Metade das startups brasileiras não faturam

por Angelo Binder
conteúdo Comando News com assessoria
Publicado em 10 mar 2020, às 00h00.

Pitch, MVP, business model CANVAS, earnout, crowdfunding, growth hacking, pivotar. Nem só de termos difíceis vivem os empreendedores de startups, modelo de negócios que se firmou no Brasil durante a última década. Inspirados no rápido crescimento e popularização de startups como Über, Airbnb, Dropbox, Snapchat, Pinterest e Spotify e, principalmente com a crise de emprego no Brasil em 2017-2018, houve um boom desse tipo de empresa no país, nos últimos três anos. Segundo o relatório Startupbase, da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), a quantidade de empresas startups cadastradas na associação dobrou entre 2012 e 2017, indo de 2519 negócios para 5147. Hoje, já são 12.881 empresas seguindo esse modelo.

De acordo com o coordenador da pós-graduação em Criação e Gestão de Startups da Universidade Positivo, Cleonir Tumelero, startups são empresas inovadoras, com rápido crescimento e vendas escaláveis – ou seja, cujos modelos de negócios podem ser replicados. O conceito de startup também está relacionado com o tempo de existência da empresa, indicando uma empresa relativamente recente. “Nem todas as pequenas empresas recém-criadas são startups, porque esse tipo de empresa é idealizada para atingir um crescimento rápido e com escalabilidade, trabalhando em condições de extrema incerteza mercadológica. Para isso, são adotadas metodologias como o growth hacking, estratégia que tem como objetivo potenciar a empresa a crescer de maneira rápida e sustentável”, explica.

Mais de 80% das startups brasileiras declaram não ter recebido investimento 

Mais de 63% das startups nacionais estão nas regiões Sul e Sudeste. Ainda segundo a ABStartups, pouco mais de 1.500 startups têm mais de 6 anos. Para Tumelero, isso pode indicar três fatores: 1) o mercado brasileiro é bem recente e tem grande potencial de crescimento; 2) algumas empresas com mais de 6 anos não se consideram mais startups e 3) muitas startups não conseguem acessar financiamento e capital de risco e não sobrevivem por mais de 5 anos. “Se considerarmos que em levantamento recente da ABStartups, 82% das associadas declararam não ter recebido investimento e apenas 1% declararam ter recebido um aporte na primeira rodada de investimentos”, o cenário não parece animador”, ressalta.

Os dados de faturamento não são melhores. Aproximadamente 50% das startups mapeadas em todo Brasil ainda não faturam e apenas 3,4% faturam entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão ao ano. “Ou seja, há dinheiro entrando, mas não circulando em todos os âmbitos do ecossistema. E esse é um dos desafios para os próximos anos, ao pensar em um crescimento sustentável do ecossistema”, aponta o especialista.

Principais desafios

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Marcio Pacheco CEO e fundador da PhoneTrack foto divulgação

Os caminhos para Márcio Pacheco Jr. chegar à consolidação da PhoneTrack não foram os mais fáceis. O CEO e fundador da startup curitibana conta que enfrentou diversos desafios e obstáculos, principalmente no início do negócio. “A começar pela burocracia para abrir uma empresa no Brasil, independente se é uma startup ou não”, afirma. Para se ter uma ideia, são necessários cerca de 45 dias para a legalização integral de uma companhia no Brasil.

A PhoneTrack atua na área de tecnologia e é referência em call tracking, utilizando a inteligência artificial para o monitoramento e mensuração das chamadas telefônicas. A startup foi fundada em 2015 e atualmente já contabiliza mais de 700 clientes. Com soluções voltadas para agências de marketing, hotéis, clínicas, concessionárias e muitos outros segmentos que utilizam a plataforma para análise dos dados de ligações telefônicas. Entre outros fatores, Pacheco cita também a alta carga tributária e a capacitação profissional como alguns dos obstáculos que enfrentou no meio do caminho.

A falta de capacitação também é citada por Tumelero como um dos principais obstáculos para o crescimento das startups brasileiras. As oportunidades em fintechs, edtechs, adtechs, cleantechs, agtechs, dentre outros setores como blockchain, life sciences, new food, advanced manufacturing (indústria 4.0) e robótica estão cada vez maiores – o que falta são profissionais preparados para encarar esses desafios”, finaliza.

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