Recebi um texto muito interessante de uma amiga muito querida, Manoella Treis, escritora, empreendedora e Doutoranda em Políticas Públicas, que  trás uma reflexão de valores em meio ao COVID 19 e resolvi reproduzir para vocês.

Dúvida: depois que passar a crise, você pagará: -> R$ 50 em um hambúrguer? -> R$ 800 no ingresso de festival, com 1/2 entrada a R$ 400? -> R$ 40 (por ingresso) para uma sessão de cinema? -> R$ 350 na mensalidade de uma academia? -> R$ 100 em um plano pós-pago de celular (e limitado, ainda)? O mundo passará por um ajuste brutal na relação Custo x Benefício. Excessos, certamente, não serão bem-vindos (Renato Camargo, 14/04/2020)
Li esse post no Linkedin, quatro dias depois, talvez se eu lesse ele há quatro dias antes não teria a sacada. Estava conversando ontem à noite com um interesse meu, chegamos no momento que ele havia contado aos amigos sobre mim, ele me mandou a conversa, e eu disse: hey, você disse que gosto de lugares chiques, dependendo da realidade de cada um para definir o lugar como chique ou não. Mas, quem me conhece sabe que sou “mão de vaca” e evito gastar. E me peguei conversando com ele, como ele podia pegar o dinheiro de uma janta em um lugar, que sairíamos uma vez no mês para espalhar pelos fins de semana do mês. Ele riu, e disse que eu era mais “mão de vaca” que ele.
E isso me lembrou a conversa que havia tido com minha avó pelo telefone — na quarentena, mesmo ela morando no prédio da frente, não estamos nos vendo como nos víamos, sim, eu visitava meus avós pelo menos uma vez por dia, pois que aprendi que o momento de valorizar, cuidar e aproveitar, é o agora. Conversávamos como todo mundo foi afetado pelo covid-19 e algumas questões da empresa do pai. Ela, como uma senhora de origem alemã, que valoriza a família e costumes, me disse: “está na hora de poupar, precisamos guardar dinheiro, a coisa vai ficar bem feia”. Concordei. Relembramos do ano anterior quando meu avô quebrou o fêmur e teve que ir para um hospital de reabilitação privado, que graças as economias de muitos anos, foi pago tranquilamente e hoje ele está em casa e reabilitado. Mas, logo após ele sair, voltaram a guardar.
Após ler esse post, me lembrei de uma aula de ciência política que estava tendo no mestrado, há um ano, que minha colega havia morado na Alemanha na infância e trouxe alguns relatos. Lembrei de alguns relatos que li na internet e os costumes alemães que estudei na 8ª série, quando tínhamos a feira das nações. Quando ela relatou os costumes de guardar dinheiro, solidariedade, respeito às leis, valorização da comida, local e educação. Lembrei muito dos costumes da minha família e pensei o quanto ainda não é reflexo do capital cultural incorporado (noção de Bourdieu, muito interessante ler) que veio das gerações anteriores que vieram da Alemanha, que não é tão distante assim, que se perpassaram e chegaram até agora. O quanto esses reflexos de guerras, ainda estão presentes na família, pois, nunca se sobra comida, nunca vai fora. Sempre há reservas de dinheiro, consciência de compras, respeitar as regras e etc.
O Brasil passou por algumas guerras, mas nenhuma com o reflexo que a Alemanha teve. Eu sempre pensava o quanto o Brasil precisava de algo estrondoso para ressignificar valores, cultura e objetivos. Talvez, uma visão radical, mas, de devaneios da madrugada. O Covid-19 pode sim ressignificar os valores de um país, que eu com 12 anos, toda a noite sentava para debater com meus avós, a partir de situações cotidianas do jornal ou de vivências de pessoas próximas.
Mudar os valores, como a postagem do Renato Camargo trouxe, você pagaria R$50 em um hambúrguer? Agora após o Covid-19, pagaria? Eu nunca paguei, sempre achei um absurdo, lembrando, tenho o capital cultural incorporado de algumas gerações atrás. Porém, precisamos de uma guerra sem armas, e sim, uma guerra contra um organismo invisível e letal, em alguns casos, para refletir e mudar os costumes considerados “cool” por muitos. O tempo da ostentação, tem mostrado o seu fim. A era do ter e postar, vai se mostrando que tudo tem um fim. Espero, que agora, ocorra a valorização do ser. Pois, os exemplos de perdas são nítidos, e o que ninguém nos tira é o que somos e conhecemos. Frase clichê, mas que nunca fez tanto sentido. Está na hora de nos reinventar e refletir nossos valores.

Manoella Treis, escritora, empreendedora e Doutoranda em Políticas Públicas.

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