O poder da comunidade e o mundo que quero ajudar a construir

por Angelo Binder
conteúdo Comando News por Maria Andrea Duque Guevara
Publicado em 13 abr 2020, às 00h00.

Quando me ofereceram este espaço para escrever um artigo, senti uma grande honra e um senso de responsabilidade por compartilhar minha história sobre como comunidades transformam vidas, sobre a importância de trabalhar em rede e participar de ambientes colaborativos e sobre a urgência de praticar valores que nos façam melhores em comunidade.

Colombiana, formada em Ciência Política e Relações Internacionais, eu moro em Curitiba há 11 anos como refugiada política. Sou empreendedora social, construtora de comunidades e faço parte de um movimento transformador massivo. Acredito no poder exponencial da inovação e entendo que pessoas empoderadas têm poder de mudança e que o trabalho em conjunto produz mais e melhores resultados.

No dia 8 de abril de 2008 sofri um atentado ao qual sobrevivi a três tiros de bala calibre 38 em cabeça e pescoço. Como muitos outros refugiados de diferentes países fui vítima da violência guerrilheira e política do meu país. Vivenciei o sequestro e liberação do meu pai por parte da guerrilha do Exército de Libertação Nacional. Vi comunidades despejadas pela violência e enfrentei o desafio de pedir refúgio político no Brasil para zelar pela minha vida e sobrevivência.

Longe de casa, longe da família, sem falar a língua e com graves sequelas que as feridas deixaram, começava meu processo de inserção numa comunidade nova e desconhecida. Embora minha condição física estivesse debilitada, uma certeza eu tinha pela frente: reconhecia este ponto de inflexão como uma segunda oportunidade e daria um propósito à minha vida no Brasil. Depois de muitas experiências, diversos empregos e convivência com diferentes comunidades entendi que, se realmente queria criar um propósito, esse era o primeiro passo para praticar a inovação dentro do meu processo de aprendizado e dentro de uma nova comunidade. Aprenderia as ferramentas e metodologias para melhorar meus conhecimentos. Seria eu quem iria construir meu destino e me colocaria nos lugares certos, próxima das pessoas certas.


Criatividade e inovação precisam de um espaço físico e o processo de construção de uma comunidade passa indiscutivelmente pelo exercício da colaboração.


Queremos espaços onde possamos nos sentir livres para sonhar com o futuro e ter oportunidade de conectar nossas paixões com opções de carreiras. Tive a coragem de bater na porta do lugar em que queria trabalhar e a sorte de aprender ao lado de um visionário e ser parte de uma das comunidades de coworking mais antigas do Brasil e a primeira de Curitiba. Entendi nesse momento que criatividade e inovação precisavam de um espaço físico e que o processo de construção de uma comunidade passa indiscutivelmente pelo exercício da colaboração.

Minha vida mudou. Descobri que sentia imensa satisfação escutando pessoas, ajudando a achar soluções aos seus problemas e cuidando de espaços físicos que favorecem a troca de experiências. Aprendi que para a inovação funcionar, a experiência precisava ser suficientemente inclusiva para assegurar que todos os atores se enxergassem no processo. E era exatamente isso o que os coworkings – os espaços de trabalho colaborativo –, as aceleradoras e incubadoras de startups e os programas de aceleração de empreendedores estavam buscando; os ingredientes ideais para a construção de uma comunidade forte, sustentável e de impacto.


Participação, relacionamentos e empatia são fatores determinantes para construir uma comunidade que queira causar um impacto positivo.



Onze anos se passaram e meu objetivo hoje como empreendedora social e construtora de comunidades é ajudar a criar ambientes mais diversos e inclusivos que ajudem os profissionais a serem donos do seu próprio sucesso. Ao longo da minha carreira identifiquei três fatores que separam uma comunidade bem-sucedida, sustentável e exponencial de uma comunidade estagnada, vulnerável e estática. Esses três fatores são: 1) Participação, 2) Relacionamentos e 3) Empatia.

Escolhi esses fatores com base em minhas próprias observações e interações com as comunidades e sua cultura, mas também porque sua presença é mensurável e suas práticas são determinantes para construir uma comunidade que queira causar um impacto positivo.

Fator #1: A participação cria significado – Sem participação, o apego de uma pessoa à comunidade é fraco, se é que existe. A participação cria oportunidades para outros fatores. Sem participação, conexões e empatia não se cristalizam. Participação fornece direção. Sem participação, toda decisão se torna um risco de perder pessoas para interesses conflitantes. Quando as pessoas participam, mesmo que o resultado não seja 100% o que elas queriam, elas desempenharam um papel no processo.

Fator #2: Relacionamentos com a comunidade – As relações, como a participação, são mensuráveis ​​apenas quando estão ativas. É por isso que muitas grandes comunidades se sentem “vivas”. Relacionamentos verdadeiros tecem redes mais amplas. Relacionamentos reforçam o apego e criam um sentimento de pertencimento. Combinando participação + relacionamentos, as pessoas sentem que “pertencem” à comunidade. Relacionamentos criam coordenação e colaboração. À medida em que a confiança é estabelecida, os indivíduos da comunidade começam a coordenar seus esforços e energias com mais fluidez. Divergência se transforma em convergência. Todo esforço individual torna-se maior que as somas de suas partes quando há conexão.

Fator #3: Empatia Comunitária – A empatia da comunidade ocorre quando os membros se esforçam para pensar e considerar a comunidade e seus membros. Quando alguém se coloca no lugar de outro para tomar uma decisão, coloca a empatia em ação. A empatia é o fator mais difícil de “medir”, especialmente ao longo do tempo, já que muito disso parece acontecer silenciosamente. Para observar e medir a empatia você precisa aprender a reconhecer os sinais da empatia da comunidade em ação – e como incentivá-los. A empatia amplia a visão de mundo e cria espaço para a autorrealização.

Só praticando viramos especialistas. Se quisermos ajudar a construir comunidades de impacto, devemos praticar o bem e aceitar as diferenças para que as contradições da condição humana sejam aceitas com humor e tolerância.

Acredito que as pessoas são responsáveis por traçar o seu destino. Acredito na força de um mantra, no poder da comunidade. Acredito que fazer o bem é contagioso. Acredito na cura propiciada pelo perdão, na resiliência do amor. Acredito em ter um propósito transformador. Acredito em aprender com significado. E pratico a mudança que quero ver no mundo. Pratico felicidade, sorrisos, paciência, perdão, carinho. Pratico inovação. Pratico colaboração. Pratico comunidade.


A prática da colaboração começa com a base de um relacionamento significativo


Meu legado é levar carinho aos espaços e contagiar pessoas com sorrisos. Pratico inovação através da empatia e da atenção. Quero ajudar a construir um mundo mais bonito com pessoas mais felizes e com colaboradores verdadeiramente excelentes para que possamos todos trabalhar juntos, melhor! Hoje, mais claro do que nunca, sei a resposta à pergunta que sempre busquei responder: o que eu quero ser quando for grande? Quero ser eu mesma, mas sempre a versão melhorada. Quanto ao futuro, sempre me pergunto: se não você, quem? E, se não agora, quando?

Minhas três regras para praticar a colaboração:

  • Comunidades verdadeiras e grandes colaborações começam com a base de um relacionamento significativo, não uma transação.
  • Aprendizagem é uma parte da vida cotidiana e aprendemos melhor uns com os outros.
  • Faça ou não faça. Não fique na tentativa.

 Maria Andrea Duque Guevara
* Conhecida como Maria Guevara, sou colombiana, mãe do Martin, de signo capricórnio, formada em Ciência Política & Relações Internacionais. Empreendedora Social com treinamento em antropologia do consumo e pesquisa etnográfica. Coordenadora do Legado SocialWorking, espaço de coworking do Instituto Legado de Empreendedorismo Social. Fundadora da MANICUBO, startup de beleza e bem-estar focada na saúde de mãos e pés de homens e mulheres, e na profissionalização de manicures.