Vereador é flagrado cobrando proprina de pagodeiro do PCC
A Operação Muditia, do Ministério Público Estadual de São Paulo (MPSP), descobriu uma suposta combinação de propina através de mensagens grampeadas. Entre os investigados está o cantor de pagode Vagner Borges Dias, o ‘Latrell Britto’, apontado como ‘cabeça do esquema’, e o vereador Flávio Batista de Souza (Podemos), o ‘Inha’, de Ferraz de Vasconcelos, município da região metropolitana de São Paulo. A operação buscava por fraudes em licitações sob influência do PCC, que infiltrou uma quadrilha em prefeituras e câmaras municipais do interior e da Grande São Paulo.
Inha, que foi preso na semana passada, está no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Mogi das Cruzes e tem recebido a visita de servidores graduados da prefeitura e da câmara de Ferraz.
Dentre os diálogos flagrados pelos investigadores, Latrell Britto combina com Inha como seria feito o pagamento do suposto dinheiro desviado no esquema: “Verdade, tinha esquecido. Pega 7 aqui, fica faltando 500 que mando mês que vem”. Antes, Latrell teria enviado ao vereador R$ 267 mil, referentes a montantes pagos mensalmente pela prefeitura por contratos de serviços de limpeza.
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“Os valores repassados ao agente político são claro percentual do contrato das empresas investigadas com a prefeitura”, ressaltaram os promotores ao pedirem à Justiça autorização para abertura da Operação Muditia.
Segundo os promotores, o próprio Latrell descreve o cálculo do repasse em mensagem interceptada, ele fala em 7% de propina. Dessa forma, os investigadores cruzaram os valores descritos na conversa e identificaram que a quantia citada pelo pagodeiro correspondia a exatos 7% do valor das notas pagas pela prefeitura à sua empresa.
Na operação, foram presos: Flávio Batista de Souza (Podemos), o Inha, de Ferraz de Vasconcelos; Luiz Carlos Alves Dias (MDB), o Luizão Arquiteto, de Santa Isabel; e Ricardo Queixão (Podemos), de Cubatão.
27 promotores de Justiça e 200 policiais militares foram mobilizados. 13 pessoas foram capturadas. A investigação aponta fraudes que superam R$ 200 milhões e envolvem, além de políticos, servidores de gestões municipais, inclusive procuradores e secretários.
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Esquema de propina
Os grampos mostram a operacionalização dos repasses, em diferentes meses. Em uma ocasião, ainda em junho de 2020, Vagner questiona Inha se ele conseguiria pegar a propina em seu escritório. Em outro diálogo, em outubro daquele ano, Latrell pede a uma funcionária de seu escritório que ‘separe 17 mil para o Inha’.
A funcionária de Latrell enviou ao vereador até uma imagem do cofre do chefe, para prestar contas do valor retirado.
De acordo com os investigadores, os pagamentos se repetem e se acumulam quando não são realizados, ‘com notável cobrança’ do vereador de Ferraz. Os promotores dizem que a ‘ânsia’ de Inha faz com que os investigados acertem o pagamento via PIX, em nome de terceiros.
Em outras mensagens que o MPSP interceptou, os promotores identificaram que o cantor enviou uma planilha a Inha, após ser cobrado sobre a finalização do pagamento.
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Para a promotoria, a planilha atesta a vinculação dos pagamentos ao contrato de empresas investigadas com a prefeitura de Ferraz de Vasconcelos, como verdadeiro percentual de propina pagos aos agentes públicos.
Também os investigadores constataram que as notas fiscais listadas na planilha encaminhada a Inha apresentam valores que correspondem aos valores pagos para a empresa de Vagner.
A reportagem do Estadão buscou contato com as defesas de ‘Inha’ e de ‘latrell’, mas não teve retorno. O espaço está aberto para manifestação.
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