O WhatsApp está tentando avaliar, com a ajuda desses pesquisadores, como minimizar a circulação de boatos no aplicativo (Foto: Ilustrativa/ Pixabay)

A princípio, a empresa vai oferecer 20 bolsas de estudo no valor de US$ 50 mil para pesquisadores de fake news

O aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp anunciou, na terça-feira (3), sua primeira grande iniciativa para combater as notícias falsas na plataforma. A empresa vai oferecer bolsas de estudo para pesquisadores que se dediquem a entender o fenômeno.

O investimento se junta a outras pequenas iniciativas que o WhatsApp – que faz parte do Facebook desde 2014 – vem adotando para tentar minimizar o problema, que tem se ampliado em países como Brasil e Índia – neste último, o aplicativo foi responsabilizado por uma onda de violência.

A princípio, a empresa vai oferecer 20 bolsas de estudo no valor de US$ 50 mil. Para obterem o valor, os especialistas deverão investigar qual o impacto que o compartilhamento de notícias falsas no WhatsApp tem na sociedade. A empresa vai priorizar estudos que abordem fatores como as motivações para pessoas considerarem um conteúdo confiável e o compartilharem no aplicativo e o uso do WhatsApp durante eleições.

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Há também a preocupação em investigar formas de detectar comportamentos problemáticos no aplicativo, uma vez que todas as mensagens trocadas por seus mais de 1,5 bilhão de usuários no mundo – 120 milhões deles no Brasil – são criptografadas de ponta a ponta. Na prática, isso significa que elas são codificadas antes de sair do aparelho do remetente, passando pelos servidores do WhatsApp, até finalmente serem decodificadas no destinatário.

Segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, o WhatsApp está tentando avaliar, com a ajuda desses pesquisadores, como minimizar a circulação de boatos na plataforma, sem prejudicar a privacidade dos dados, uma bandeira que sempre foi defendida pela companhia. A partir das conclusões das pesquisas, a empresa pretende testar novos recursos.

Fontes ouvidas pela reportagem afirmam que as áreas de maior preocupação da empresa hoje no Brasil estão relacionadas a saúde e eleições. Contudo, há o entendimento de que as medidas não devem surtir efeito em curto prazo.

A empresa, no entanto, já testa uma nova função que vai sinalizar aos usuários quando eles receberem uma mensagem encaminhada por um contato, mas não escrita originalmente por ele. Além disso, o aplicativo de mensagens ampliou o poder de moderação dos administradores de grupos no aplicativo recentemente.

Educação

Para os especialistas ouvidos pelo Estado, investir na educação e no esclarecimento de notícias falsas é um bom começo para o WhatsApp. “É uma estratégia que tenta reduzir o impacto do serviço nessa disseminação”, avalia Jacqueline de Souza Abreu, advogada especializada em direito digital. Segundo ela, o esforço considera a complexidade do serviço. “Se o Facebook equivale a uma praça pública, o WhatsApp é a sala de estar”, diz Jacqueline. “Não queremos que exista controle sobre o que uma família conversa.”

Diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade, Carlos Affonso de Souza vai na mesma linha. “A empresa precisa trabalhar em outros meios de conter notícias falsas que não impliquem no controle do conteúdo”, diz. Para ele, um dos maiores problemas do aplicativo é o fato de ser possível compartilhar qualquer conteúdo “sem fricção” e com alto alcance. “Na rede social, a mensagem é filtrada pelo algoritmo e não chega a todos os seus amigos; no WhatsApp, não existe isso.”

Souza, porém, chama a atenção para um ponto importante: “Notícia falsa é um problema de quem manda, mas também de quem recebe”, diz. “É um dever cívico, ainda mais hoje, mostrar por que aquele dado é falso. Só assim vão ocorrer mudanças.” 

Linchamentos

Pelo menos 12 pessoas morreram na Índia, desde maio deste ano, em linchamentos públicos, após serem vítimas de notícias falsas disseminadas pelo aplicativo WhatsApp. Segundo o jornal Washington Post, que publicou reportagem recente sobre o tema, os mortos supostamente fariam parte de grupos de sequestradores de crianças e traficantes de órgãos – as informações divulgadas em forma de corrente pelo aplicativo, porém, não são confirmadas pelas autoridades locais. 

Em junho, dois homens sofreram um ataque após pedirem informações na rua; no mês anterior, uma mulher foi agredida depois de distribuir doces para crianças.

A Índia é hoje o principal mercado do WhatsApp no mundo – lá ficam 200 milhões dos 1,5 bilhão de usuários do aplicativo de mensagens instantâneas. 

A onda de linchamentos – só no último fim de semana, foram cinco mortos – levou o ministro da Eletrônica e Tecnologia da Informação, Ravi Shankar Prasad, a pedir medidas imediatas para o WhatsApp. “A empresa não pode evitar sua responsabilidade nesses casos”, afirmou ele, na semana passada. 

*Por Bruno Capelas e Claudia Tozetto