiras que prospera nas redes sociais. A mistura de liberdade de expressão com esse crime só pode ter sido inspirada pelo asqueroso papel de advogado-auxiliar do capitão de milícias que o intruso incorporou sem pudor algum. Esperar que denuncie quem o nomeou equivale a esquiar no sertão, como descreve o intendente-chefe da Saúde, Pazuello do planisfério terraplanista.
No dia em que o mundo jurídico tropeçou no pedregulho do petista que comanda o Ministério Público Federal (MPF), o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, a quem Bolsonaro atribuiu a liderança de um golpe contra ele e caberia abrir processo de impeachment, confessou que fora “avisado” da nomeação de Fábio Faria, seu correligionário do Centrão, para o Ministério das Comunicações. Ou seja, o genro do concessionário de TV Sílvio Santos terá o poder de conceder canais. Com todas essas blindagens garantindo a impunidade do pretendente a Chávez de Pindorama, só resta um caminho para a punição dos crimes que não se cansa de repetir, como o de invadir UTIs para fotografar leitos “vazios”: os processos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pelo uso criminoso de mentiras, distorcendo a vontade popular no voto. Eia, SUS!
*Jornalista, poeta e escritor